Dimensões da cultura associativa no “longo século XIX”: política, sociedade e trabalho


Coordenadores:
David Patrício Lacerda (Unicamp (Pós-doutorando/Bolsista da FAPESP)), Douglas Guimarães Leite (Universidade Federal Fluminense)
Resumo: Este Simpósio Temático dá continuidade aos diálogos realizados, em 2018, no âmbito do Seminário Internacional “Trabalho, democracia e direitos”, organizado pelo GT Mundos do Trabalho, e do Seminário Internacional “Brasil no século XIX”, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos do Oitocentos. Seu objetivo é promover um espaço de debate acerca das dimensões da cultura associativa no “longo século XIX”, especialmente no que diz respeito às estratégias e às práticas de ajuda mútua relacionadas ao mundo do trabalho. O eixo fundamental da proposta gira em torno da noção de cultura associativa, a saber, do hábito de associar-se, das normas, costumes, símbolos, linguagens e visões de mundo constitutivos da cultura das associações.
Busca-se reunir pesquisadoras e pesquisadores interessados em afinar diálogos teóricos e historiográficos, tendo em vista a reavaliação crítica da produção acadêmica sobre o tema nos últimos anos. Nesse sentido, incentivamos o envio de contribuições que problematizem: a) o reconhecimento do mutualismo como um espaço de organização política de trabalhadores subalternos, entendido tanto como alternativa de defesa social como lócus de ações de representação e resistência; b) a aproximação, no estudo do mutualismo, das experiências e identidades firmadas entre escravos, livres e libertos, brancos e de pele escura, nacionais e estrangeiros; c) a produção de análises que concebem e articulam distintas experiências de organização de trabalhadoras e trabalhadores em função das múltiplas temporalidades produzidas por um capitalismo de escala global; d) a atenção crítica às normas legais e à ação estatal, visando delimitar seu peso na conformação das práticas de ajuda mútua; e) o exame dos elos de continuidade e ruptura entre sociedades mutualistas e outras modalidades associativas conformadas em irmandades, montepios, sociedades recreativas, cooperativas, sindicatos etc.
A relevância da proposta reside, especialmente, na expectativa de construir uma nova agenda de pesquisa que aproxime, por um lado, trabalhos de qualidade marcadamente monográfica e, por outro, pesquisas nas quais resulta mais evidente uma preocupação de caráter estrutural. O diálogo entre tais orientações pode garantir atenção à formulação empírica de contextos integrados de investigação do problema, com ênfase nos tipos e nos resultados da circulação de pessoas, ideias e modelos de organização institucional em espaços/tempos de caráter global.
ACESSE: https://www.snh2019.anpuh.org/simposio/view?ID_SIMPOSIO=295

LANÇAMENTO: IMAGENS DO DAOMÉ


O fotógrafo francês Edmond Fortier (1862-1928) radicou-se ainda jovem no Senegal. Viajando pela África do Oeste, captou com suas lentes um mundo de grande riqueza cultural, que passava então por importantes transformações. Deixou uma obra de mais de quatro mil imagens, a maioria delas publicada no formato de cartão-postal.

Por duas vezes, em 1908 e 1909, ele visitou a possessão francesa do Daomé, o atual Benim. Os documentos visuais produzidos nessas oportunidades, cuidadosamente reunidos pela primeira vez, totalizam 210 imagens.

O olhar atento do fotógrafo gravou inúmeras vertentes da vida social, política e cultural na África ao tempo da dominação francesa. Imagens do Daomé: Edmond Fortier e o colonialismo francês na terra dos voduns, de Daniela Moreau e Luis Nicolau Parés, reúne registros das cerimônias oficiais, protagonizadas por mandatários locais e estrangeiros.

De todo o conjunto, destaca-se a série dedicada aos rituais voduns, uma das primeiras documentações fotográficas dessas práticas. A palavra vodum, em seu contexto original, designava os deuses das sociedades daquela região, ou “os mistérios das forças invisíveis”. 

Os panteões sagrados – do mar, do céu, da terra e do trovão, entre outras divindades –, com suas hierarquias e personagens, coreografias e adereços característicos, estão aqui detalhadamente identificados e analisados pelos autores.

Para o leitor brasileiro, o interesse dessas imagens é direto. Do Golfo do Benim e, a partir do século XVIII, do antigo reino do Daomé partiram para o Brasil milhares de escravizados, cuja devoção original aos voduns serviu de modelo ao nosso candomblé.

Edmond Fortier produziu um material de indiscutível valor histórico e etnográfico. Complexas e diversas, as práticas políticas, religiosas e culturais aqui documentadas abrem novas linhas de investigação sobre o Benim de ontem e de hoje, bem como sobre seus prolongamentos no Brasil.

DANIELA MOREAU nasceu no Rio de Janeiro, em 1957. Sobre a obra de Edmond Fortier, publicou também Viagem a Timbuktu (Literart, 2015). Coordena o projeto Acervo África (acervoafrica.org.br), em São Paulo.

LUIS NICOLAU PARÉS nasceu em Barcelona, em 1960. É autor de A formação do candomblé (editora da Unicamp, 2006) e O rei, o pai e a morte (Companhia das Letras, 2016). É professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia.