Cipó,
Freguesia de Assú da Torre, 15 de dezembro de 1877
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor Doutor Chefe de Polícia
Os
habitantes deste arraial vêm expor a Vossa Excelência um crime horroroso que
aqui se está praticando, com o consentimento das autoridades policiais. Um
indivíduo de nome João Gonçalves Menezes está, no lugar denominado Frutas,
barbaramente surrando um infeliz escravo de nome Alexandre, de cor mulato, e o
vai meter, além de surrado, conforme disse o bárbaro senhor, em ferros, por
causa muito fútil. Como, é Excelentíssimo Senhor, que se comete tal
barbaridade, em vista da lei que nos rege? O indivíduo João Gonçalves é mais contra
parente e íntimo amigo do senhor Delegado da Polícia deste termo, bem como do
atual Subdelegado deste infeliz arraial o senhor João Alves do Nascimento, que
é lento de mais, e por isso é infrutífero se Vossa Excelência pedir informações
destas autoridades, que são coniventes neste crime horrendo, pois o senhor
Delegado tem de presente, bois e novilhos para encobrir os desmandos de seu
contraparente. Condoendo-nos da sorte deste infeliz, é que viemos em nome da
lei ultrajada pedir a Vossa Excelência que mande vir à vítima a sua respeitável
presença para certifica-se da nossa verdade. O Subdelegado é tão conivente que
viu nesta semana, aqui a vítima, que foi interrogada por ter fugido, por não
querer servir a um tal desumano, por cuja causa está surrado e talvez já
carregado de ferros, e metido num tronco, dando-lhe comida de 2 em 2 dias. Esta é a verdade, que será
verificada com a presença de Vossa Excelência, a quem pedimos justiça, para
desabafo da lei, que é ultrajada.
Deus
guarde a Vossa Excelência, Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor Doutor Chefe de
Polícia desta Província. Os habitantes do Cipó.
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia
Seção Colonial / Maço: 2970