La Vai Verso: a Lavagem do Bonfim n’O Alabama (1863-1871)

 


La Vai Verso: a Lavagem do Bonfim n’O Alabama (1863-1871)

Seleção, comentários e notas

de Mariângela de Mattos Nogueira

O livro La Vai Verso: a Lavagem do Bonfim n’O Alabama (1863-1871) reúne seis poemas publicados no jornal O Alabama, que circulou durante quase três décadas na Bahia do século XIX. A publicação, em formato digital de e-book, pode ser acessada na Biblioteca Virtual Consuelo Pondé (http://200.187.16.144:8080/jspui/handle/bv2julho/1056). De autoria de Mariângela de Mattos Nogueira, o projeto é um trabalho de garimpagem e informação sobre um passado vibrante da Cidade da Bahia.

Os versos sempre bem humorados servem como mostruário dos costumes e da cultura daquele momento e merecem ser lidos para que não se esvaiam no vento do esquecimento e também porque são bons de ler. Ali, está o retrato da Bahia em estrutura literária de versos em redondilha e, também, quase como crônicas ou reportagens de acontecimentos.

O trabalho de seleção desses dizeres tão baianos produz informações sobre as quadras repletas de humor e a partir disso se sabe mais sobre a Bahia, passando-se por personagens, ruas e situações. Aparecem também os nomes de pessoas que ficaram na história, porque fizeram essa história, agora contada por Mariângela. Ao longo de toda a sua escrita, a autora encontra fundamento para o que é dito em cada estrofe, tecendo a contextualização que ajuda a colocar o leitor na cena e possibilitando que as coisas tenham nexo histórico, social, cultural.

Então, com uma escrita saborosa e precisa, bem construída, Mariângela Nogueira retoma os poemas e faz com que seus versos transportem o leitor para o que era o trajeto para o Bonfim, com todas as pândegas a que tinham direito os que acompanhavam o cortejo. É como se o leitor pudesse fazer parte do evento porque os poemas e os detalhes que os acompanham no livro são dispostos de modo complementar e descritivo do momento, seus hábitos e costumes.

Tecnicamente, o e-book tem 96 páginas. E, afetivamente, em uma cidade que em muitos cantos se desmancha por falta de uma atenção à sua memória, a proposta de fazer circular O Alabama mais uma vez, e mais especificamente a coluna Lá Vae Verso, é um respiro especialmente por ser a leitura muito passível de fruição. Lá Vae Verso vai pelo caminho que leva ao Bonfim.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal

REVISTA AFRO-ÁSIA 63

 


Sumário

Expediente

 

Artigos

Tecendo redes imperiais: uma dimensão asiática do comércio britânico de escravos no Atlântico no século XVIII

Kazuo Kobayashi

 

A importância do café para São Tomé e Príncipe frente à proibição do comércio de escravizados pela Inglaterra

Alan de Carvalho Souza

 

Catarina Juliana e sua sociedade de culto: rituais e práticas religiosas na Angola setecentista

Daniel Precioso

 

“Com duas gejas em cada uma das fontes”: escarificações e o processo de tradução visual da diáspora jeje em Minas Gerais durante o século XVIII

Aldair Rodrigues

 

A escravidão e o acesso à terra nas concepções de Luís Antônio de Oliveira Mendes (1792-1821)

Magnus Roberto de Mello Pereira

 

"Por sua liberdade me oferece uma escrava": alforrias por substituição na Bahia, 1800-1850

João José Reis

 

Cruzando caminhos em Ibicaba: escravizados, imigrantes suíços e abolicionismo durante a Revolta dos Parceiros (São Paulo, 1856-1857)

Isadora Moura Mota

 

Inventar uma Sunnah: o Estado Islâmico, salafismo e inovação

Gilvan Figueiredo Gomes, Gilvana de Fátima Figueiredo Gomes

 

Diversidade sexual e de gênero, Estado nacional e paisagens heterotópicas no Irã: Foucault e depois

Fabiano Gontijo

 

Em busca da "redenção de Cam": racialidade e interseccionalidade numa prisão de mulheres

Wallesandra Souza Rodrigues, Alessandra Teixeira

 

Tarzan, um negro: para uma crítica da economia política do nome de “África”

Marcelo R. S. Ribeiro

 

Epistemologias para convivialidade ou Zumbificação

Fernando Baldraia

 

Biblioteca de Clássicos

Para além da sociologia e da antropologia sociocultural: sobre o lugar do mundo não ocidental em uma teoria social futura

Shalini Randeria, apresentação e tradução de Ricardo Pagliuso Regatieri

 

Resenhas

A modernidade da escravidão e o capitalismo norte-americano

Henrique Espada Lima

 

Negritude: uma identidade legal em consequência da liberdade

Luciana da Cruz Brito

 

Liberdade negada

Paulo Roberto Staudt Moreira

 

Belém, cidade negra na Amazônia

Matthias Röhrig Assunção

 

O posto de honra de Luiz Gama

Wlamyra Albuquerque

 

"Nossa história é outra como é outra nossa problemática": Beatriz Nascimento por sua obra

Lucilene Reginaldo

 

Campos de batalha intelectual e novos paradigmas do pensamento africano

Leila Leite Hernandez

 

Testemunhos e reflexões para a compreensão de Timor-Leste

Jorge Bayona

 

Aprendendo a dançar

Carlos Sandroni

 

Narrativas étnicas confluentes em literaturas das Américas

Licia Soares de Souza

 

Debate sobre a resenha de "Não somos bandidos"

Michel Cahen, Juvenal de Carvalho

ACESSE NA ÍNTEGRA: 

https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/issue/view/2182/showToc 

GRACINDA, LIBERTA E SOLTA NOS BATUQUES DA BAHIA!

 


Ao alforriar sua escrava Gracinda José Luiz Bananeira acreditava que ela o serviria fielmente até a sua morte, ledo engano, o som do batuque da Bahia falou mais alto. Já liberta, mesmo sob condição, Gracinda não pensou duas vezes e partiu para o samba! Não era a primeira vez que um escravo do mesmo senhor buscava o caminho da liberdade. Em 1848 um seu escravo havia fugido e foi colocado prêmio de cinquenta réis pela sua captura, Juvêncio fugira no barco de Albino Luiz Boa-Morte em 6 de setembro do ano anterior, Juvêncio era exímio marinheiro, carapina e marceneiro; com tantas habilidades não ficaria sem serviço Bahia a fora. Gracinda também não se deixou prender pela alforria condicional, seguiu o caminho da liberdade e, segundo relato do Bananeira, encontrou na Ilha de Itaparica, na localidade do Jaburu se refúgio e diversão. Bananeira, um senhor octogenário, viria a morrer quatro anos depois, como noticiou o Monitor: José Luiz Bananeira, branco, viúvo, 82 anos, moléstia interna. Gracinda seguiu batucando e sambando no Jaburu.

José Luiz Bananeira tendo uma cria de nome Gracinda, crioula, que libertou sob condição de acompanhá-lo e servi-lo enquanto vivo for fosse, acha-se ela fugida do poder do Suplicante à seis anos, dando-se à relaxação e depravação dos batuques, sem fazer caso algum do estado valetudinário na idade octogenária dele Suplicante, caído na maior indigência e sem ter quem o sirva, pois a mesma crioula é a única que tem semelhante obrigação dentre os demais aos escravos libertos gratuitamente em número de onze.

Em tão triste situação vem implorar de Vossa Excelência a necessária providência para a captura da referida crioula Gracinda e do seu ocultador (que com ela mora à Rua Nova do Queimado e costuma leva-la para os batuques do Jaburu no Mar Grande) este afim de ser compelido ao pagamento dos dias de serviço, e aquela empregar-se na faxina da Cadeia de Santo Antônio, onde ficará à Ordem de Vossa Excelência até que corrigida possa ser alugada a alguém, visto não querer prestar os devidos serviços ao Suplicante. Dignando-se Vossa Excelência de ordenar por ofício ao Subdelegado do 1º Distrito de Santo Antônio, que faça efetiva a prisão de ambos, e proferindo o seu respeitável Despacho nesta súplica para qualquer Inspetor de Quarteirão, Guarda Nacional ou Policial também poderem prende-los agenciada a diligência pelo próprio Suplicante que submissamente. Pede a Vossa Excelência na forma implorada. E.R.M. Bahia, Abril de 1872. José Luiz Bananeira.

Documento encontrado por Lisa Earl Castillo, a quem agradeço pela contribuição para a postagem.  

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos Colonial/Provincial, Série Polícia, Maço: 6337.

O Monitor (BA) - 1876 a 1881

Correio Mercantil : Jornal Politico, Commercial e Litterario (BA) - 1836 a 1849.