A Bahia de São Salvador de todos os santos e africanos

Investigações sobre o tráfico, redes de comércio e as sociedades da África Ocidental relevam identidades africanas na Bahia dos séculos XVII e XVIII
Cena de rua em Salvador (BA), feita no ano de 1900. A presença de negros africanos,
escravos libertos ou cativos, fazia-se notável. A cidade chegou a ser descrita como uma "Nova Guiné"
No século XVIII, os minas se tornaram a maioria dos escravos africanos em toda a Bahia. Sua presença, entretanto, fazia-se sentir com mais força em Salvador. De 612 escravos africanos relacionados nos inventários da primeira Assim como ocorreu com os africanos centro-ocidentais no século XVII, havia - no tocante aos africanos ocidentais - considerável diversidade étnica, com um universo variado de nações: benins, cachéus, couranas, cabo-verdes e são-tomés. Além disso, surgiam com maior freqüência moçambiques e mocorongos, africanos da África Oriental. Nessas classificações e denominações diversas, podemos encontrar termos que podem remeter para grupos étnicos do interior africano, como guiné calumbê e ozobenim. É também nesse período que aparecem os primeiros registros de africanos denominados nagôs (0,65%), nação africana que seria responsável, em 1835, pela Revolta dos Malês. Enfim, entre os séculos XVII e XVIII, localiza- se na Bahia a transição demográfica de natureza étnica da predominância de africanos centro-ocidentais (especialmente angolas, congos, massanganos e matambas) para aqueles africanos ocidentais (jejes, nagôs, tapas e bornu). Na segunda metade do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, os africanos ocidentais vieram a conformar definitivamente o perfil étnico e cultural da população africana urbana, deixando marcas indeléveis em Salvador até nossos dias.
CARLOS FRANCISCO DA SILVA JÚNIOR é aluno de Mestrado em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA).