Arquivo Público de São Paulo inicia processo de restauro do jornal abolicionista ‘A Redempção’


Exemplares de 1887 e 1888 vieram do IHGSP, fragilizados e em pedaços. Montagem dos fragmentos durou cerca de um mês
A equipe técnica do Núcleo de Conservação do Arquivo Público do Estado de São Paulo iniciou o tratamento de restauro dos únicos exemplares conhecidos do jornal abolicionista ‘A Redempção’. O jornal era impresso em uma tipografia localizada na Confraria da Nossa Senhora dos Remédios, da qual o redator chefe, Dr. Antônio Bento, foi provedor.
Ele liderava o movimento abolicionista dos ‘caifazes’, grupo clandestino que promovia ações de resgate de escravos, escondendo e contrabandeando-os para lugares mais seguros, com o quilombo do Jabaquara, em Santos. O grupo tinha centenas de participantes, de todas as classes sociais.
O jornal circulou em São Paulo de 2 de janeiro de 1887 até a promulgação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. ‘A Redempção’ foi um jornal combativo, de cunho manifestamente popular, sempre repleto de ataques a fazendeiros, políticos e a outros jornais que defendiam a instituição escravista. Pelo seu papel na luta contra os escravocratas, o periódico tornou-se uma fonte valiosa para os historiadores e ferramenta para a pesquisa do processo de abolição em São Paulo. Ainda assim, devido a sua raridade e precariedade, o jornal permanece pouco estudado.
Os exemplares sob a guarda do Arquivo Público do Estado vieram do IHGSP (Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo), fragilizados e em pedaços. O trabalho de montagem dos fragmentos do jornal consumiu um mês de trabalho contínuo, com a ajuda de pinças e cópias de microfilme dos exemplares existentes na Biblioteca Lamont da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Nesse trabalho descobriu-se sete exemplares que se imaginavam perdidos, formando uma coleção de 132 números do jornal. Pelo que se conhece, foram editados no período 138 edições.
O trabalho que está sendo feito nos exemplares do ‘A Redempção’ precisa passar ainda por um banho para diminuir a acidez do papel e, posteriormente, de pequenos reparos e velatura, utilizando folhas de papel japonês. Após o restauro, os exemplares serão digitalizados em alta resolução e disponibilizados ao público nas páginas do site do Arquivo Público.

A apresentação do periódico contará com textos da professora Dra. Maria Helena Machado, da USP, especialista do tema da Abolição e de Alexandre Otsuka, que vem estudando essa fonte excepcional para a história do movimento abolicionistas no Brasil.