Historiador da Revolução Francesa, Robert Darnton anda emocionado com as
imagens e informações que chegam do Oriente Médio. "É o tipo de coisa
que faz o seu peito apertar, traz lágrimas aos olhos e faz você pensar
que a humanidade pode se regenerar."
O professor de Harvard vê neste 2011 ecos de 1789 e outros períodos
revolucionários --na rebelião contra a tirania e na reafirmação do que
chama de "possibilismo", espécie de explosão utópica que faz populações
acreditarem que são capazes de mudar regimes que antes pareciam
inamovíveis.
Testemunha da queda do Muro de Berlim, em 1989, Darnton adverte porém
que é cedo para chamar os eventos atuais de revoluções. "Vamos demorar a
saber se haverá uma mudança fundamental."
FOLHA - Observando os acontecimentos no Oriente Médio, o sr. diria que o lema da Revolução Francesa liberdade, igualdade, fraternidade está vivo?
ROBERT DARNTON - Bem, não tenho tanta certeza sobre a
fraternidade porque há mulheres envolvidas, e a palavra teria sentido
diferente hoje do que tinha no século 18. Tivemos o movimento de
liberação feminina, e está claro que esses protestos no Cairo e em
outros lugares não foram feitos só por homens.
Mas certamente liberdade e igualdade estão presentes, em especial a liberdade. O interessante é que a maioria dos protestos no mundo árabe se dirige contra o que é visto como tirania ou despotismo. Claro que as pessoas querem empregos e melhores condições de vida, mas parecem protestar especialmente contra os abusos e a corrupção do poder.
Isso é fascinante porque acho que era o que ocorria também no século 18. Segundo a interpretação marxista, a Revolução Francesa foi uma luta de classes [da burguesia contra a aristocracia feudal]. Havia conflitos de classe, claro, mas não acho que isso explique aquela revolução. Do mesmo modo, não acredito que explique o que está acontecendo no mundo árabe, mesmo que a pobreza seja um fator crucial.
Muito da minha pesquisa sobre a Revolução Francesa é revisionista no sentido de que mostro que o despotismo era o fator fundamental nas primeiras fases e mesmo durante o período do Terror [de execução em massa dos considerados contrarrevolucionários]. Esse é um dos aspectos em que encontro ecos de 1789 em 2011.
Mas certamente liberdade e igualdade estão presentes, em especial a liberdade. O interessante é que a maioria dos protestos no mundo árabe se dirige contra o que é visto como tirania ou despotismo. Claro que as pessoas querem empregos e melhores condições de vida, mas parecem protestar especialmente contra os abusos e a corrupção do poder.
Isso é fascinante porque acho que era o que ocorria também no século 18. Segundo a interpretação marxista, a Revolução Francesa foi uma luta de classes [da burguesia contra a aristocracia feudal]. Havia conflitos de classe, claro, mas não acho que isso explique aquela revolução. Do mesmo modo, não acredito que explique o que está acontecendo no mundo árabe, mesmo que a pobreza seja um fator crucial.
Muito da minha pesquisa sobre a Revolução Francesa é revisionista no sentido de que mostro que o despotismo era o fator fundamental nas primeiras fases e mesmo durante o período do Terror [de execução em massa dos considerados contrarrevolucionários]. Esse é um dos aspectos em que encontro ecos de 1789 em 2011.
Quando me refiro a fraternidade no caso, me refiro à humanidade, não só aos homens.
Acho que o seu entendimento é correto. A referência [no século 18] era às reivindicações universais de liberação. Nesse sentido, a fraternidade é ainda hoje relevante. Mas não acho que você encontrará pessoas usando essa palavra no mesmo sentido usado há 200 anos.
Acho que o seu entendimento é correto. A referência [no século 18] era às reivindicações universais de liberação. Nesse sentido, a fraternidade é ainda hoje relevante. Mas não acho que você encontrará pessoas usando essa palavra no mesmo sentido usado há 200 anos.
Leia entrevista na íntegra: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/884850-revoltas-arabes-ecoam-revolucao-francesa-diz-historiador.shtml