Em 16 de
janeiro de 1890, era criado o Arquivo Público do Estado da Bahia, mas hoje não comemoramos
apenas os 130 anos dessa histórica instituição, mas também um ano de seu
fechamento para obras.
A história
dessa instituição não mudou ao longo de 130 anos, sempre funcionou de forma
precária e nunca teve um local apropriado para salvaguardar o seu rico acervo. Vejamos
o que nos relata a Revista Ilustrada de 1919.
“O Arquivo,
que muito mal acomodado se achava no acanhado pavimento térreo de uma casa à
rua da Ajuda, foi a pouco mudado para um belo e espaçoso sobrado, de três
pavimentos, sito à rua Carlos Gomes, também alugado. Não é, porém, ainda uma
instalação definitiva, porquanto entendo que um arquivo deve ser estabelecido
em edifício adrede construído para esse fim, com todas as garantias contra o incêndio
e outras causas de perda dos seus importantes documentos e objetos, a qual para
muitos deles seria irreparável. E se o Governo ainda não supriu essa falta,
mandando edificar para útil repartição de que trato um prédio das referidas
condições, foi poque os recursos de que dispunha não foram suficientes para isso,
tendo de aplicar-se a outras obras não menos urgentes. Para que, todavia,
ficassem guardados com toda a segurança os documentos de maior valor existentes
no Arquivo, foi fornecido a este um grande cofre forte, que se assentou em cômodo
adequado na casa em que ora se acha a repartição”.
Então, ao
sair dos porões do Palácio do Governo, vai para uma casa na Rua da Ajuda ou Rua
do Tesouro, essa mudança foi retratada nas páginas do periódico A NOTÍCIA de 19
de março de 1915:
“O
transporte foi feito por caminhões e os montões de folhas preciosas do Arquivo
eram atirados das janelas do edifício da Escola, dentro do caminhão, sem nenhum
cuidado, sem nenhum carinho. A remoção terminou ontem”.
Na década
de oitenta foi transferido do prédio da Rua Carlos Gomes e veio para o atual
prédio na Quinta do Tanque, ouvi relatos de antigos funcionários que dizem que
a mudança não foi muito diferente da ocorrida em 1915.
Chegamos ao século XXI, e o Arquivo Púbico do
Estado da Bahia continua instalado em um local improprio, sem espaço adequado e
o governo continua sem recursos suficientes para a construção de um prédio apropriado,
realizando obras paliativas e não menos urgentes, como sempre.
Em matéria
do Correio de 24 de março de 2019 temos detalhes da terceira etapa de obras no
Arquivo Público, mais uma vez não menos urgentes, entretanto, sem priorizar o
fundamental, o rico acervo histórico. O investimento maior da obra seria para a
construção de um refeitório, nada para a compra de equipamentos como desumidificadores,
nem climatização dos depósitos.
“Obras no
Arquivo custam R$ 2,3 milhões, mas não incluem climatização”
“A
climatização dos depósitos onde ficam os documentos e também das áreas
técnicas, no entanto, não está inclusa no pacote, que tem previsão para ser
entregue em nove meses, contados a partir de dezembro passado. De acordo com a
diretora do Apeb, Maria Teresa Matos, a atual intervenção é considerada uma
terceira etapa de obras no Arquivo, mas é necessário mais investimento”.
O Arquivo
Público do Estado da Bahia resiste a 130 anos, não sei por quanto tempo ainda
irá resistir, mas ainda resta a esperança de um dia termos um governo que não o
enxergue apenas como um depósito de papel velho, pois, infelizmente essa é a
visão de todos que ao longo desses 130 anos fizeram reparos não menos urgentes
e esqueceram do principal, toda a história de um país que não poderia ser contada
sem esse precioso acervo.
“Sem os
arquivos, sem as bibliotecas perderiam os indivíduos e os povos, perderia a
humanidade inteira o senso da continuidade histórica, que é o fundamento mesmo
da civilização, porque é justamente o laço que prende o passado ao presente,
preparando o futuro”. Jornal Diário de Notícias, Bahia, quarta-feira,
19 de abril de 1905.