Não é sedutora esta vista
romântica e atemporal? Lhe convido a
conhecer as seduções, mas
também os dramas quotidianos do Arquivo Público da Bahia.
Para início de conversa, a
escolha da Quinta do Tanque para abrigar o Arquivo Público, hoje sob a batuta
da Fundação Pedro Calmon, não podia ser mais errada, pelo simples fato do
belíssimo edifício do século XVIII ter sido construído numa bacia. Rodeado de
morros, recebe as águas de todas as chuvas, conservando uma inadequada umidade
durante o ano inteiro, agravado pela ameaça de deslizamento de encostas, como
ocorreu há pouco tempo.
Infelizmente lhe será difícil
desfrutar sem restrição da vista de tão elegante edifício, já que as
autoridades – Prefeitura? Iphan? Ipac? – nunca fiscalizaram o entorno da Quinta
e hoje, quem chega é logo agredido pela poluição visual de construções mal
equilibradas e sem acabamentos que dominam os antigos telhados pombalinos. Ora,
é de conhecimento de todos os que estão envolvidos com patrimônio material, que
o entorno faz parte de qualquer monumento tombado. Ou você acha que, junto ao
sitio do Machu Pichu ou em Veneza, iriam permitir um espigão ou uma favela?
Desde o dia 10 de fevereiro de
2010, as arcadas que formam o pátio, com discreto toque francês, são palco de
uma curiosa animação. São funcionários da casa que trabalham na restauração e
conservação dos preciosos livros e documentos. Por que fora das salas
especialmente concebidas para esta tarefa? Por que foi neste dia que faltou
eletricidade na maior parte do solar e até hoje o problema não foi solucionado.
Já se passaram três anos...
Quem passeia na agradável
sombra do corredor externo, ao levantar os olhos, poderá constatar enormes
buracos, abertos, supõe-se, por profissionais cientes da complexidade da
intervenção, com o lógico acompanhamento de responsáveis.
Não havia possibilidade de outras soluções?
A imprensa nacional já
denunciou este escabroso abandono. Não devemos esquecer que nestes muros,
grande parte da memória do Brasil está conservada, com enormes dificuldades,
por uns 40 funcionários -contando efetivos, ou seja, funcionário públicos, mais
os estagiários e outros - dedicados e entristecidos. Aqui podem consultar
preciosidades como o conjunto documental do Tribunal da Relação do Estado
do Brasil, atual Tribunal de Justiça. Só nesta coleção estão reunidos
cerca de 60.000 documentos produzidos entre 1652 e 1822, como termos de posse
de desembargadores, processos e sentenças judiciais. A partir desses registros,
os pesquisadores têm reconstituído aspectos de nossa burocracia e da sociedade
colonial.
Acompanhe essa triste História: