Documentário mostra a revolta que pôs fim ao uso da chibata pela Marinha de Guerra antiga
Adalberto Cândido, filho de João Cândido, é um dos entrevistados
Em 1910, ocorreu uma rebelião militar na Marinha do Brasil: a Revolta da
Chibata. Naquela época, o recrutamento militar era obrigatório e
acabava recaindo sobre a população mais pobre, que não contava com
prestígio político para livrá-la do serviço militar obrigatório. O corpo
militar tinha uma série de castigos físicos sob seus membros inferiores
(soldados, cabos e sargentos), quase todos por desvio de conduta, e que
eram feitos com açoitamentos.
Após a condenação de Marcelino
Rodrigues Meneses a 250 chibatadas, em 1910, com obrigatoriedade do
restante dos marinheiros a assistirem ao castigo, esses se revoltaram.
E, em 22 de novembro, durante a noite, eles se rebelaram e tomaram o
controle do navio Minas Gerais. Outros três navios: São Paulo, Bahia e
Deodoro, aderiram ao movimento. Seu líder foi o marinheiro João Cândido.
O comandante do Minas Gerais, junto com outros oficiais acabou sendo
morto, e o conflito ganhou dimensões de luta armada, ocorrendo morte
também do lado dos marinheiros. Por iniciativa do senador Rui Barbosa, o
então presidente Hermes da Fonseca aprovou uma proposta que atendia os
marinheiros e ainda lhes concedia anistia, ou seja, eles não seriam
presos. O ex-presidente ficou sem saída, uma vez que os navios estavam
ancorados na Baía de Guanabara, apontados diretamente para o centro da
cidade. Dessa forma, os revoltosos depuseram armas e se entregaram às
autoridades. As reivindicações dos rebelados eram duas: o fim dos
castigos corporais e a melhoria na alimentação.
Os castigos foram realmente encerrados, porém, a anistia não ocorreu.
Os líderes do movimento foram presos, entre eles João Cândido. As
condições no cárcere eram extremamente degradantes e muitos desses
líderes morreram na prisão. João Cândido, porém, sobreviveu e acabou
absolvido em julgamento realizado em 1912. Faleceu em 1969 e ficou
conhecido como o Almirante Negro.
Agora essa história será lembrada no documentário Cem anos sem chibata, do diretor Marcos Manhães Marins, que a TV Brasil estreia no sábado (16), às 22h.
Com a participação de historiadores brasileiros e estrangeiros,
parentes de João Cândido, líderes de movimentos sociais, marinheiros,
almirantes, e do ator Antônio Pitanga, o longa contém trechos do único
registro de voz de João Cândido, “depoimento para posteridade”, dado em
entrevista a Ricardo Cravo Albin, no Museu da Imagem e do Som, em 1968.
Cem anos sem chibata confronta a história oficial com a
historiografia acadêmica e a tradição oral, para revelar melhor as
causas e consequências da revolta que acabou com a chibata pela Marinha
de Guerra antiga. A última vez que um marinheiro levou chibatadas aqui
no Brasil foi em 21 de novembro de 1910. Há alguns meses, portanto, o
país todo comemorava os 100 anos do fim daquele castigo. Hoje, já fora
do ambiente de comemorações, investiga-se a importância do fato, e
estratégias dos movimentos sociais e das instituições militares sobre o
tema. Inédito.
Título: Cem anos sem chibata. Brasil, 2010. Gênero: Documentário. Direção de Marcos Manhães Marins.