Ricardo Barros Sayeg
Estima-se
que na época da descoberta do Brasil pelos portugueses, existiam cerca de cinco
milhões de índios no território nacional, divididos em mil povos diferentes.
Hoje em dia, são apenas 227 povos e sua população está em torno de 400 mil. As
razões do extermínio dos povos nativos são muitas e estão ligadas às doenças
trazidas pelos colonizadores, ao uso de armas a fim de conquistar seus
territórios, à dominação cultural, entre tantas outras formas de dominação.
No
século XIX, com os avanços da biologia, em especial da epidemiologia, foi comum
o homem branco utilizar-se de doenças como ferramenta de conquista de território.
Um caso clássico se deu no Maranhão, na vila de Caxias. De acordo com o
antropólogo Mércio Pereira Gomes, em 1816 fazendeiros da região, com o objetivo
de apossarem-se de mais terras, resolveram “presentear” os índios locais com
roupas de pessoas infectadas com a varíola (geralmente essas peças eram
queimadas para se evitar a transmissão da doença). Os indígenas levaram essas
roupas para suas aldeias e muitos acabaram morrendo, deixando muitas áreas
livres para que os fazendeiros pudessem criar gado. Casos semelhantes ocorreram
na região Amazônica e em toda América do Sul.
A
fim de se redimir do extermínio causado aos povos nativos, o Brasil nomeou o Dia
do Índio, comemorado em 19 de abril. A data foi instituída pelo presidente
Getúlio Vargas por meio do Decreto-Lei 5540 de 1943 e celebra a mesma data em
que, em 1940, várias lideranças indígenas do continente organizaram o Primeiro
Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Muitos
representantes das nações indígenas não participaram do Congresso temendo não
serem ouvidas pelos homens brancos. Durante esse encontro foi criado o
Instituto Indigenista Interamericano. O organismo, também com sede no México,
tem como objetivo principal defender os interesses dos povos nativos da América
em todo o continente.
O
Brasil só aderiu à nova instituição devido à intervenção do Marechal Rondon. O
militar foi um ardoroso defensor dos povos indígenas. Ele nasceu na cidade de
Mimoso, no interior do estado do Mato Grosso. Seu pai era descendente de
portugueses e sua mãe, de índios Bororós. Inicialmente foi professor e, em 1881,
matriculou-se na Escola Militar do Rio de Janeiro. Foi indicado componente da
Comissão Construtora das Linhas Telegráficas, explorando os sertões do Mato
Grosso, no ano de 1892. Sua tese era: “matar nunca, morrer se necessário”. Foi
ele o criador da primeira instituição de cuidados com os índios: o Serviço de
Proteção ao Índio. Em 1967, foi então criada a FUNAI - Fundação Nacional do
Índio. Esse organismo, vinculado ao Ministério da Justiça, tem como objetivo
principal promover políticas de desenvolvimento sustentável das populações indígenas,
aliar a sustentabilidade econômica à sócio-ambiental e implementar medidas de
vigilância, fiscalização e de prevenção de conflitos em terras indígenas.
Nesse
19 de abril devemos refletir, e muito, sobre o futuro dos povos indígenas no
Brasil e no mundo. Afinal, temos muito a aprender com eles e devemos
respeitá-los em sua cultura e suas características.
*Ricardo Barros Sayeg é Professor de
História do Colégio Paulista, Mestre em Educação pela Universidade de são
Paulo, formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.