Família tenta criar ponto de memória no imóvel onde Marighella viveu

Carlinhos Marighella olha o imóvel que conheceu na infância e sonha com criação de espaço de referência.

Victor Uchôa

Em Salvador, a família do dirigente comunista Carlos Marighella tenta criar um espaço de referência na casa onde ele cresceu e iniciou a vida adulta

Até ser assassinado, ele foi o homem mais caçado pela polícia política da Ditadura Militar brasileira (1964-1985). Referência ideológica para nomes como o filósofo Jean-Paul Sartre, o pintor Joan Miró e os cineastas Luchino Visconti, Jean-Luc Godard e Glauber Rocha, tem suas obras estudadas até hoje na Academia Militar de Nanquim (China) e na sede da Agência de Inteligência Americana (CIA).

Neto de escravos e filho de uma negra com um imigrante italiano, ele militou pelo Comunismo por quase 40 anos, boa parte deles na clandestinidade. Foi investigado tanto pela CIA quanto pela KGB, a agência de inteligência russa.
Anistiado “post mortem” em 2012, amado por muitos e odiado por outros tantos, é preciso concordar numa questão sobre Carlos Marighella (1911-1969): no século XX, poucos baianos tiveram tanta projeção internacional quanto aquele mulato.

Depois de ganhar o mundo, Marighella quer voltar pra casa. Mais precisamente para a casa onde ficou por mais tempo nos seus 57 agitados anos de vida. Em ruínas, o imóvel onde o mecânico Augusto Marighella e a esposa Maria Rita criaram oito filhos sucumbiu ao tempo e ao descuido. 

Esquinado na Rua Barão de Desterro, transversal da Baixa dos Sapateiros que fica de frente para o também arruinado Cine Pax, resiste com uma fachada deteriorada e restos de telhas que nada protegem. Por dentro, é só mato.

“Marighella tem sua formação fincada na Baixa dos Sapateiros e aquela casa está em risco iminente de destruição. Deixar aquilo se destruir é um crime de lesa-história”, observa o jornalista Mário Magalhães, autor da biografia Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, lançada em 2012. 

Magalhães defende que, no imóvel, seja criado um espaço de preservação da memória de Carlos Marighella, que serviria como ponto de pesquisa da obra do homem que fez poesias, atuou na política legalmente e, quando acuado, tramou revoluções. Em posse de “centenas de quilos de documentos” reunidos ao longo de nove anos de apuração, o jornalista afirma que transfere todo o material para o espaço, se ele vier a ganhar forma.
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