RIO - Duas semanas à frente da
Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição tradicional situada no bairro de
Botafogo, no Rio, foram suficientes para que o historiador capixaba Manolo
Florentino, de 54 anos, radiografasse o espaço e decidisse quais serão seus
primeiros passos. Sentado no gabinete que até o início do ano era ocupado pelo
cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, Florentino anuncia:
— Vou transformar a Casa de Rui
Barbosa num produto, numa marca forte. Além disso, vou dar aos servidores a
oportunidade de crescer. Vou trazer a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior) para cá e montar mestrados profissionais. Eles
serão os professores.
Para dar fôlego à transformação
da Casa de Rui em “produto”, Florentino convocou para assumir a diretoria
executiva da entidade o engenheiro carioca Paulo Werneck, especialista em
administração pública. Juntos, acertaram que “até meados do ano” vão contratar
(por licitação) uma empresa de comunicação e marketing para “trabalhar a imagem
da casa e capilarizar seu relacionamento com a sociedade”.
— O primeiro nó a ser desatado
aqui é dar visibilidade ao que é feito — diz Florentino. — Temos que criar
mecanismos para que tudo que é produzido chegue à sociedade. Só assim alcançaremos
a inclusão de que a ministra Marta Suplicy (Cultura) tanto falou ao me chamar
para assumir esse cargo. Uma empresa de comunicação vai ajudar muito nisso.
Na opinião de Florentino, a
Casa de Rui Barbosa “anda muito ensimesmada”e “produzindo para consumo
próprio”.
— E não pode mais ser assim —
afirma, taxativo.
Nos últimos dias, Werneck
começou a redigir os termos da licitação que levará a contratação dos futuros
marqueteiros da Casa de Rui Barbosa.
— Fiz uma lista confidencial
com instituições análogas à Casa de Rui que são conhecidas por vender bem seus
produtos culturais — conta o novo diretor executivo. — É nelas que vamos nos
espelhar.
No que diz respeito à criação
dos mestrados profissionais, o capixaba diz que essa é a forma mais adequada
para conectar os pesquisadores com a sociedade e de passar adiante o
conhecimento.
— Ontem (segunda-feira)
anunciei a criação do mestrado profissional aqui dentro. Vamos ver como
repercute. Mas a falta da docência institucionalizada significa a
impossibilidade de montar redes profissionais — defende Florentino. —
Transformar os servidores em professores é fazer com que eles cresçam.
Segundo Florentino e Werneck,
ainda é cedo para listar os cursos, mas a ideia é que eles aconteçam tanto no
centro de memória, com temas como restauração, como no de pesquisa, com aulas
de filologia ou história.
De acordo com a dupla, os
mestrados profissionais deverão ser gratuitos e,abertos ao grande público,
começando em 2014. Uma vez implantados, eles darão passagem ao estabelecimento
de mestrados strictu senso e doutorados.
— Quanto ao local das aulas,
que seria um problema, já que sofremos de falta de espaço, digo que elas
poderão ser ministradas em salas alugadas ou emprestadas por universidades
através de convênios — se antecipa Florentino. — Já conversamos com o pessoal
da UniRio, da UFRJ e da FioCruz.
‘Fui muito bem recebido’
Ainda no pacote de novidades, o
presidente da Casa de Rui anuncia para agosto o primeiro grande evento de sua
gestão. Por três dias, a instituição será sede de um congresso de história
comparada entre Brasil e Argentina com mais de dez especialistas.
— Vai ser um evento grande,
para mostrar que a Casa de Rui vai mesmo fazer barulho. Será uma espécie de
batida de tambor para anunciar o tipo de evento que vamos abrigar.
Ciente de que seus antecessores
— Wanderley Guilherme dos Santos e Emir Sader — enfrentaram problemas com os
servidores, em sua primeira entrevista, Florentino fez questão de destacar que
“foi muito bem recebido” e que encontrou “um alto grau de profissionalismo e
dedicação”.
— Apesar da falta de pessoal,
há uma dedicação que extrapola e emociona qualquer gestor. Daqui saem tesouros.
E, para ilustrar o que diz,
mostrou o CD “Vocabulário histórico-cronológico do português medieval”,
compêndio que demorou 15 anos para ficar pronto e que será levado a Portugal
pela ministra Marta.
— São pérolas como esta que têm
que estar mais acessíveis à sociedade.