Por Mônica Pileggi
Agência FAPESP – Quando o príncipe dom Pedro de Alcântara
proclamou a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, o que
atualmente se conhece por estados eram províncias do novo Império.
Criado o estado independente chamado Império do Brasil, era
necessário fazer um balanço – do território e do patrimônio natural e
humano – para saber o que havia restado da colonização e seguir adiante
com a construção de um país.
A Estatística da Imperial Província de São Paulo é resultado
desse levantamento, preparado em 1827 a pedido da Assembleia Geral. Na
época, a província de São Paulo incluía o que é hoje o Estado do Paraná.
A Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) reuniu em uma única
publicação a versão fac-similar do manuscrito, assim como sua
transcrição paleográfica – forma antiga de escrita – e a transcrição
moderna.
De acordo com Plínio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp, a
ideia do projeto, que teve apoio da FAPESP por meio da modalidade
Auxílio à Pesquisa – Publicações, surgiu há cerca de seis anos com o
bibliófilo e empresário José Mindlin (1914-2010).
“Essa foi uma das últimas sugestões de Mindlin, junto com as edições da Bibliographia Brasiliana e de Ciência, História e Arte: Obras Raras e Especiais do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, que também foram publicadas pela Edusp”, disse à Agência FAPESP. Essas outras obras também tiveram apoio FAPESP para publicação.
Martins Filho explica que o motivo de produzir uma edição fac-similar
vai além de sua importância histórica. “Na questão estética, a obra
revela a caligrafia cursiva, que é muito bonita. Além disso, a cópia do
documento original permite ao pesquisador conferir a transcrição
paleográfica direto na fonte, sem a necessidade de ir à biblioteca”,
explicou.
Já os não estudiosos da paleografia, mas interessados nos dados
geográficos, históricos, políticos e econômicos, entre outros aspectos
levantados pelos autores, podem contar com a transcrição moderna, uma
espécie de tradução do português do século 19 para a linguagem atual.
Membros da estatística
Embora o manuscrito tenha sido originalmente produzido por sete
pessoas, apenas uma delas teve seu nome destacado na página de rosto, o
tenente-coronel José Antônio Teixeira Cabral.
Cartógrafo e engenheiro, sua participação no documento não foi a mais
significativa, segundo Martins Filho. Assim como Cabral, o padre-mestre
Francisco de Paula e Oliveira também teve colaboração tímida, porém
importante, descrevendo o contexto histórico.
Os demais membros responsáveis pelo original da obra são o
tenente-general José Arouche de Toledo Rendon, morto sete anos após a
produção do relatório, que fez o levantamento territorial de São Paulo.
Por ser advogado, descreveu as normas de distribuição das terras,
conhecidas como sesmarias.
Os recursos minerais da região, entre outros aspectos do país, foram
explorados pelo padre-mestre Manoel Joaquim do Amaral Gurgel. Outro
sacerdote a contribuir com o documento foi José Antônio dos Reis ao
coletar os dados do setor agropecuário.
Parte dos recursos hídricos e dos recursos naturais foi levantado por
Candido Gonçalves Gomide. Um dado curioso descrito no documento é sobre
o rio Tietê: “As margens do Tietê abundam de soberbo arvoredo e de
muitas e ótimas frutas silvestres. Cria copiosíssimo e delicioso peixe
e, entre outras espécies, há: dourados, saupés, pacus, piracanjubas,
surubins, piracambucus, jaús e piraquaxiaras, algumas de duas arrobas”.
Cenário inimaginável para os atuais habitantes da capital paulista com o
poluído rio que corta a metrópole.
Joaquim Floriano de Toledo foi um dos que mais atuaram no manuscrito
ao abordar a região costeira da província paulista. Toledo faz também um
relato da organização política, assim como a relação entre a igreja e o
Estado de uma das mais importantes províncias do Brasil Império.
A Estatística da Imperial Província de São Paulo
Autor: José Antônio de Teixeira Cabral
Lançamento: 2010
Preço: R$ 120
Páginas: 440
Mais informações: www.edusp.com.br