REVISTA MUNDOS DO TRABALHO CHAMADA DE ARTIGOS PARA DOSSIÊ TEMÁTICO 2020



Apresentação:

A construção de estradas, ferrovias, linhas telegráficas, canais, açudes, portos e usinas encontra-se na base dos processos de modernização econômica da maioria dos países. A execução desses empreendimentos promove sensíveis impactos sociais e ambientais, e é comum que a finalização de grandes obras seja marcada por cerimoniais festivos, com engenheiros, autoridades e governantes angariando o prestígio das inaugurações. No outro lado do processo, inseridos no nada prestigiado cotidiano de trabalho, estão os trabalhadores da construção, homens, mulheres e crianças, na maioria pobres, constituindo turmas de operários, afastados de seus locais de moradia, que atravessam duríssimas jornadas executando no anonimato as prosaicas atividades de escavar, carregar, quebrar... Por lidarem com serviços pesados, as turmas de construção costumam ser formadas pelas composições mais desprotegidas das classes trabalhadoras, executando suas tarefas à céu aberto, padecendo de doenças, vivendo em acampamentos precários, muitas vezes sob regimes de trabalho compulsórios, recebendo baixos salários, às vezes com pagamentos atrasados, às vezes ficando sem receber. Como disse Karl Marx, compõem a “infantaria ligeira do capital”, geralmente proveniente do campo, mas que exercem atividades industriais. Este dossiê pretende reunir estudos que abordem essa multifacetada modalidade de trabalhadores da construção, numa perspectiva global e a partir de casos transcorridos nos mais diversificados tempos e lugares. Comporta, portanto, pesquisas focadas nas diversas regiões brasileiras, mas também relacionadas a outros países, incluindo empreendimentos transnacionais que envolvam o trânsito de trabalhadores por fronteiras. Engloba uma temporalidade igualmente ampla, remontando aos primórdios da expansão do capitalismo até nosso tempo presente, com todas as fases de expansão verificadas nos meios de transporte, comunicação e infraestrutura industrial. Não há restrição de abordagens neste dossiê, sendo bem-vindas investigações no âmbito da História Social que versem sobre as condições dos trabalhadores nos processos de construção, suas formas de resistência e protestos. Considerações sobre gênero, etnicidade, nacionalidade, racismo, qualificação no trabalho, controle de classe, organização sindical e articulações políticas são também de grande importância.



Além de artigos em fluxo contínuo (em português, espanhol ou inglês), resenhas e entrevistas, Mundos do Trabalho está com chamada aberta de artigos para o dossiê temático indicado abaixo.

Dossiê: "Trabalhadores de construção: por estradas, ferrovias, açudes e outras obras".

Organização: Tyrone Cândido (UECE) e Robério Souza (UNEB). 

Calendário:
Período para submissão de artigos: 01/02/2020 - 01/07/2020
Período para avaliação e decisão sobre publicação dos artigos: 01/07/2020 - 01/09/2020
Período para publicação dos artigos selecionados: 01/09/2020 – 01/12/2020

Atenção:
Todos os manuscritos precisam estar estritamente dentro das normas de publicação de Mundos do Trabalho. Diretrizes para Autores podem ser acessadas no seguinte link:
Manuscritos submetidos fora das normas serão automaticamente denegados pela Editoria.

ACESSE: 
https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho



16 DE JANEIRO, 130 ANOS DA CRIAÇÃO DO ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA



Em 16 de janeiro de 1890, era criado o Arquivo Público do Estado da Bahia, mas hoje não comemoramos apenas os 130 anos dessa histórica instituição, mas também um ano de seu fechamento para obras.
A história dessa instituição não mudou ao longo de 130 anos, sempre funcionou de forma precária e nunca teve um local apropriado para salvaguardar o seu rico acervo. Vejamos o que nos relata a Revista Ilustrada de 1919.

“O Arquivo, que muito mal acomodado se achava no acanhado pavimento térreo de uma casa à rua da Ajuda, foi a pouco mudado para um belo e espaçoso sobrado, de três pavimentos, sito à rua Carlos Gomes, também alugado. Não é, porém, ainda uma instalação definitiva, porquanto entendo que um arquivo deve ser estabelecido em edifício adrede construído para esse fim, com todas as garantias contra o incêndio e outras causas de perda dos seus importantes documentos e objetos, a qual para muitos deles seria irreparável. E se o Governo ainda não supriu essa falta, mandando edificar para útil repartição de que trato um prédio das referidas condições, foi poque os recursos de que dispunha não foram suficientes para isso, tendo de aplicar-se a outras obras não menos urgentes. Para que, todavia, ficassem guardados com toda a segurança os documentos de maior valor existentes no Arquivo, foi fornecido a este um grande cofre forte, que se assentou em cômodo adequado na casa em que ora se acha a repartição”.
Então, ao sair dos porões do Palácio do Governo, vai para uma casa na Rua da Ajuda ou Rua do Tesouro, essa mudança foi retratada nas páginas do periódico A NOTÍCIA de 19 de março de 1915:

“O transporte foi feito por caminhões e os montões de folhas preciosas do Arquivo eram atirados das janelas do edifício da Escola, dentro do caminhão, sem nenhum cuidado, sem nenhum carinho. A remoção terminou ontem”.

Na década de oitenta foi transferido do prédio da Rua Carlos Gomes e veio para o atual prédio na Quinta do Tanque, ouvi relatos de antigos funcionários que dizem que a mudança não foi muito diferente da ocorrida em 1915.

Chegamos ao século XXI, e o Arquivo Púbico do Estado da Bahia continua instalado em um local improprio, sem espaço adequado e o governo continua sem recursos suficientes para a construção de um prédio apropriado, realizando obras paliativas e não menos urgentes, como sempre.  

Em matéria do Correio de 24 de março de 2019 temos detalhes da terceira etapa de obras no Arquivo Público, mais uma vez não menos urgentes, entretanto, sem priorizar o fundamental, o rico acervo histórico. O investimento maior da obra seria para a construção de um refeitório, nada para a compra de equipamentos como desumidificadores, nem climatização dos depósitos.    

“Obras no Arquivo custam R$ 2,3 milhões, mas não incluem climatização”
“A climatização dos depósitos onde ficam os documentos e também das áreas técnicas, no entanto, não está inclusa no pacote, que tem previsão para ser entregue em nove meses, contados a partir de dezembro passado. De acordo com a diretora do Apeb, Maria Teresa Matos, a atual intervenção é considerada uma terceira etapa de obras no Arquivo, mas é necessário mais investimento”.

O Arquivo Público do Estado da Bahia resiste a 130 anos, não sei por quanto tempo ainda irá resistir, mas ainda resta a esperança de um dia termos um governo que não o enxergue apenas como um depósito de papel velho, pois, infelizmente essa é a visão de todos que ao longo desses 130 anos fizeram reparos não menos urgentes e esqueceram do principal, toda a história de um país que não poderia ser contada sem esse precioso acervo.

“Sem os arquivos, sem as bibliotecas perderiam os indivíduos e os povos, perderia a humanidade inteira o senso da continuidade histórica, que é o fundamento mesmo da civilização, porque é justamente o laço que prende o passado ao presente, preparando o futuro”. Jornal Diário de Notícias, Bahia, quarta-feira, 19 de abril de 1905.