REVOLTA DO BUZÚ: ONDE TUDO COMEÇOU



A REVOLTA DO BUZÚ
Por Mercês 
O exemplo da revolta do Buzú, em Salvador/BA.

Setembro de 2003, mês que marcou a história de lutas sociais em Salvador nos últimos 30 anos. Os protagonistas desta linda e emocionante história seriam indivíduos comuns, filhos de pais pobres em sua grande maioria, quando não desempregados.
Tudo iria começar com os boatos na cidade sobre o possível aumento da tarifa de ônibus.
“vai subir para R$1,70, R$1,65; a proposta dos empresários era de R$ 1,80!
Qual é?! Na capital do desemprego, qualquer reajuste da já alta tarifa de R$1,30 seria uma imoralidade e uma falta de respeito ao povo trabalhador soteropolitano.
Preocupados com a situação, os estudantes (sempre os primeiros nos levantes sociais) iniciam movimentações paralisando as regiões mais periféricas da cidade. A cidade baixa numa quinta-feira é sacudida pelos estudantes.
Algumas coincidências foram extremamente importantes para o desenrolar das manifestações. A primeira foi que neste mesmo período já estava em curso, um fórum formado por grêmios estudantis das principais escolas. Inicialmente a idéia seria de rearticular um movimento que fortalecesse os grêmios e pudesse dar-los maior autonomia frente a ação centralizadora e manobrista de algumas entidades e partidos.
Dia 29/08, sexta-feira, as mobilizações ganham maiores proporções pegando de surpresa e temor a cúpula carlista que já pela manhã anuncia o aumento para R$1,50. Tentava-se assim desmotivar e desmobilizar os estudantes. Doce engano! Ao invés de frustração veríamos revolta e indignação. A população em peso apóia os estudantes.
Já na segunda, dia 1° , ocorrem paralisações em vários pontos de salvador. A cidade estava tomada, ou melhor, sitiada. “OS ESTUDANTES PARAM SALVADOR”, “ A REVOLTA DO BUZÚ”, estas eram as manchetes dos principais jornais do estado. Nos dias posteriores, COBERTURA NACIONAL QUE SURPREENDERIA O PAÍS.
O prefeito não sabia o que fazer. Toma bronca do seu padrinho malvadeza “ACM” por não ter usado da força anteriormente.
Surge então para o prefeito uma grande oportunidade. Possíveis líderes do movimento estariam dispostos a negociar com o prefeito. Bom pra ele que assim poderia cooptar as tais lideranças e frear o movimento, além de passar uma imagem de flexível e aberto ao diálogo. Bom também para as tais lideranças que poderiam agora desfrutar da visibilidade que a mídia em geral estava oferecendo.
Desde o início já tinha ficado claro que o movimento não tinha líderes oficiais, havia sim um grupo de grêmios e estudantes que colaboravam nas mobilizações e organizava as passeatas.
As antigas lideranças estudantis partidárias e as pouco representativas entidades quiseram guiar na força o movimento que não controlavam. Se esforçaram para produzir uma imagem de que eram os representantes daquele movimento e que poderia falar por ele. A idéia do espontaneísmo os atemorizava.
Representar uma entidade social é antes de tudo reconhecer que rebeliões sociais são fruto de insatisfações populares. O grande desafio para quem representa um segmento social é tentar estabelecer uma direção responsável, efetiva, coletiva, democrática respeitando a vontade das bases. Orientar o movimento no sentido de impedir que ele não se dissolva em agregados de protestos isolados e desconexos.
Mesmo assim, os tais líderes só queriam sair na TV, aparecer em jornais, levantar a bandeira de seu partido ou entidade na frente do movimento.
Os estudantes se indignaram, não seriam mais uma vez massa de manobra. Continuaram com os protestos obrigando o prefeito a ceder 7 dos 8 pontos da pauta reivindicatória. Só faltava a redução para R$1,30.
Satisfeitos com a visibilidade alcançada e preocupados com o prosseguimento do movimento, as tais lideranças iniciaram uma tentativa de desmobilização. Proclamavam a sociedade que já havíamos conquistado o que queríamos e a redução viria com as futuras negociações que eles intermediariam. Resultado, a antipatia virou revolta e todos eles (as tais lideranças) foram repelidos pela massa.
Entidades e partidos passaram a ser odiados, tudo graças a irresponsabilidade de alguns militantes que preferiram optar por contemplar seus interesses pessoais e eleitoreiros.
Ao invés de reconhecerem o erro, continuaram batendo de frente com a base estudantil. Alguns se afastaram para não prejudicar ainda mais, as suas imagens.
Situação paradoxal! Tais líderes diziam algo e as massa faziam diferente. A mídia maliciosamente passava a idéia que o movimento estava desorganizado.
Utilizando desta linha de pensamento, tais lideranças começaram a pregar o medo na base estudantil.” está fora do controle”, “vai se transformar em tragédia”, “a polícia vai bater”, “a opinião pública vai se voltar conta nós”. O golpe mais pesado foi” vamos parar temporariamente para reorganizarmos a luta”. Muitos grêmios, novos na luta, caíram neste discurso.
No auge das mobilizações, por conta desta desmobilização, o movimento entrou em refluxo. Houveram resistentes, mas eram uma minoria e que acabaram apanhando da polícia nos dias posteriores.
Mesmo assim, uma galera aguerrida e determinada tentou resistir e recuperar o fôlego daquele movimento; não deixaram de acreditar naquilo que desde o início defendiam, mas sabiam que dependiam do coletivo dos estudantes para alcançar a vitória.
Ficou a lição de luta para a população; proporcionou-se novas discussões sobre a forma de atuação dos movimentos sociais, reoxigenaram-se os grêmios estudantis, além de estar plantada no coração de cada um o desejo de retornar por uma luta ainda maior, o PASSE-LIVRE! 


Saiba mais: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Passe_Livre
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/03/275678.shtml
http://www.laquestionsociale.org/LQS/LQS_3/por_QS3_RevoltaBuzu.pdf
http://www.ibase.br/userimages/revolta_do_buzu_final.pdf
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/11252/1/Dissertacao%20Edemir%20Ferreiraseg.pdf