O governo brasileiro anunciou, em 1912, uma medida inédita: protelou de fevereiro para abril as
comemorações carnavalescas por luto nacional. É que, na véspera da tradicional festa, morria José Maria Paranhos da Silva
Junior, o Barão do Rio Branco, diplomata tido como um dos “santos de nossa nacionalidade”. Mas o
povo não desperdiçou a ocasião e brincou o carnaval nas duas datas.
Esse
episódio inusitado, que mistura diplomacia e festa popular, enseja a
profícua reflexão que o novo livro de Luís Cláudio Villafañe G. Santos
nos apresenta. O legado do Barão do Rio Branco é o mote para uma
sofisticada análise sobre a ideia de Brasil e de nação a partir da
influência da política externa.
Tema
caro às Ciências Sociais, a nacionalidade revela-se nesta obra como uma
construção multifacetada. O autor percorre a história brasileira do
século XIX aos dias atuais e mescla, com densidade, referências
ecléticas, que vão das raízes dos nossos “símbolos” culturais – os
bailes de Carnaval e o futebol – ao constante diálogo com as questões
geopolíticas.
Nessa
trajetória, Villafañe ressalta o papel do nacionalismo e do território;
daí a importância do Barão do Rio Branco e de sua atuação na
consolidação das fronteiras nacionais. Nas palavras do autor: “Ainda
hoje, a
referência ao que seriam as diretrizes do Barão permanece um dos eixos
inevitáveis da retórica sobre a política externa do país. A legitimação
de muitas escolhas políticas continua a passar pela sacralização que lhe
confere uma suposta origem nas ideias e práticas de Rio
Branco”. Tecendo sofisticados
elos entre política e cultura, O
Dia em que Adiaram o
Carnaval constitui-se, assim, como referência fundamental para quem
procura entender as intricadas vinculações da identidade nacional com
as relações exteriores brasileiras.
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