COLÓQUIO - MUNDOS DA ESCRAVIDÃO E PÓS-EMANCIPAÇÃO: OS SIGNIFICADOS DO 13 DE MAIO DE 1888

O decreto real que instituiria em 13 de maio de 1888, o fim da escravidão em terras brasílicas irá completar, nesse ano de 2016, 128 anos de sua promulgação. Com aquele decreto real, a sociedade brasileira daquela época passaria à condição de uma das ultimas nações do globo livre da instituição escrava. Um ano depois, em 1889, viria a República Brasileira e com ela o dilema de incorporar naquela nova realidade uma parcela substantiva de sujeitos subalternos que, durante anos, tiveram que compartilhar as experiências do mundo da escravidão.

Durante todo o século XX, o dilema republicano passava pela necessidade das elites agrárias saberem lidar com a urgência do crescimento econômico e, ao mesmo tempo, fossem elas capazes de potencializar o desenvolvimento industrial brasileiro sem, como isso, utilizar-se do trabalho e da mão de obra do operariado nacional que o atrelasse às experiências do trabalho escravo de décadas anteriores.

Os significados do 13 de maio de 1888 sugeriam na primeira metade do século XX como um instrumentalizador das novas relações de trabalho que até então se constituía no Brasil. Era preciso fazer valer a expressão Abolição da escravatura e não a palavra que tinha o seu revés, emancipação, que tinha uma nítida relação apenas com a ideia de liberdade dos escravos, sem nenhuma política efetiva de incorporação desses sujeitos aos mundos da cidadania republicana.

Passados os anos, o espectro da escravidão ronda a sociedade brasileira por meio do trabalho compulsório de áreas produtoras de açúcar do sul do país, das mortes violentas de negros e negras nas principais cidades do Brasil, na luta pela demarcação e posse da terra por comunidades tradicionais que reivindicam mediante suas heranças culturais negras – aquilombadas e de senzalas – o direito costumeiros em viver naqueles locais, mesmo que contrariando os interesses de grupos empresariais do agronegócio.


Discutir esses assuntos da contemporaneidade é, sobretudo, revisitar o 13 de maio de 1888 e com ele rediscutir os significados da escravidão na formação da sociedade brasileira. O presente COLÓQUIO MUNDOS DA ESCRAVIDÃO E DO PÓS-EMANCIPAÇÃO: os significados do 13 de maio, tem  por objetivo fazer uma reflexão sobre esse assunto.

HISTÓRIA FRAGMENTADA


MÊS DA ÁFRICA - BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA


Exposição de fotos de Edmond Fortier chega a Salvador com debates e documentário na Biblioteca Pública


Em homenagem ao Dia da África – 25 de maio – a Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura do Estado, por meio das Bibliotecas Estaduais e Centro de Memória da Bahia, realizará uma série de ações que terão o continente africano como tema central. Capitaneando a programação, de 4 de maio a 22 de junho, no foyer da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris), estará aberta à visitação a exposição “Viagem a Timbuktu - Fotografias de Edmond Fortier - Da costa da Guiné às margens do Saara em 1906”, dedicada à obra do fotógrafo francês Edmond Fortier (1862-1928). A exposição será aberta no dia 4 de maio (quarta-feira), às 18h, na Biblioteca Pública do Estado (Barris).


Anônimo, Fortier viveu a maior parte de sua vida em Dakar, no Senegal e, há 110 anos, produziu mais de 4 mil imagens da África do Oeste no início do século XX, após viajar mais de 5 mil quilômetros para chegar à cidade histórica de Timbuktu, porta do Saara, norte do atual Mali, o que deu origem à pesquisa e livro da historiadora Daniela Moreau (Edmond Fortier - Viagem a Timbuktu), que será lançado na Biblioteca. Partindo de Conakry, na costa da Guiné, Edmond Fortier penetrou no interior da África do Oeste até alcançar Siguiri, visitando cerca de 100 localidades que hoje fazem parte das Repúblicas do Senegal, da Guiné-Conakry, do Mali, da Costa de Marfim e do Benin. As fotos foram tiradas no período colonial – entre 1900 e 1923 – sendo publicadas, depois, no formato cartão-postal. Fortier foi um dos primeiros profissionais a fotografar Timbuktu, depois da ocupação francesa em 1894, e os negativos deste trabalho nunca foram encontrados. Nesta exposição, que chega a Salvador pela primeira vez, serão exibidos 52 destes postais em formato ampliado, promovendo o acesso à memória da África do Oeste e da história de seus povos.
PARA SABER MAIS ACESSE: 

Digitalização de documentos em risco foi tema de palestra no Arquivo Público do Estado da Bahia

O Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB) – unidade vinculada à Fundação Pedro Calmon/ Secretaria de Cultura do Estado, realizou, na quinta-feira (07/04), a palestra “Digitalizando documentos ameaçados: os livros de notas da Bahia 1664 – 1889”, com objetivo de publicizar o andamento do projeto homônimo de digitalização de 841 livros de notas que integram o acervo histórico da unidade.
A digitalização foi idealizada pelo professor e escritor, João José Reis, em parceria com a Fundação Pedro Calmon e o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de apoio da Biblioteca Britânica, mediante o Endangered Archives Program (Programa Arquivos Ameaçados de Extinção).  Coordenado pelo professor Urano Andrade, o trabalho já digitalizou, até o momento, 302 livros, ou seja, 120 mil imagens, capturadas a partir de publicações com média de 400 a 500 páginas.
Os livros de notas são variados. Vão desde escrituras de fazenda, arrendamento, trocas de bens, doação de patrimônios e transações comerciais, até registros de testamentos, posse e troca de escravos. “A história dessas personagens [os escravos] não poderiam ser contadas se não fosse a preservação desses documentos por meio digital. Sem isso, eles seriam eternamente anônimos”, disse o professor Andrade. As 450 mil imagens, no total do projeto, serão disponibilizadas ao público em 2017, A diretora do APEB, Maria Tereza Matos, explicou que "essa parceria com a UFBA, a Biblioteca Britânica e a Fundação Pedro Calmon otimiza a digitalização desses documentos em risco e a palestra teve como objetivo publicizar o andamento do projeto para a comunidade, explicar como é feito o trabalho e a importância de fazê-lo".
Na palestra, ministrada por Urano Andrade, foi mostrado o processo de captura de imagens. A digitalização segue algumas regras da Biblioteca Britânica, dentre elas, a utilização de uma câmara fotográfica DSLR, tripé 360º, obturador remoto (captura as fotografias à distância) e deve-se usar a escala de cores RGB, para que se conservem as cores naturais do arquivo. “É preciso muita atenção e critério. Temos que verificar se há dobras, fragmentos, rasgões, a ordem das páginas e verificar a qualidade das imagens após cada fotografia, e depois, ao final de cada dia. O backup é feito em dois HDs externos, por questão de segurança”, explicou Andrade.

Devido ao tempo e à má conservação, nem todos os livros de notas poderão ser digitalizados e se encontram em estado de degradação. O professor explicou que “a principal dificuldade é que alguns estão muito frágeis devido ao tempo e a falta de cuidados ao longo do tempo. O projeto não tem verba para materiais de restauração de livros, que pode chegar a cerca de R$15 mil cada um”. “Esses documentos são importantes para remontar a nossa história. Eles não podem ser esquecidos e deve ser de acesso a todos”, disse o advogado Guilherme Reis, presente na palestra. Já o estudante de História, Breno da Silva, destacou que: “a tecnologia que temos hoje é suficiente para realizar ações desse tipo. Essa digitalização é importante porque depois de publicadas, o mundo inteiro poderá ter acesso aos documentos que estão apenas no Arquivo Público hoje”. 
“A próxima fase será mais dinâmica. Os livros são menores, possuem entre 50 e 150 páginas, e são bem menos fragilizados. Atualmente, com duas pessoas trabalhando, digitalizamos dois livros por dia. Nessa próxima etapa, serão cerca de dez por dia”, frisou urano Andrade.

 Arquivo Público – Com 126 anos, o Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), unidade da Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura do Estado (FPC/SecultBA), é a segunda mais importante instituição arquivística pública do país. Em seu extenso e rico patrimônio estão custodiados documentos produzidos e acumulados no período colonial, monárquico e republicano brasileiro, que são diariamente consultados por pesquisadores de todo Brasil e de outros países. Um acervo organizado e estruturado desde 1890, quando o então governador do Estado da Bahia, Manoel Victorino Pereira, por meio de Ato, criou o Arquivo Público.
FONTE: 

BOTOCUDO, MONGOIÓ E PATAXÓ

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor
Nº 155
Na certeza de que mereceu a Real Aprovação do Príncipe Nosso Senhor a indagação d que se achava por mim encarregado o Capitão mor da Conquista João Gonçalves, como Vossa Excelência me comunicou em oficio Nº 51 de 28 de Agosto próximo passado, promoveu como maior eficácia a dita exploração, e igualmente repetirei ao dito Capitão mor as instruções e ordens que lhe devem servir de norma em diligências desta natureza, e comunicadas a este Governo pelo Régio Oficio Nº 77 de 29 de Agosto de 1798, as quais ele não ignora, porém, nem sempre são aplicáveis, pois que, o Gentil Botocudo, além de ser a mais indômita espécie daqueles Selvagens, antipatiza por natureza com o Gentil Nogoió, e só repelido com força é que desiste do insulto que uma vez empreendeu, não bastando tiros, nem outros artifícios para os amedrontar, e em tais circunstâncias quase que vem a ser necessária a força para não sucumbir pela destruição em detalhe quem sofre a ferocidade daqueles bárbaros, pois que os Índios domesticados que compõem a Tropa que se emprega nestas diligências é o mesmo Nongoió, e o ataque por esse motivo se intenta com maior violência.


O Gentil Patachó que ainda o rejeito de mais difícil redução porque é vagabundo sem Aldeia ou habitação certa tem perseguido muito as Vilas da Comarca de Porto Seguro no presente ano, e maltratado os habitantes nas suas lavouras, o que praticaram ultimamente na Vila do Prado no dia três de Setembro próximo passado flechando alguns de que resultou a morte de um; as Câmaras representam, os moradores requerem providência, e o Governo só lhes pode responder com as Ordens expressas na Carta Régia de 12 de Maio de 1798, que por cópia foi remetida, e mandada observar nesta Capitania, porém, permita Vossa 

Excelência observar que aquelas Vilas diminuem sensivelmente na sua população e cultura pela deserção dos seus moradores que procuram em outros distritos viverem ao abrigo de tais incursões, porém, pela cópia junta do oficio que dirigi ao Juiz Ordinário da Vila do Prado conhecerá Vossa Excelência qual fora a resposta que dirigi aquele Juiz, não obstante reconhecer que os insultos continuaram e talvez com mais frequência, por aquela espécie de brutos acomete mais ferozmente, e do qual retira algum proveito, sem que o abrande a moderação que a seu respeito haja, pois a atribui a maior força sua, ou a fraqueza [aleijados]. Deus Guarde a Vossa Excelência. Bahia, 24 de Outubro de 1807. Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Anadia, Conde da Ponte.       
FONTE: Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção Colonial, Maço: 144.    



Revista Mundos do Trabalho - Chamada para publicação 2016


Informações gerais

A Revista Mundos do Trabalho, publicação semestral do GT Mundos do Trabalho da Associação Nacional de História (ANPUH), abre chamada pública de trabalhos para as edições de 2016. A submissão de artigos (dossiê e seção livre), resenhas críticas, transcrições comentadas, traduções, entrevistas e comentários sobre acervos e fontes documentais deverá obedecer ao cronograma seguinte:

De 20/04/2016 até 20/06/2016

Edição vol. 08, n. 15 (2016/1): Dossiê História Social do Trabalho na Amazônia – organização: Adalberto Paz (UNIFAP) e Lara de Castro (UNIFAP).
O dossiê sobre história social do trabalho na Amazônia receberá artigos originais, que possuam vinculação teórica, e densidade empírica, relacionados aos diferentes objetos e perspectivas inseridos na temática da edição. Nesse sentido, deverão ser submetidos textos resultantes de pesquisas dedicadas às especificidades dos mundos do trabalho amazônico, compreendidos de forma ampla, e sob os mais variados aspectos, desde os recortes “clássicos”, como os movimentos, organizações e experiências operárias, passando pela incorporação de questões raciais, gênero, cotidiano, família, lazer, etc., e as múltiplas dimensões do trabalho livre, escravo, compulsório, doméstico, e outros.

De 27/06/2016 até 27/07/2016

Edição vol. 08, n. 16 (2016/2): Dossiê Biografia e História do Trabalho – organização: Benito Schmidt (UFRGS) e Aldrin Castellucci (UNEB).

O dossiê abrigará artigos que enfoquem trajetórias de indivíduos ligados, de diferentes formas, ao mundo do trabalho, em variados recortes temporais e espaciais. A preocupação subjacente à proposta diz respeito às possibilidades analíticas/interpretativas que um estudo focado em um indivíduo pode trazer à história do trabalho. Entre outros recortes, os artigos poderão tratar de experiências de trabalhadores (escravos, libertos e livres, ou que experimentaram diversas condições ao longo de sua vida) e de militantes
vinculados a variadas correntes de pensamento que buscaram interpelar os trabalhadores (abolicionismo, socialismo, anarquismo, comunismo, trabalhismo, integralismo, catolicismo...), bem como de outros indivíduos ligados ao universo laboral (senhores, patrões, advogados, intelectuais, familiares...). Serão bem vindos ainda artigos de caráter teórico, historiográfico ou que tratem de fontes e arquivos relacionados ao tema central do dossiê “Biografia e história do trabalho”.

Pesquisadores(as) interessados(as) em submeter colaborações para as edições deverão fazê-lo pelo site http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho 
Os trabalhos recebidos serão apreciados pela Equipe Editorial e por pareceristas ad hoc.
Em caso de dúvida, entre em contato pelo e-mail: revistamundosdotrabalho@gmail.com 


CRIAÇÃO DO HOSPITAL DE LÁZAROS NA QUINTA DOS JESUÍTAS DA BAHIA


Para o Tenente Coronel Inspetor e Tesoureiro do Hospital dos Lázaros desta Cidade
Tendo sido presentes do Príncipe Regente Nosso Senhor, o grande benefício que se rogue a saúde pública desta Capitânia do estabelecimento do Lazareto, mandado construir pelo meu Excelentíssimo Predecessor, Dom Rodrigo Jozé de Menezes, na Fazenda denominada a Quinta dos Jesuítas; pois que recolhendo-se ao mesmo Lazareto, as pessoas tocadas de Morfa, e outras semelhantes enfermidades, são tratadas com o preciso desvelo, e cuidado; e ao mesmo tempo se livram os sãos, de serem infestados de um mal tão contagioso; e que facilmente lhes comunicaria, se continuassem os doentes a andar vagando pelas Ruas da Cidade; e sendo outro sim informado o Mesmo Senhor, que para conservação de um tão útil estabelecimento, impusera o dito meu Excelentíssimo Predecessor, a contribuição de 20 réis em cada alqueire de farinha, e de toda a qualidade de grãos que se recolhessem nos celeiros públicos desta Cidade. Foi servido o Príncipe Nosso Senhor pela sua Carta Régia, que houve por bem dirigir-me, em data de 25 de Agosto do ano próximo passado aprovar e conservar aquela Determinação; ordenando-me que fizesse continuar a perceber a mesma contribuição para o fim indicado, como até agora se tem praticado: o que participo a Vossa Mercê para sua inteligência, ordenando-lhe que faça Registrar este meu oficio, nos Livros dessa Administração; para que a todo o tempo conste, o solido fundamento em que desde aquela data, se acha constituído o pio Estabelecimento do Lazareto, e da contribuição emposta e aplicada para a sua conservação. Deus Guarde a Vossa Mjestade, Bahia, 21 de Janeiro de 1808. Conde da Ponte. Senhor Tenente Coronel Inspetor e Tesoureiro do Hospital dos Lázaros desta Cidade. Do mesmo teor para o Administrador Geral do Celeiro Público. Para o Capitão Mor das Ordenanças da Vila de São Francisco.
Fonte: APEB, Seção Colonial, Maço: 165.