Em 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador foi cenário da maior revolta política social da história, conhecida como Revolta dos Búzios.
Como resultado, os soldados Lucas Dantas de Amorim Torres e Luís
Gonzaga das Virgens e Veiga e os alfaiates Manoel Faustino Santos Lira e
João de Deus do Nascimento foram enforcados e esquartejados como
revoltosos. Agora, mais de 200 anos depois, os quatro líderes são
aclamados como Heróis Negros da nação brasileira e
homenageados pela Fundação Pedro Calmon/SecultBA, na próxima sexta-feira
(12), a partir das 15h, no Centro de Salvador.
Caminhada - Saindo do local onde os heróis foram enforcados,
Praça da Piedade, até o Palácio Rio Branco, Praça Municipal, às 15h, uma
caminhada será animada por grupos culturais, a exemplo dos jovens da
Escola Criativa do Olodum, e pela banda Tambores da Raça, comandada pelo
cantor e compositor Adailton Poesia: “Fico feliz que o Brasil tenha
reconhecido o significado desses heróis exaltados há bastante tempo nas
letras e canções dos blocos afro por terem lutado pela igualdade,
liberdade e fraternidade”, exclama o artista.
Já no Palácio, às 17h, acontece a conferência Revolta dos Búzios: Heróis Negros do Brasil,
com Ubiratan Castro de Araújo, diretor geral da Fundação Pedro
Calmon/SecultBA, Patrícia Valim, doutoranda em História pela
Universidade de São Paulo (USP), e João Jorge Rodrigues, mestre em
direito e presidente do Grupo Cultural Olodum. Na ocasião, os convidados
debaterão a importância de exaltar a memória dos líderes negros. “Este é
um momento importante, pois celebra o reconhecimento de um processo que
foi construído ao longo dos muitos anos, pelas historias e versos
cantados pelos blocos afro”, afirma a Ministra da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros. Ela
ainda complementa que “com a inscrição dos líderes de Búzios no livro
dos heróis nacionais, acontece o encontro da história oficial com a
história sempre contada e lembrada pela cultura popular”.
Logo em seguida a Fundação Pedro Calmon/SecultBA lançará a cartilha Heróis Negros do Brasil
com textos e documentos históricos sobre a revolta. A publicação também
traz biografias dos líderes. O lançamento acontece simultaneamente à
abertura da exposição interativa Revolta dos Búzios, Heróis Negros do Brasil,
que finaliza as atividades programadas para sexta-feira, no Palácio.
Documentos textuais, manuscritos, biografias dos heróis e réplicas dos
“boletins sediciosos” afixados nas ruas de Salvador pelos líderes do
movimento e livros raros sobre a temática estarão disponíveis à
visitação até domingo (14).
Precursores - O historiador Ubiratan Castro de Araújo também
destaca o papel dos precursores baianos na luta pela liberdade. “Os
quatro mártires negros da Revolta dos Búzios representam os
milhares de homens e mulheres pobres e escravizados que lutaram pela
liberdade da Bahia. Mesmo condenados e enforcados na Praça da Piedade,
em 8 de novembro de 1799, seus ideais continuaram vivos e ressurgiram em
1822-1823, nas lutas pela independência do Brasil”, ressalta.
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