O TUTU DA BAHIA


Pode um sonho verdadeiro sumir da face da terra sem deixar vestígio? Então o que foi feito dos sonhos e idéias libertárias da velha Bahia após a derrota da Sabinada, no dia 16 de março de 1838? E, a partir daí, pelas próximas décadas, teríamos mesmo um período de pura conformidade, como pensou a historiografia tradicional? Eis, em síntese, os questionamentos iniciais, as perguntas básicas de pesquisa que deram origem a este surpreendente O tutu da Bahia; transição conservadora e formação da nação, 1838-1950.. Trabalho sério e meticuloso, porque o pesquisador, depois de levantar uma cuidadosa lista com mais de seiscentos nomes de pessoas que participaram de revoltas, inicia uma aventura intelectual detetivesca atrás de cada “suspeito”, como quem procura agulha em palheiro, para descobrir simplesmente o que foi feito dos velhos revolucionários e suas idéias, crenças e sonhos depois da derrota de 1838. E com isso, penetrar profundamente na mentalidade e no cotidiano do período. Onde todos víamos apenas paz e progresso relativos, o pesquisador enxergou conflito básico de idéias, movimento oculto, efervescência e vida.. Trata-se de uma pesquisa minuciosa e precisa, portanto, onde o historiador sai em busca não apenas dos chamados “grandes homens”, as lideranças mais conhecidas e visíveis, como o mulato (a expressão é da época) ou negro (a expressão é de hoje) Dr. Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, mas busca também as sempre esquecidas lideranças intermediárias, homens e mulheres do povo comum da cidade de Salvador da Bahia. O resultado é uma pesquisa surpreendente e inovadora em seu propósito de estudar não os vencedores, mas os derrotados. E não apenas os momentos de pico da luta e resistência, mas no decorrer da vida, nos momentos de coerência e verdade existencial. Não os “grandes nomes” e “grandes momentos” da história, mas o povo comum e o cotidiano nosso de cada dia.. Não encontraremos, nas páginas que seguem, nem a idéia de constante pureza revolucionária, nem de calmaria paralisante. O que Dilton Araújo nos apresenta são trajetórias humanas reais, carne e sangue da história, com tudo de grande, frágil e duvidoso que pode comportar a existência humana. Um livro bem pensado e bem escrito; uma pesquisa nova e reveladora.
Lançamento do livro O Tutu da Bahia: transição conservadora e formação da nação 1830 – 1850, escrito por Dilton Oliveira de AraújoQuando: 09 de junho de 2009, terça-feira.Onde: Museu de Arte Sacra daUniversidade Federal da BahiaRua do Sodré, s/n. Centro.Tel: (71) 3243-6511Horário: Às 18 horas.