O início de tudo
25 de junho de 1822. Reunidos
na Câmara Municipal de Cachoeira, Antônio de Cerqueira Lima, José Garcia
Pacheco de Aragão, Antônio de Castro Lima, Joaquim Pedreira do Couto Ferraz,
Rodrigo Antônio Falcão Brandão, José Fiúza de Almeida e Francisco Gê Acaiaba de
Montezuma anunciam o resultado da consulta feita ao povo, se concordava que se
proclamasse dom Pedro de Alcântara regente constitucional e defensor perpétuo
do Brasil. Mesmo sob ameaça de uma escuna militar portuguesa, fundeada no Rio
Paraguaçu, a resposta foi “Sim!”.
Na comemoração, o povo foi alvo de tiros vindos da casa de um português e da
escuna. Os cachoeiranos proclamam uma Junta Conciliatória e de Defesa para
governo da cidade. O primeiro combate foi pela tomada da embarcação, que,
cercada, resistiu até a captura e prisão dos sobreviventes (28 de junho).
As vilas do Recôncavo e algumas localidades do Sertão vão aos poucos aderindo.
Posições estratégicas são tomadas nas ilhas, em Pirajá e Cabrito. Itaparica,
que já aderira, é bombardeada. Em Cachoeira, é organizado um novo governo para
comandar a resistência, a 22 de setembro de 1822, sob a presidência de Miguel
Calmon du Pin e Almeida.
Em outubro de 1822, chega do Rio de Janeiro o primeiro reforço efetivo. Sob o
comando do general francês Pedro Labatut, a tropa foi impedida de desembarcar,
indo aportar em Maceió (AL), de onde veio por terra, conseguindo arregimentar
mais soldados.
A independência no sentimento popular
A partir da Conjuração Baiana
de 1799, o sentimento de independência ficou arraigado no povo. A Revolução do
Porto, em Portugal, em 1820, teve repercussão na Bahia. Em fevereiro de 1821,
uma conspiração constitucionalista começa em Salvador, com a participação de
Cipriano Barata.
Os conspiradores queriam, como em Portugal, uma Constituição que limitasse o
poder real. Os revoltosos forçam a renúncia do governador, conde da Palma, que
era apoiado pelo então coronel Inácio Luís Madeira de Melo. Uma Junta
Governativa foi constituída por brasileiros e portugueses.
A 12 de novembro de 1821, soldados portugueses saíram pelas ruas, atacando
soldados brasileiros, num confronto corporal na Praça da Piedade, com feridos e
mortos.
Em 31 de janeiro de 1822, uma nova Junta Governativa foi eleita e em 11 de
fevereiro chegou a notícia da nomeação de Madeira de Melo, comandante das Armas
da província, destituindo o brigadeiro Manuel Pedro, que fortalecera os
nativos.
Joana Angélica, primeira mártir
A 18 de fevereiro de 1822,
reúne-se um conselho de vereadores, juízes e Junta Governativa para dirimir a
questão da posse. Como solução foi proposta uma Junta Militar, sob a
presidência de Madeira de Melo.
Na madrugada de 19 de fevereiro, acontecem os primeiros tiros, no Forte de São
Pedro, para onde acorreram as tropas portuguesas, vindas do Forte de São Bento.
Confrontos violentos ocorreram nas Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora.
Os portugueses tomaram o quartel onde se reunia o 1º Batalhão da Infantaria. Os
soldados lusitanos atacaram casas, pessoas e invadiram o Convento da Lapa,
assassinando a abadessa sóror Joana Angélica.
Madeira de Melo se preparou para bombardear o Forte de São Pedro. No dia
seguinte, o forte se rendeu. O brigadeiro Manuel Pedro foi preso e enviado a
Lisboa. A 2 de março de 1822, Madeira de Melo finalmente prestou juramento perante
a Câmara de Vereadores.
A Batalha de Pirajá
Diante da derrota, as tropas
baianas recuaram para o Recôncavo. A partir de então, começou o cerco a
Salvador, onde se concentravam os militares e os comerciantes portugueses.
Em 8 de novembro de 1822, trava-se em Pirajá uma das batalhas mais violentas da
libertação da Bahia, e Madeira de Melo é forçado a recuar. Depois desse
desastre e da derrota em Itaparica, o exército português não pôde renovar
reforços para ir além da capital.
Nos primeiros meses de 1823, a situação de Salvador deteriorou muito. Sem
alimentos, as doenças matavam cada vez mais e cerca de 10 mil pessoas deixaram
a cidade.
Em maio de 1823, chegou à costa da província a esquadra comandada por Thomas
Cochrane, para participar do bloqueio marítimo à capital. Madeira se rendeu em
2 de julho de 1823.
O 2 de Julho no imaginário
popular
Segundo o historiador Luís
Henrique Dias Tavares, autor do livro Independência do Brasil na Bahia, o 2 de
Julho é uma construção de muitos anos no imaginário popular.
“Em 2 de julho de 1823, a única coisa que a Bahia tem é justamente o 2 de julho
de 1823. Naquele quadro, que na época não se pode chamar de nacional
brasileiro, pois o Brasil verdadeiramente não existe ainda (...), a Bahia está
sem nada. E é daí que os baianos orgulhosamente construíram o 2 de Julho de
1823 como uma data da independência, que era da Bahia, mas que era também, e
muito, do Brasil”, afirma o historiador.
Entre os equívocos do 2 de Julho, Dias Tavares destaca as homenagens ao general
Labatut. “Foram os brasileiros que de fato libertaram a cidade do Salvador de
armas nas mãos. Primeiro foram os brasileiros de Santo Amaro, Maragogipe,
Cachoeira, São Francisco do Conde, Nazaré das Farinhas, Jaguaripe, que formavam
um exército de esfarrapados. Depois, entraram os brasileiros que desceram lá de
Caetité e de outros pedaços do Sertão e da Chapada Diamantina, formando um
exército das mais diferentes cores, de brasileiros filhos de escravos,
descendentes de escravos, brasileiros brancos pobres que nada tinham além de
uma roça de cana plantada para o senhor de engenho..., ensina.
A mitologia, segundo Dias
Tavares
Maria Quitéria – “A mitologia
baiana criou Maria Quitéria com um saiote escocês, com uma linda farda e com
arma na mão. Ela esteve realmente em vários instantes de luta, mas esfarrapada,
com o que restava em cima do corpo, porque foi parte desse exército
brasileiro”.
O Corneteiro Lopes – Uma construção do Santos Titara e outros. “Não se deve
esquecer que Inácio Acioly Cerqueira e Silva o conheceu mendigo, pedindo
esmolas na cidade do Salvador, e relata isso em 1836, na primeira edição das
Memórias Históricas da Província da Bahia.
João das Botas – Marinheiro português que instruiu Cachoeira, Santo Amaro e São
Francisco do Conde a armarem barcos. Canhões foram colocados nas proas e popas,
sob o comando de João de Oliveira Botas, e esses barcos foram decisivos na
guerra.
O caboclo e a cabocla
O índio teve participação
importante nas lutas pela independência. Ele representava o “verdadeiro brasileiro”,
o dono da terra, que somara seus esforços aos demais combatentes. Em 1896, foi
erguido um monumento em sua homenagem, na Praça 2 de Julho (Campo Grande), em
Salvador.