ESCRAVA, PARDA CLARA, QUASE BRANCA, FUGINDO DO SEU SENHOR


Em 1880, faltando 8 anos para ser abolida a escravidão no Brasil, a parda clara Alexandrina buscava refúgio na Secretaria de Polícia, vinda de Sergipe, fugia das garras do seu senhor, o Professor público Raphael Montalvão, segundo ela, pela má vontade dele para com ela. Considerada quase branca pelo delegado Virgílio de Faria, este apela para que o chefe de polícia se compadeça daquela quase branca escrava, que por ser branca, não poderia sofrer as durezas da escravidão.    


Apareceu nesta Secretaria no dia 30 de outubro próximo passado Alexandrina, parda clara, quase branca, de 18 a  19 anos de idade, declarando ter fugido do poder de seu senhor o Professor público Raphael Montalvão, a quem foi vendida, há 15 meses, por Manoel José de Andrade, morador nas Matas das Carahibas no Termo de Simão Dias nessa província, quando no valor dela tinha o dito Andrade três partes apenas, pertencendo a quarta aos órfãos filhos do finado Feliciano Rodrigues da Cruz, cuja viúva casou-se com Paulino Modesto, moradores todos em Carahibas.

Interrogada sobre a razão que teve para fugir do seu Senhor, declarou: que deu esse passo por não querer mais servi-lo pela má vontade que ele mostrara contra ela.
E como há nesta província pessoa que deseja compra-la, e mesmo outras que pretendam promover uma subscrição em favor da infeliz escrava de que trato, se porventura for módico o preço exigido por ela por seu legítimo Senhor vou disto dar ciência a Vossa Senhoria pedindo-lhe que a bem da liberdade de uma mulher quase branca e que se vê entregue as durezas da escravidão, se digne de interessar aí seus reconhecidos sentimentos de humanidade para que o respectivo Senhor não alimentando qualquer capricho contra ela, haja de abrir um preço razoável, de modo a poder ser indenizado e ficar ela nesta província, onde se acha depositada.


Virgílio Silvestre de Faria.   
FONTE:
Arquivo Público do Estado da Bahia
Seção Colonial/Provincial.
Polícia: Registro de correspondência expedida - 1880-1881.
Maço: 5847.