ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
PEDRO SOARES
Olhando
apenas para a atividade econômica, o município de São Desidério parece
uma ilha de prosperidade no extremo oeste da Bahia.
A intensiva produção de algodão, soja e milho faz a cidade, de 28 mil
habitantes, se orgulhar de ter a segunda maior produção agropecuária do
país, e o 112º PIB per capita (soma de bens e serviços produzidos,
dividida pelo total de habitantes) entre os 5.564 municípios
brasileiros.
Essa aparente riqueza, no entanto, não se traduz em bons indicadores sociais.
Tal
contradição se repete em municípios onde a riqueza é gerada por
empreendimentos industriais ou lavouras de exportação que concentram
renda e criam relativamente poucos empregos.
Antônio Serra, 75, mora em uma casa de taipa em Porto de Brotas, comunidade de São Francisco do Conde (BA)
Daniel Marenco/Folhapress
Comparando o PIB per capita, o município
está entre os 2% mais ricos do país. Analisando a miséria, figura entre
os 20% mais pobres.
Uma análise feita pela Folha nos
indicadores sociais dos 200 municípios de maior PIB per capita mostra
que São Desidério não é um caso isolado. Em 30 dessas cidades, a
proporção de brasileiros vivendo com menos de R$ 70 per capita fica
acima da média nacional, de 9,6%.
A maioria desses municípios é de pequeno
porte, mas concentra grandes empreendimentos, o que explica que o PIB
per capita seja elevado.
Entre as
características mais comuns deste grupo estão atividades ligadas à
indústria de petróleo (dez casos), cultivo de soja ou grãos (oito) e
hidrelétricas (cinco).
Segundo Júlio Miragaya, economista do Conselho Federal de Economia, essas atividades geram muita riqueza, mas empregam pouco.
José
Ribeiro, economista e demógrafo da OIT (Organização Internacional do
Trabalho), concorda: "É importante desmistificar a ideia dos grandes
empreendimentos como agentes exclusivos do desenvolvimento".
Sheila Zani, responsável pelo cálculo do PIB
municipal do IBGE, faz outra ponderação: nem sempre a riqueza gerada é
absorvida pela cidade. "Muitos dos empregados mais qualificados moram em
grandes centros, onde a é renda absorvida."
Se não há necessariamente geração de emprego
local, algumas dessas cidades ao menos deveriam se beneficiar de
arrecadação maior. "Mas a gestão municipal não consegue reverter o
montante expressivo de impostos na melhoria das condições de vida", diz
Ribeiro, da OIT.
Em São Desidério, é fácil entender por que o
PIB não se traduz em bem-estar. Há grandes fazendas com lavouras
mecanizadas. Os donos moram em outras cidades e chegam de avião. A
riqueza fica na mão de poucos e vai para fora da cidade.
ACESSE A FONTE: