IPHAN ABRE CHAMADA PARA PROJETOS DE PESQUISA


O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por intermédio do Centro Lucio Costa – CLC, mantido pela Unesco, está com inscrições abertas para sua 1ª Chamada Pública de Pesquisas.
Serão selecionados até 10 projetos referentes à pesquisa sobre a preservação e gestão do patrimônio cultural nos países de línguas portuguesa e espanhola da América do Sul e de língua portuguesa da África e da Ásia.

Os projetos devem ter como áreas temáticas prioritárias Práticas de gestão do Patrimônio da Humanidade e Panorama comparativo de políticas públicas e gestão participativa do Patrimônio da Humanidade entre dois ou mais países da região. Os selecionados receberão o valor total de R$ 24 mil cada.

Podem apresentar propostas pessoas físicas que comprovem ter residência ou nacionalidade em um dos países de língua oficial portuguesa ou espanhola da América do Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela), da África (Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe) e da Ásia (Timor Leste), e que tenham formação universitária completa.

As inscrições podem ser feitas até o dia 14 de agosto.



ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA - COMEMORAÇÕES DO DIA INTERNACIONAL DOS ARQUIVOS

Publicado em 10 de junho de 2015
Nesta terça-feira (9), quando é celebrado o Dia Internacional dos Arquivos Públicos, a oferta de conteúdo foi incrementada com oficinas de higienização de papéis, uma exposição, que destacou os conjuntos documentais reconhecidos como memória do mundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), uma roda de conversa sobre instrumentos de pesquisa, além do lançamento de um livro, no qual estão reunidas todas as leis da Assembleia Legislativa Provincial e atos dos presidentes provinciais sobre educação pública.
Acesse a Fonte: SECOM 

Pós-Graduação em História, Cultura e Práticas Sociais da UNEB


O Programa de Pós-Graduação em História, Cultura e Práticas Sociais (Nível Mestrado Acadêmico) foi aprovado pela Resolução Nº 1.062/2014 (D.O.E. de 05/08/2014, p. 19) do Conselho Universitário da Universidade do Estado da Bahia (CONSU-UNEB) e recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em abril de 2015. Sediado no Departamento de Educação do Campus II (Alagoinhas), seu objetivo é contribuir para o ensino e a pesquisa, a construção e a disseminação do conhecimento em História, proporcionando um ambiente de constante debate teórico e de exploração de novos temas e fontes de investigação. Alguns objetivos específicos norteiam e complementam esta meta, a saber: a) possibilitar aos graduados em História e áreas afins a oportunidade de dar continuidade a sua formação acadêmica; b) consolidar espaços institucionais de apoio e incentivo à pesquisa histórica; c) formar profissionais capacitados para a pesquisa, a produção do conhecimento histórico e o ensino de História; c) promover uma constante reflexão sobre as teorias e métodos historiográficos que informam a prática da pesquisa em História.

Corroborando com esses objetivos espera-se que os egressos do Mestrado em História, Cultura e Práticas Sociais apresentem o pleno domínio do processo de produção do conhecimento em História, além do domínio especializado na área temática de sua pesquisa e produção, que culminou na dissertação. Espera-se ainda o aprimoramento da competência para planejar e desenvolver projetos de pesquisa em História e a qualificação para a docência, envolvendo o planejamento e a execução de atividades de pesquisa, ensino e extensão.

A periodicidade da seleção do Mestrado em História, Cultura e Práticas Sociais será anual, oferecendo inicialmente 15 (quinze) vagas. A duração do curso é de 24 (vinte e quatro meses), correspondendo a 4 (quatro) semestres letivos, durante os quais deverão ser integralizados 34 (trinta e quatro) créditos, distribuídos pelas seguintes atividades:

• 8 (oito) créditos em Disciplinas Obrigatórias;
• 8 (oito) créditos em Disciplinas Optativas;
• 4 (quatro) créditos em Estágio Docente Orientado;
• 4 (quatro) créditos em Pesquisa Orientada;
• 4 (quatro) créditos no Exame de Qualificação;

• 6 (seis) créditos na Defesa da Dissertação.

UM BARÃO NEGRO, SEU PALÁCIO E SEUS 200 ESCRAVOS


RIO - Algumas páginas poderiam se desfazer em mãos descuidadas. São documentos guardados a sete chaves há mais de um século. Embora esmaecidas, as folhas mancham de tinta os dedos de quem as manuseia. “Aqui está a história da nossa família”, diz Mônica de Souza Destro, de 44 anos, na sala de sua casa, em Juiz de Fora. Ela tem muitas pastas empilhadas na sua frente, onde guarda fragmentos de uma história tão esquecida quanto fascinante.
Revirar esses papéis é voltar ao tempo do tataravô de Mônica, o mineiro Francisco Paulo de Almeida, um dos mais importantes barões do café do segundo reinado. Titulado como Barão de Guaraciaba pela própria princesa Isabel, acumulou um enorme patrimônio no Vale do Paraíba fluminense. Suas fazendas estendiam-se pelos estados do Rio e também de Minas Gerais, somando um vasto território estimado em 250 quilômetros quadrados — e uma fortuna de quase 700 mil contos de réis, coisa de bilionário. Mas um detalhe tornava o barão diferente dos outros nobres. Ele era negro em um país escravocrata. Reinou em um mundo dominado por brancos.
— Foi um gênio das finanças. Seu patrimônio era colossal, nem a queda do café o fez quebrar. As sedes de suas fazendas eram belíssimas, ele vivia no extremo luxo. Tinha investimentos diversificados, aplicava em ações, fundou bancos. Por isso se tornou um dos homens mais ricos de seu tempo — afirma o historiador José Carlos Vasconcelos, especialista no passado do Vale do Paraíba.
ACESSE NA ÍNTEGRA: 


Feira de Santana, na Bahia, recebe exposição da ONU sobre tráfico de escravos

Mulher escravizada algemada, Antilhas, Centro Schomburg. Imagem: reprodução 

A exposição “Forever Free-Livres para sempre”, sobre a história do tráfico de escravos no mundo, foi inaugurada nesta segunda-feira (15) em Feira de Santana (BA), terceiro destino da mostra no Brasil, onde já foi montada no Rio de Janeiro e em Niterói.
Uma iniciativa conjunta da Central Única das Favelas Bahia (CUFA-BA) e do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), como parte das atividades da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), a mostra – com entrada gratuita – ficará aberta, até o final de julho de 2015, no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), da Universidade Federal de Feira de Santana (UEFS). O espaço funciona das 9 às 12 horas e das 14h às 17h.
A inauguração contou com a presença de diversas autoridades, entre as quais os secretários municipais de Cultura e de Educação, o reitor da UEFS, representantes dos movimentos negros e de entidades da área jurídica, o presidente da Associação de Blocos Afros e Afoxés, o presidente da Câmara de Vereadores de Feira de Santana, deputados estaduais e o assessor de comunicação do UNIC Rio, entre outros.
A mostra, composta por painéis que retratam – e explicam – a história do comércio transatlântico de escravos, foi criada pelas Nações Unidas para lembrar os 400 anos nos quais mais de 15 milhões de pessoas foram vítimas de um dos capítulos mais nefastos da história da humanidade que não deve ser esquecido.
ACESSE A FONTE: 

Professor João José Reis explica projeto de digitalização de acervos ameaçados de extinção


Considerado uma referência no estudo da História e da escravidão no século XIX, o historiador, professor universitário e escritor, João José Reis, é o coordenador do projeto de Digitalização de 450 mil imagens de Livros de Notas, produzidas em mais de dois séculos – 1664 a 1889, que estão custodiados no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB). O projeto, que durará dois anos, conta com a parceria da Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (FPC/SecultBA) e do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de apoio da Biblioteca Britânica, mediante o EndangeredArchives Program (Programa Arquivos Ameaçados de Extinção). Em entrevista concedida à Assessoria de Comunicação da Fundação Pedro Calmon, João Reis disse que os documentos digitalizados serão disponibilizados online pela British Library, podendo ser consultados gratuitamente. 

Confira:
FPC – Qual a importância deste projeto de digitalização dos Livros Notas para a comunidade acadêmica e para a sociedade?

João Reis - A série documental escolhida para este projeto, os Livros de Notas dos tabeliães, é fundamental para a escrita da história social e econômica da Bahia. São documentos que já vêm sendo usados há décadas pelos pesquisadores. São, com freqüência, consultados pelo público em busca de documentos sobre história familiar, cadeias sucessórias de imóveis, limites de propriedade, entre outros assuntos. As imagens digitalizadas serão guardadas em HDs externos, depositados no Arquivo Público do Estado da Bahia e no Programa de Pós-Graduação em História da UFBA, onde poderão ser consultados sem ser necessária a manipulação direta dos documentos originais, o que ajudará na sua preservação. Outros HDs serão enviados à British Library, que financia este projeto com uma dotação administrada pela FAPEX, uma fundação de pesquisa vinculada à UFBA.

FPC – Como será feito esse projeto, isto é, quais etapas haverá, quantas pessoas trabalharão na digitalização das imagens e quanto tempo durará para que as 450 mil imagens de livros de Notas estejam disponíveis para o público?

João Reis - É um projeto muito enxuto quanto à equipe envolvida, apenas dois técnicos altamente especializados na reprodução de documentos. À frente desse trabalho estará um pesquisador experiente, Urano Andrade, que conhece bem o acervo do Arquivo Público do Estado da Bahia e tem muitos anos de prática na digitalização documental. Ele e um auxiliar serão os únicos profissionais remunerados, ao longo de dois anos, que é o tempo contratado com a British Library para finalizar todo o processo de digitalização. Mas, além disso, planejamos um oficina de digitalização dirigido por Urano Andrade para funcionários do APEB e a realização de um seminário que organizarei com a participação de pesquisadores que utilizaram ou estão a utilizar esses documentos em suas pesquisas.

FPC – Os livros de notas serão disponibilizados em algum site ou plataforma de repositório?

João Reis - Ao final do projeto os documentos digitalizados serão disponibilizados online pela British Library e poderão ser consultados, sem ônus, em casa ou nas universidades a partir dos computadores dos interessados.


A Fundação Pedro Calmon disponibilizará em todos os seus canais de comunicação os links de acesso a este acervo. Todo o andamento desta digitalização será divulgada no site da Fundação www.fpc.ba.gov.br

Documentos emitidos na Bahia entre 1664 a 1889 poderão ser acessados online

Um projeto financiado pela Biblioteca Britânica vai digitalizar o material, que representa 1% do acervo do Arquivo Público. 

Pesquisador Urano Andrade manuseia peça histórica para reprodução
(Foto: Almiro Lopes)

Thais Borges

A escrava Isabel, que sequer tinha sobrenome, recebeu sua alforria em 22 de abril de 1816 – assim como sua filha, Eufrásia. Em 1853, foi a vez da também escrava Emília Nagô ter sua liberdade: comprada pela bagatela de 450 mil réis.

No mesmo ano, o Engenho de Maraçu publicava uma escritura com todos os seus escravos e Clara Eugênia Dias vendia uma casa de um único pavimento na região da Lapa a Manuel Felipe Bahia da Cunha por um pouco mais do que a compra da liberdade de Emília: 500 mil réis.

Cartas de liberdade, escrituras de venda e compra de imóveis, procurações, contratos de casamento, atas de eleição... Por muito tempo, documentos como esses ficaram escondidos entre as paredes da sede do Arquivo Público do Estado, na Baixa de Quintas.

Mas a digitalização de cerca de 450 mil imagens de 900 livros de notas (também conhecidos como registros de cartório) de Salvador promete trazer muito da história da Bahia e do Brasil para a luz – além de facilitar a vida de estudiosos e do público geral.

Relíquias em estado de degradação, datadas entre 1664 a 1889, ficarão a salvo no formato digital
(Foto: Almiro Lopes)
Desde maio, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba), sob o comando do professor João José Reis, em parceria com a Fundação Pedro Calmon e o Arquivo Público, começou a digitalizar o material, que é do período de 1664 a 1889. O projeto é financiado pela British Library (Biblioteca Britânica), através do programa Arquivos Ameaçados de Extinção.

“A digitalização não vai apenas ampliar o acesso das pessoas aos documentos, mas vai ser possível preservá-los”.

Acesse a matéria na íntegra: JORNAL CORREIO DA BAHIA 
Em breve: http://eap.bl.uk/

O CONTRA PONTO DE PIERRE VERGER

LANÇAMENTO: OS CLEMENTE PINTO


Por Eduardo Cavalcante / RJ.

É com satisfação que divulgo entre vocês o livro que a pesquisadora Leila Vilela escreveu a respeito da família Clemente Pinto. Não tive a chance de lê-lo, mas posso garantir-lhes que a parte relativa à pesquisa documental foi realizada com afinco, critério e determinação por parte da autora. Tive a oportunidade de vê-la em todos os principais arquivos do Rio durante a gestação de sua obra, onde neles ela estava à procura de pistas que pudessem embasar suas hipóteses e trazer à tona a dinâmica socioeconômica daquela família. Eis aqui mais uma obra que ajudará a compreender como uma das grandes fortunas do Império teve começo, meio e fim.

Arquivo Público do Estado celebra o Dia Internacional dos Arquivos


Em homenagem ao DIA INTERNACIONAL DOS ARQUIVOS, celebrado no dia 09 de junho, o Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB) convida a todos para participar da seguinte programação:

Exposição “conjuntos documentais nominados pelo Comitê Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO, custodiados pelo APEB/FPC/SecultaBA
Horário: 9h30 as 17h00

Oficina - Higienização de papéis
Carga horária de 2 horas
Instrutora: Janilda Abreu
Horário: 10h00 às 12h00

Inscrições: Mediante envio de e-mail para apb.fpc@fpc.ba.gov.br
Roda de conversa sobre instrumentos de pesquisa
Horário: 14h30 as 16h00

Inscrições: Mediante envio de e-mail para apb.fpc@fpc.ba.gov.br
Lançamento dos Anais do APEB nº 59 (Instrução Pública Baiana 1835 – 1889)
Horário: 16h00


Venha celebrar este Dia com o APEB!
ACESSE: 

"A agudá é uma entidade complexa"


"O primeiro uso que encontrei registrado é do século 18, aqui no Brasil. É um dicionário escrito por um português chamado Antônio da Costa Peixoto. Foi publicado em 1741, e o verbete agudá já aparece com o significado de "gente da Bahia". Era provavelmente usado pelos africanos para se referir aos traficantes portugueses e brasileiros. No Benim, a palavra só aparece registrada no fim do século 19 e, mais uma vez, associada aos portugueses. Mas há quem fale que vem de "Ajuda", em relação ao forte português de São João Baptista de Ajudá, na cidade de Uidá (cidade no litoral do Benim); outra versão surgida na Nigéria diz que agudá vem de "algodão".
Acesse a matéria na íntegra: 

CONVERSANDO COM SUA HISTÓRIA

Prezado(a)s,
Centro de Memória da Bahia (CMB), convida a todo(a)s para participar da palestra “A Rua Chile na primeira metade do século XX: caminho de sociabilidades, lugar de desejos, expressão de conflitos", que será ministrada pela professora Drª. Neivalda Freitas de Oliveira (UEFS/UCSal), em 08 de junho, mês dedicado a discussão sobre o tema: o contorno da cidade de Salvador no curso Conversando com a sua História, organizado pelo Centro de Memória da Bahia/FPC.
Data: 08 de junho de 2015
Horário: 17 horas
Local: sala Kátia Matoso – auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia.

Resumo
O logradouro lateral ao Palácio dos Governadores passou a chamar-se Rua Chile no dia 18 de julho de 1902.  A partir daquele momento, ele não adquire outro nome ou um perfil mais importante. Traçada na planta trazida de Portugal por Luiz Dias, em 1549, esse logradouro sempre abrigou imóveis residenciais e comerciais, além de ser estratégico no transito de pessoas e mercadorias. Uma Rua como outras em Salvador de 1900 a 1940, mas que ostentava importância na interpretação da sociabilidade dos soteropolitanos. A pretensão da apresentação é apreender a formação sócio-espacial, os sentidos de lugar, os significados, os aspectos visíveis e as representações do espaço, através da vida comezinha de homens e mulheres, residentes ou visitantes da cidade de Salvador na primeira década do século XX. O enfoque é a Rua Chile, mas a busca está na modernização da face urbana da capital, nas características, nas condições, nas práticas e nos conflitos dos soteropolitanos.

Neivalda Freitas de Oliveira
Cursou mestrado e doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Desempenha atividade profissional como professora adjunta na Universidade Estadual de Feira de Santana e na Universidade Católica do Salvador. Trabalha nas áreas de Antropologia e História, com ênfase em Cidade, Gênero e Patrimônio

Atenciosamente,
Centro de Memória da Bahia
Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e Arquivo Público da Bahia
Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Governo do Estado da Bahia
55-71-3117-6067



Arqueólogos descobrem destroços de navio negreiro português na África do Sul

Barras de ferro encontradas no naufrágio de navio negreiro; elas eram usadas para fazer peso na embarcação. 

KATHLEEN GOMES
Pela primeira vez foram encontrados vestígios de um naufrágio que terá ocorrido com escravos a bordo. Uma descoberta histórica que poderá avançar o conhecimento actual sobre o tráfico transatlântico, dizem os investigadores.

Há 30 anos, caçadores de tesouros descobriram os destroços de um naufrágio ao largo da Cidade do Cabo, na África do Sul, que identificaram como sendo de um navio holandês afundado em meados do século XVIII. Só em 2010 é que uma equipa internacional de arqueólogos marítimos suspeitou que o navio podia ter outra origem.
Seriam precisos mais cinco anos de pesquisa e múltiplos mergulhos em águas furiosas até que os investigadores anunciassem, esta terça-feira, a sua descoberta histórica: um navio português carregado de escravos proveniente da ilha de Moçambique e a caminho das plantações de açúcar no Brasil.

Transportando entre 400 e 500 negros acorrentados no porão, o navio nunca terá chegado a completar a travessia de quatro meses, entre o Oceano Índico e o Atlântico Sul. Depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança, o São José Paquete de África embateu em rochedos a cerca de 50 metros da costa da Cidade do Cabo e ficou reduzido a escombros. O capitão português sobreviveu, bem como a tripulação e metade dos escravos que se encontravam a bordo. Calcula-se que 212 escravos tenham morrido no naufrágio, que se deu no final de Dezembro de 1794.

Trata-se da primeira pesquisa arqueológica realizada sobre um navio que se afundou enquanto transportava escravos. “Já se encontraram navios que em tempos carregaram escravos mas que não naufragaram durante a viagem. Este é o primeiro de que temos conhecimento que se afundou com pessoas escravizadas a bordo”, disse Lonnie Bunch, director-fundador do Museu de História Afro-Americana, que vai abrir em Washington no próximo ano e que irá expor objectos resgatados do local do naufrágio.

Pinos de cobre encontrados no naufrágio do navio negreiro encontrado na costa sul-africana. 

Os responsáveis pela investigação acreditam que ela pode avançar o conhecimento actual sobre os 12 milhões de pessoas que foram capturadas em África e transportadas à força para a América do Norte, do Sul, Caraíbas e Europa. E o São José é “especialmente significativo”, nota Lonnie Bunch num comunicado, “porque representa uma das primeiras tentativas em incluir africanos da costa oriental no tráfico esclavagista”, prática que se prolongou até ao século XIX. Supõe-se que mais de 400 mil africanos tenham sido levados de Moçambique para o Brasil entre 1800 e 1865.

Esta descoberta resulta do trabalho desenvolvido pelo Slave Wrecks Project (Projecto Naufrágios de Escravos), uma joint-venture de investigadores de museus e instituições norte-americanas e sul-africanas que têm mantido o seu labor de anos praticamente em segredo, não só porque queriam ter resultados conclusivos antes de qualquer anúncio, mas também para proteger o local do naufrágio de potenciais pilhagens de caçadores de tesouros.
A descoberta do São José foi finalmente revelada esta terça-feira, na Cidade do Cabo, no mesmo dia em que uma equipa de mergulhadores depositou terra trazida da Ilha de Moçambique, o ponto de embarque, no local do naufrágio, em memória das vítimas. Esta quarta-feira, também na Cidade do Cabo, o simpósio Bringing the São José Into Memory (Trazendo à Memória o São José) vai juntar investigadores, curadores e historiadores de instituições sul-africanas, norte-americanas e moçambicanas em debates sobre o naufrágio, o comércio esclavagista e a questão da memória. Não há nenhum português entre os oradores convidados.

A investigação que permitiu identificar o São José envolveu não só o trabalho arqueológico no local do naufrágio, mas também pesquisas em arquivos, nomeadamente portugueses. Em 2012 os investigadores descobriram no Arquivo Histórico Ultramarino o manifesto de carga do São José, com detalhes sobre a partida do navio de Lisboa, em Abril de 1794, rumo à Ilha de Moçambique. O documento contém informação sobre um elemento que a equipa de investigadores considerou a pista mais providencial em todo o processo: o São José deixou Lisboa com 1.500 barras de ferro que se destinavam a ser usadas como lastro.
Essas barras eram comuns nos navios negreiros, para manter a estabilidade das embarcações, até porque o peso da carga humana variava nas longas travessias transatlânticas. Nem todos sobreviviam à viagem; as barras serviam para contrabalançar essa variação. Foi a descoberta de barras de ferro no naufrágio que levou os arqueólogos a determinar que o navio transportava escravos.


No ano anterior, em 2011, os investigadores tinham encontrado nos arquivos sul-africanos outro documento fundamental: o relatório do capitão do São José, Manuel João Pereira, descrevendo o naufrágio de 27 de Dezembro de 1794. Segundo o testemunho, que está redigido em português, o capitão e a tripulação tentaram salvar os escravos, até porque se tratava de uma carga rentável. Alguns foram enviados para terra numa barcaça, mas os ventos e as correntes fortes impediram o regresso da barcaça ao naufrágio para resgatar mais escravos. O documento refere-se aos membros da tripulação como “homens”, mas não os escravos, segundo o New York Times.