A Independência da Bahia será tema do Memória Contemporâneas nesta terça (30)



Devido a pandemia do novo Coronavírus, diversos setores da sociedade tiveram que adaptar algumas atividades para continuar entregando serviços à população. E o projeto Memórias Contemporâneas, promovido pela Fundação Pedro Calmon (FPC/SecultBA), entra em sua 4o edição de forma virtual.

Organizado pelo Centro de Memória da Bahia (CMB), unidade da FPC, o projeto objetiva a construção de um banco de dados audiovisual acerca da cultura e seus agentes e à relação de organizações e movimentos sociais com o campo da cultura e o protagonismo das linguagens artísticas nas disputas identitárias. Os encontros, antes realizados de forma presencial, agora será realizado de modo on line.

O primeiro encontro virtual será realizado na próxima terça-feira (30), às 16h, na página do Youtube da FPC. Sérgio Guerra Filho é historiador e professor da  Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e vai falar sobre A importância do povo no processo de independência do Brasil na Bahia: “Com tiranos não combinam brasileiros corações”. A aula será mediada pelo diretor do CMB, Walter Silva e vai durar cerca de 1 hora, onde os participantes poderão interagir com perguntas ou contribuições, através dos comentários do canal do youtube da FPC.

De acordo com Walter, a proposta deste debate é relacionar a contemporaneidade da importância da participação do povo nas lutas. "Iremos utilizar o contexto das manifestações populares em prol das lutas antirracistas que estão acontecendo em diversos países", afirma o gestor da CMB.


Sobre o convidado – Sérgio Guerra Filho é Professor Adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, atuando na Licenciatura em História e no Mestrado Profissional em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas. Licenciado em História pela Universidade Católica do Salvador (1997) e Mestre (2004) e Doutor (2015) em História Social pela Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Regional do Brasil e Ensino de História. Coordena o Subprojeto História do Programa Residência Pedagógica da UFRB.

"UMA ACIDENTE DE COR"



REVISTA DOS JORNAIS

Lê-se no Ypiranga, jornal que se publica na cidade de São Paulo o seguinte fato: Anteontem apregoava o porteiro das audiências do juízo de órfãos a venda em leilão de uma escrava de nome Felicidade, de 15 a 16 anos de idade, pertencente a herança de Joaquim Nunes Ribeiro, da freguesia de Itapecerica.

Os concorrentes subiram a sala das audiências para verem a mercadoria que se apregoava, e todos ficaram surpreendidos e repassados de dor encontrando uma menina perfeitamente branca, e de bela aparência, esperando que alguém lhe dissesse – segue-me escrava!...
O geral interesse que inspirou esta menina converteu-se logo em uma filantrópica resolução; e prestando-se o digno juiz de órfãos Dr. Carvalhaes, formou-se aí mesmo uma comissão encarregada de promover a alforria da infeliz Felicidade.

O Dr. Rodrigues dos Santos foi nomeado curador, e auxiliado pelos senhores Dr. Carrão e Pinto Junior contra pessoas que compartilham iguais sentimentos, propuseram-se a solicitar da caridade dos habitantes da capital uma subscrição para a liberdade da mesma.
Aplaudindo tão piedosa intenção fazemos votos para que os generosos esforços das pessoas incumbidas de realizá-la, sejam coroados do mais completo e pronto êxito, pelo franco concurso de todos os que forem solicitados para subscreverem.

A arrematação ficou suspensa até concluírem-se as diligências, e para serem ouvidos os senhores da escrava branca, dos quais esperamos que não contraírem os louváveis desejos de seus benfeitores; e ao Sr. Dr. Carvalhaes deverá a humanidade grande parte deste benefício.

Mais de uma ação destas se tem dado nestes últimos tempos.
O nosso escravizar não se estende tão irracionalmente como creem os estrangeiros. A humanidade e o interesse social gulão sempre nossas ações. Apesar de tudo ainda nós não chegamos a dar tanta importância ao acidente de cor, como fazem nossos irmãos dos Estados Unidos. Num país de livres instituições é assim que se pensa, é assim que se faz.   

Fonte: 
Diário do Rio de Janeiro, 5 de setembro de 1852. 
Página 2. 
Disponível em: ww.memoria.bn.br  

ESCRAVA, PARDA CLARA, QUASE BRANCA, FUGINDO DO SEU SENHOR


Em 1880, faltando 8 anos para ser abolida a escravidão no Brasil, a parda clara Alexandrina buscava refúgio na Secretaria de Polícia, vinda de Sergipe, fugia das garras do seu senhor, o Professor público Raphael Montalvão, segundo ela, pela má vontade dele para com ela. Considerada quase branca pelo delegado Virgílio de Faria, este apela para que o chefe de polícia se compadeça daquela quase branca escrava, que por ser branca, não poderia sofrer as durezas da escravidão.    


Apareceu nesta Secretaria no dia 30 de outubro próximo passado Alexandrina, parda clara, quase branca, de 18 a  19 anos de idade, declarando ter fugido do poder de seu senhor o Professor público Raphael Montalvão, a quem foi vendida, há 15 meses, por Manoel José de Andrade, morador nas Matas das Carahibas no Termo de Simão Dias nessa província, quando no valor dela tinha o dito Andrade três partes apenas, pertencendo a quarta aos órfãos filhos do finado Feliciano Rodrigues da Cruz, cuja viúva casou-se com Paulino Modesto, moradores todos em Carahibas.

Interrogada sobre a razão que teve para fugir do seu Senhor, declarou: que deu esse passo por não querer mais servi-lo pela má vontade que ele mostrara contra ela.
E como há nesta província pessoa que deseja compra-la, e mesmo outras que pretendam promover uma subscrição em favor da infeliz escrava de que trato, se porventura for módico o preço exigido por ela por seu legítimo Senhor vou disto dar ciência a Vossa Senhoria pedindo-lhe que a bem da liberdade de uma mulher quase branca e que se vê entregue as durezas da escravidão, se digne de interessar aí seus reconhecidos sentimentos de humanidade para que o respectivo Senhor não alimentando qualquer capricho contra ela, haja de abrir um preço razoável, de modo a poder ser indenizado e ficar ela nesta província, onde se acha depositada.


Virgílio Silvestre de Faria.   
FONTE:
Arquivo Público do Estado da Bahia
Seção Colonial/Provincial.
Polícia: Registro de correspondência expedida - 1880-1881.
Maço: 5847.

Registros arquivados da digitalização de fontes manuscritas ameaçadas: os notários da Bahia, Brasil, 1664-1889 (EAP703)




Propósitos e objetivos

O objetivo do projeto é digitalizar uma coleção de documentos manuscritos depositados no Arquivo Público do Estado da Bahia (BSA): os 841 volumes dos Livros Notariados produzidos entre 1664 e 1889, sendo esta última data o ano em que a República foi proclamada e um ano após a abolição da escravidão no Brasil. O resultado serão aproximadamente 450.000 imagens, que serão depositadas na BSA, na Universidade Federal da Bahia e na British Library, e serão disponibilizadas on-line.

Até 1763, a Bahia era a sede do governo colonial português nas Américas e uma importante economia de plantações de açúcar baseada no trabalho escravo africano. O Brasil foi o maior importador de africanos, perto de cinco milhões dos 11 milhões desembarcados nas Américas. A Bahia recebeu 33% do comércio brasileiro e 14,5% do total. Sendo um centro administrativo e econômico, e até o final do século XVIII o porto comercial mais importante do Atlântico Sul, a produção de documentos na Bahia era intensa. No Brasil, a BSA é considerada em segundo lugar em importância apenas para os Arquivos Nacionais no Rio de Janeiro.


Apesar de sua importância, a BSA ocupa um edifício inadequado (embora charmoso) do século XVIII, pequeno demais para sua crescente coleção, problemático em termos de controle climático, localizado em um terreno úmido, com teto feito de azulejos coloniais facilmente puxados por ventos fortes e chuva, entre outros problemas estruturais. Nos últimos dois anos, a eletricidade estava disponível apenas em algumas salas devido a uma falha elétrica geral e ao risco de incêndio. A sala de consulta foi transferida para um pequeno espaço onde poucos pesquisadores são permitidos simultaneamente e até recentemente tinham que depender da luz natural para ler documentos. Após meses de reportagens na imprensa e pressão de pesquisadores de todo o mundo, o governo do estado alocou recentemente dinheiro para consertar o sistema elétrico, um trabalho em andamento. Esta situação, juntamente com a ação do tempo, fungos, insetos e um clima muito úmido resultaram na deterioração e, muitas vezes, na destruição de vários documentos. O projeto terá como alvo a série Notary Books para digitalização.

Esses documentos representam talvez a fonte mais confiável para o estudo da história social e econômica da Bahia colonial e pós-colonial até o final do século XIX. Aqui, os pesquisadores podem ler, entre outros, notas de venda (para plantações, terrenos, casas, navios, escravos, etc.), testamentos e testamentos, partição de herança, cartas de procuração, casamento, dote, contratos trabalhistas e comerciais, legitimação infantil papéis e papéis de manutenção de escravos. Essas são fontes fundamentais para o estudo de uma importante sociedade de plantações, o comércio de escravos, a escravidão, a passagem do trabalho escravo para o trabalho livre, a transmissão de propriedades em ambientes rurais e urbanos, as plantadoras e as estratégias de casamento dos comerciantes, as redes mercantis no Atlântico Sul, as biografias, entre outros temas. Pesquisas nesse sentido por estudiosos brasileiros e estrangeiros comprovaram a riqueza dessa fonte para o estudo da história da Bahia e suas conexões com o mundo atlântico, a escravidão e o comércio de escravos em particular. A Bahia foi responsável por aproximadamente 15% do comércio transatlântico de escravos para as Américas, número superado apenas pelo Rio de Janeiro.
 
As condições dos notários variam de legíveis, pouco legíveis, quase ilegíveis e ilegíveis. Alguns são irrecuperáveis, mas muitos ainda podem ser restaurados e precisam ser salvos em formato digital antes de se deteriorar ou serem destruídos por qualquer infeliz acidente natural ou humano causado.

O projeto é baseado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e será realizado pelo “Grupo de Pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade”. Durante o projeto, a equipe organizará seminários com acadêmicos e estudantes de pós-graduação que usaram ou estão usando os Notários, momento em que o projeto será exposto à mídia para sensibilizar a sociedade e o governo sobre a necessidade de preservar documentos históricos. .

Resultados

A equipe do projeto digitalizou 1.329 volumes de cartórios que compõem a coleção depositada na APEB. 35 livros da coleção foram considerados muito frágeis para digitalização. As datas dos volumes variam de 1664 a 1910, incluindo, portanto, as duas primeiras décadas do período republicano e pós-emancipação. No total, 306.416 páginas foram digitalizadas como parte do projeto.

ACESSE A COLEÇÃO: