Correio do Brasil, Bahia, sexta-feira, 6 de maio de 1904
Mentiras
Oficiais
Em se
lendo a Mensagem do Sr. Dr. Severino Vieira, não se estando prevenido, há de se
supor que as repartições públicas andam aqui da melhor forma, constituindo
verdadeiros tipos ideias no gênero.
Entretanto,
é justamente o contrário que se observa na re realidade, quando se percorre as
salas desses velhos casarões, onde muitas vezes falta até o asseio exterior do
edifício: no interior os trabalhos são, não raro, mal feitos e mal organizados.
Uma
delas, então, existe que está de fato na mais completa das penúrias, quer se
cogite do aposento que ocupa, quer se considere a ordem, a organização do
trabalho que nela se executa: é o Arquivo Público.
Já uma feita nos ocupamos do deplorável estado em que se acha essa repartição, aliás
de tamanha importância, e onde tudo falta, tudo, desde a remessa regular e metódica
dos papeis das diversas Secretarias do Estado, até a penúria de estantes para
acolherem esses papeis, até a ausência de telhado correto para protegê-los das
chuvas; ora, nem uma palavra se encontra na mensagem referente a esse
deplorável estado de miséria, como se nada valesse aquela repartição, jogada a
um canto do edifício da Escola de Belas Artes, qual traste inútil; nada disso
fez com que o governo julgasse dever chamar para o caso a atenção dos senhores
legisladores da Bahia...
Demais,
julgamos que tem sua excelência razão: para quem governa do modo por que sua
excelência governou, mais convém que não exista arquivo de espécie alguma, pois
assim morrerá em pouco tempo a memória do vândalo que assolou moralmente a sua
própria pátria.
Fonte: memoria.bn.br