RESUMO: Neste trabalho,
verificamos os discursos sobre a cidade do Salvador que são retomados por Pedro
Calmon e, sob o efeito de paráfrase, regularizados nos enunciados de sua
obra A bala de ouro: história de um crime romântico. Para tornar possível
a análise, fizemos um recorte da referida obra e seguimos as orientações
postuladas pelos procedimentos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso
que se desenvolveram, a partir de 1969, com Michel Pêcheux e seus desdobramos
posteriores no Brasil, com Eni Orlandi, e na França, com Jean Jacques Courtine.
Consideramos que a linguagem enquanto discurso é interação social, é reprodução
das relações de produção, ou seja, as condições sócio-históricas de um texto,
que se encontram na exterioridade do sistema linguístico, atuam como memória
discursiva na constituição da significação. No processo de constituição
de sentidos, a memória discursiva seleciona os enunciados que podem e devem se
inscrever em uma determinada formação discursiva. Seguindo essa orientação, na
análise de trechos da obra, consideramos como matriz de sentidos os discursos
dos viajantes (do século XIX) sobre a cidade do Salvador, que em uma teia
discursiva se remetem ao “sempre-já-lá” da interpelação ideológica, ao discurso
fundador do Brasil, à Carta de Caminha. Entendemos que ao repetir a formação
discursiva que se diz universal, Calmon procura reconstituir a memória social
dominante da cidade do Salvador, valendo-se para isso das formações imaginárias
de uma cidade fundada nos moldes portugueses, portanto, respaldada na tradição,
mas que no tempo histórico da narrativa (1847) tem como formação discursiva
antagônica as formações imaginárias impressas pela modernidade que se anuncia.
Diante dessas formações discursivas postas em conflito, concluímos que Calmon
segue uma orientação sociológica, que vai privilegiar a sociedade baiana
enquanto região social, natural e singular.
Palavras-chave: Análise do
Discurso; Cidade do Salvador; Formação Discursiva; Memória discursiva.