Professor Ricardo Barros Sayeg*
No
próximo dia 7 de setembro comemoraremos a independência do Brasil. Essa data é
muito importante para o povo do nosso país, mas poucos cidadãos sabem o que de
fato aconteceu naquele longínquo 1822. Existem muitos mitos sobre a
independência brasileira, alimentados pela mídia ou pelo senso comum.
O
primeiro deles é que a independência foi um fato isolado, um acontecimento
heróico, que teve na liderança de Dom Pedro a razão principal de sua
existência. Muitos se esquecem de localizar a independência do Brasil como mais
um capítulo da crise do Antigo Regime europeu e do antigo sistema colonial.
Muitos países latinos americanos já haviam obtido a independência naqueles
tempos. Além disso, desde o século XVIII, ocorriam diversas revoltas contra a
metrópole portuguesa no Brasil, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração
Baiana, que colocavam em xeque o poderio português na sua colônia
americana.
Antes
mesmo da chegada da corte portuguesa, em 1808, já se pensava na emancipação de
nosso país. Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal
e Algarves, e esse fato político, por si só, determinava uma nova condição para
o país. Seguindo esse viés, o ano de 1822 foi uma etapa natural do processo de
independência de uma nação submetida ao jugo de um povo europeu.
Talvez
essa visão heróica dos acontecimentos que envolveram o 7 de setembro tenha sido
eternizada pela pintura de Pedro Américo: Independência ou Morte,
exposta no Museu Paulista. O quadro nos mostra a figura de Dom Pedro ao centro,
num ato bravo, declarando nossa emancipação política. Entretanto, é por vezes
desconsiderado o fato de que o quadro foi uma encomenda do Imperador Pedro II,
que queria eternizar aquele momento-chave para a história brasileira. Dizem que
Pedro Américo teria se inspirado em Ernest Meissonier, o que era comum aos
pintores da época. O quadro de Pedro Américo é quase uma cópia de Napoleão
III na Batalha de Solferino.
O
segundo mito sobre a independência brasileira é o de que ela teria alterado
muitas das características políticas, econômicas e sociais existentes na época.
Isso não é verdade. A independência serviu para consolidar o modelo monárquico,
no qual o chefe de estado e de governo era o filho do rei português. Além
disso, consolidou um modelo agroexportador, baseado na mão de obra escrava
negra, que resultava numa sociedade desigual, altamente concentradora de riquezas.
O
terceiro mito é o de que não houve nenhuma participação popular no processo de
independência. Isso também não é verdade. Houve guerras sim, em várias partes
do país. Em províncias distantes do centro sul do Brasil, como Bahia,
Cisplatina, Grão-Pará e Maranhão, os conflitos foram intensos e houve muitas
mortes, devido ao fato de o governo português se envolver diretamente no
conflito ou contratar mercenários para realizar as guerras em seu nome.
Enfim,
o 7 de setembro se aproxima e devemos utilizar essa data para pensar em nossa
nacionalidade, naquilo que produzimos de positivo para o mundo, mas também nos
nossos problemas e lutar para solucioná-los a fim de deixarmos um país mais
digno e honesto para as futuras gerações. As eleições virão logo em seguida e
essa é uma oportunidade magnífica para elegermos aqueles que de fato se
comprometem para a construção de um excelente país para todos os brasileiros.
*Ricardo Barros é professor de História do Colégio
Paulista (COPI). Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo. Formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.