O
Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB) – unidade vinculada à Fundação Pedro
Calmon/ Secretaria de Cultura do Estado, realizou, na quinta-feira (07/04), a
palestra “Digitalizando documentos ameaçados: os livros de notas da Bahia 1664
– 1889”, com objetivo de publicizar o andamento do projeto homônimo de
digitalização de 841 livros de notas que integram o acervo histórico da
unidade.
A
digitalização foi idealizada pelo professor e escritor, João José Reis, em
parceria com a Fundação Pedro Calmon e o Programa de Pós-Graduação em História
(PPGH) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), além de apoio da Biblioteca Britânica, mediante o
Endangered Archives Program (Programa Arquivos Ameaçados de Extinção). Coordenado pelo professor Urano Andrade, o
trabalho já digitalizou, até o momento, 302 livros, ou seja, 120 mil imagens,
capturadas a partir de publicações com média de 400 a 500 páginas.
Os
livros de notas são variados. Vão desde escrituras de fazenda, arrendamento,
trocas de bens, doação de patrimônios e transações comerciais, até registros de
testamentos, posse e troca de escravos. “A história dessas personagens [os
escravos] não poderiam ser contadas se não fosse a preservação desses
documentos por meio digital. Sem isso, eles seriam eternamente anônimos”, disse
o professor Andrade. As 450 mil imagens, no total do projeto, serão disponibilizadas
ao público em 2017, A diretora do APEB, Maria Tereza Matos, explicou que
"essa parceria com a UFBA, a Biblioteca Britânica e a Fundação Pedro
Calmon otimiza a digitalização desses documentos em risco e a palestra teve
como objetivo publicizar o andamento do projeto para a comunidade, explicar
como é feito o trabalho e a importância de fazê-lo".
Na
palestra, ministrada por Urano Andrade, foi mostrado o processo de captura de
imagens. A digitalização segue algumas regras da Biblioteca Britânica, dentre
elas, a utilização de uma câmara fotográfica DSLR, tripé 360º, obturador remoto
(captura as fotografias à distância) e deve-se usar a escala de cores RGB, para
que se conservem as cores naturais do arquivo. “É preciso muita atenção e
critério. Temos que verificar se há dobras, fragmentos, rasgões, a ordem das
páginas e verificar a qualidade das imagens após cada fotografia, e depois, ao
final de cada dia. O backup é feito em dois HDs externos, por questão de
segurança”, explicou Andrade.
Devido
ao tempo e à má conservação, nem todos os livros de notas poderão ser
digitalizados e se encontram em estado de degradação. O professor explicou que
“a principal dificuldade é que alguns estão muito frágeis devido ao tempo e a
falta de cuidados ao longo do tempo. O projeto não tem verba para materiais de
restauração de livros, que pode chegar a cerca de R$15 mil cada um”. “Esses
documentos são importantes para remontar a nossa história. Eles não podem ser
esquecidos e deve ser de acesso a todos”, disse o advogado Guilherme Reis,
presente na palestra. Já o estudante de História, Breno da Silva, destacou que:
“a tecnologia que temos hoje é suficiente para realizar ações desse tipo. Essa
digitalização é importante porque depois de publicadas, o mundo inteiro poderá
ter acesso aos documentos que estão apenas no Arquivo Público hoje”.
“A
próxima fase será mais dinâmica. Os livros são menores, possuem entre 50 e 150
páginas, e são bem menos fragilizados. Atualmente, com duas pessoas
trabalhando, digitalizamos dois livros por dia. Nessa próxima etapa, serão
cerca de dez por dia”, frisou urano Andrade.
Arquivo Público – Com 126 anos, o Arquivo
Público do Estado da Bahia (APEB), unidade da Fundação Pedro Calmon/Secretaria
de Cultura do Estado (FPC/SecultBA), é a segunda mais importante instituição
arquivística pública do país. Em seu extenso e rico patrimônio estão
custodiados documentos produzidos e acumulados no período colonial, monárquico
e republicano brasileiro, que são diariamente consultados por pesquisadores de
todo Brasil e de outros países. Um acervo organizado e estruturado desde 1890,
quando o então governador do Estado da Bahia, Manoel Victorino Pereira, por
meio de Ato, criou o Arquivo Público.
FONTE: