Francisco Carlos Teixeira da Silva
30/11/2011
Maria Yedda Leite Linhares foi acima de tudo uma formadora de gente.
Sua alegria, a grande satisfação, era ter em seu redor jovens com quem
dialogasse – sempre de forma igual, buscando em cada um deles, um
talento, uma vocação. Em torno de sua sala de aula e de seus gabinetes
de pesquisas passaram gerações. A primeira delas com nomes como Arthur e
Hugo Weiss, Valentina Rocha Lima, Francisco Falcon e Helena Lewin. A
estes se agregou uma segunda turma, formada pelos jovens Ciro Cardoso,
Barbara Levy, José Luis Werneck da Silva, Berenice Brandão. E então veio
a vocação irresistível de participar, de viver no mundo, e fazer a
mudança: as lutas políticas e sociais tomaram vulto: contra as
oligarquias, contra os entreguistas, contra as burocracias e as velhas
lideranças acadêmicas carcomidas. Sua integral participação nas lutas do
seu tempo a levaria, em 1964, a viver a cada dia no coração da crise do
Brasil moderno.
Contra todos os conselhos, inclusive do bom-senso e sabedoria do Dr.
José Linhares, ou “o José” simplesmente, ela insistira. Não havia
conserto, era da sua natureza. Nascera assim. Lá no Ceará, em 3 de
novembro de 1921, nascera - para usar a expressão do poeta que ela tanto
amaria - “gauche na vida”. Meninota, contra a vontade dos pais,
colocara um imenso laço vermelho nos cabelos para ver a passagem das
tropas revolucionárias que adentravam o Calçamento de Messejana para
conquistar Fortaleza em 1930. Aí consolidara sua vocação: rebelde,
teimosa, voluntariosa, humana e generosa.
Com a família, seguindo o rastro da crise mundial que derrubara os
preços do algodão, mudou-se para Porto Alegre. Lá ficou pouco tempo.
Sofreu uma infecção no ouvido, que mais tarde martirizaria a vida e a
vaidade. Mudaram-se para o Rio. Aqui, na capital federal, abriu-se o
espaço e as redes sociais que permitiriam a Maria Yedda ser a mulher que
marcou seu tempo. Autodidata, com uma letra incompreensível, adaptou-se
mal ao colégio de freiras. Estudou ainda mais, em especial português –
que se tornou uma obsessão e quase a nos rouba para o jornalismo – e
história. Na maratona de educação alcançou o primeiro lugar, tendo como
prêmio o único livro que jamais emprestou: a História Geral de
Varnhagen.
A criação da UDF facilitou sua ascensão ao curso de “filosofia” –
entendida bem mais como um curso humanista para a formação de
professores. Lá conheceu os amigos que marcariam sua vida: o Dr. Anísio
Teixeira, uma marca poderosa. Com o Dr. Anísio apreendeu, e acreditou,
por toda vida que somente a educação para todos, laica e pública,
mudaria o país. Aí encontrou também seu amigo de vida, Darcy Ribeiro – o
que não quer dizer, de forma alguma, que não brigassem como cão e gato.
Conviveu como jovem estudante, em sala de aula ou em reuniões e
debates, com homens como Hermes Lima, Brochado da Rocha, San Thiago
Dantas - todos jovens professores e oponentes da ditadura varguista.
Yedda ouvia, apreendia e preparava-se também para participar.
ACESSE O TEXTO NA ÍNTEGRA: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/maria-yedda-leite-linhares-1921-2011