TRISTE SITUAÇÃO DOS ARQUIVOS HISTÓRICOS PELO BRASIL



Umidade, variação de temperatura e instalações elétricas precárias são os fantasmas que assombram arquivos e bibliotecas do país. Isso sem falar em furtos ou desastres naturais que não podem ser controlados pelo homem. No Brasil, a lista de temores ainda é agravada pelos baixos investimentos do Estado na salvaguarda do patrimônio documental: por aqui, a ausência de um orçamento fixo destinado à conservação de instituições de memória faz com que o dinheiro público tenha outras prioridades diante dos demais problemas. Na maioria das vezes, a política de prevenção de riscos se atrapalha na burocracia e dá lugar à perigosa (porém oportuna) gambiarra.
Mas, às vezes, alguns esforços surtem efeito e causam surpresa. Esse é o caso do Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp), cuja nova sede foi inaugurada nesta semana.  O prédio e as outras reformas estruturais em dois dos três blocos das antigas instalações receberam o investimento de quase R$ 90 milhões. Tudo ficou pronto em três anos e as dependências agora possuem uma tecnologia ideal de conservação de documentos, prevenção e combate de incêndios e sistema antirroubo. O edifício de dez andares (sendo cinco com pé direito duplo) e 23,4 mil m² de área tem a capacidade de armazenar 70 km lineares de papel e conta com anfiteatro, salas de aula, biblioteca, laboratórios de restauração de documentos históricos e iconográficos e um hall de exposições.
O historiador Carlos Bacellar, coordenador do Apesp, diz que o isolamento térmico interno do novo prédio, geralmente utilizado em câmaras frigoríficas, foi posto em prática pela primeira vez em um arquivo. E se entusiasma: "Com toda essa infraestrutura, estaremos garantindo a guarda da memória de São Paulo em condições ideais". Ele conta que as novas instalações abrem as portas da instituição para receber um novo material. “Agora temos um programa de gestão documental itinerante. Fomos a todas as secretarias de estado identificar toda a documentação produzida antes de 1940. Por um decreto estadual, isso é guarda permanente. Identificamos tudo e agora vamos começar a recolher”.
Bacellar é categórico quanto aos maiores problemas enfrentados por arquivos brasileiros: sedes antigas que carecem de manutenção. “Acham, em geral, que qualquer prediozinho velho se adapta. E não é assim. A maior parte dos arquivos sofre com instalações precárias. Além disso, há a falta de pessoal. Não há equipes dimensionadas para o tamanho das instituições do país. A falta de recursos também agrava a situação. É muito delicado”. O historiador chama atenção para as atuais condições do Arquivo Público da Bahia e do Pará.