GRACINDA, LIBERTA E SOLTA NOS BATUQUES DA BAHIA!

 


Ao alforriar sua escrava Gracinda José Luiz Bananeira acreditava que ela o serviria fielmente até a sua morte, ledo engano, o som do batuque da Bahia falou mais alto. Já liberta, mesmo sob condição, Gracinda não pensou duas vezes e partiu para o samba! Não era a primeira vez que um escravo do mesmo senhor buscava o caminho da liberdade. Em 1848 um seu escravo havia fugido e foi colocado prêmio de cinquenta réis pela sua captura, Juvêncio fugira no barco de Albino Luiz Boa-Morte em 6 de setembro do ano anterior, Juvêncio era exímio marinheiro, carapina e marceneiro; com tantas habilidades não ficaria sem serviço Bahia a fora. Gracinda também não se deixou prender pela alforria condicional, seguiu o caminho da liberdade e, segundo relato do Bananeira, encontrou na Ilha de Itaparica, na localidade do Jaburu se refúgio e diversão. Bananeira, um senhor octogenário, viria a morrer quatro anos depois, como noticiou o Monitor: José Luiz Bananeira, branco, viúvo, 82 anos, moléstia interna. Gracinda seguiu batucando e sambando no Jaburu.

José Luiz Bananeira tendo uma cria de nome Gracinda, crioula, que libertou sob condição de acompanhá-lo e servi-lo enquanto vivo for fosse, acha-se ela fugida do poder do Suplicante à seis anos, dando-se à relaxação e depravação dos batuques, sem fazer caso algum do estado valetudinário na idade octogenária dele Suplicante, caído na maior indigência e sem ter quem o sirva, pois a mesma crioula é a única que tem semelhante obrigação dentre os demais aos escravos libertos gratuitamente em número de onze.

Em tão triste situação vem implorar de Vossa Excelência a necessária providência para a captura da referida crioula Gracinda e do seu ocultador (que com ela mora à Rua Nova do Queimado e costuma leva-la para os batuques do Jaburu no Mar Grande) este afim de ser compelido ao pagamento dos dias de serviço, e aquela empregar-se na faxina da Cadeia de Santo Antônio, onde ficará à Ordem de Vossa Excelência até que corrigida possa ser alugada a alguém, visto não querer prestar os devidos serviços ao Suplicante. Dignando-se Vossa Excelência de ordenar por ofício ao Subdelegado do 1º Distrito de Santo Antônio, que faça efetiva a prisão de ambos, e proferindo o seu respeitável Despacho nesta súplica para qualquer Inspetor de Quarteirão, Guarda Nacional ou Policial também poderem prende-los agenciada a diligência pelo próprio Suplicante que submissamente. Pede a Vossa Excelência na forma implorada. E.R.M. Bahia, Abril de 1872. José Luiz Bananeira.

Documento encontrado por Lisa Earl Castillo, a quem agradeço pela contribuição para a postagem.  

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos Colonial/Provincial, Série Polícia, Maço: 6337.

O Monitor (BA) - 1876 a 1881

Correio Mercantil : Jornal Politico, Commercial e Litterario (BA) - 1836 a 1849.