Presidente da comissão, Alessandra Prado, mostra documentos de militantes durante ditadura na BA
Criada com a missão de recuperar documentos do período da ditadura militar na Bahia, a Comissão Especial Memórias Reveladas está sentindo na carne o que é o jogo de empurra-empurra das Forças Armadas e dos órgãos que estiveram envolvidos na repressão às ações políticas de esquerda. Quatro meses depois de instituída, a comissão não tem ideia de quando terá acesso aos arquivos que ajudarão a reconstituir o período da história do País que vai do golpe de 1964 à abertura política em 1885.
Os ofícios que a comissão encaminhou aos ministérios militares, solicitando o acesso aos registros do período, deram em nada. A Marinha optou pelo silêncio. O Exército e a Aeronáutica alegaram que a solicitação deveria ser feita ao Ministério da Defesa. E o ministro Nelson Jobim sequer respondeu ao documento, que foi encaminhado pelo secretário de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Nelson Pelegrino.
Revanchismo - Não foi diferente na superintendência estadual da Polícia Federal. A direção informou que os documentos foram enviados à sede do órgão, em Brasília. Lá, disseram que todos os documentos da década de 60 e 70 do século passado encontravam-se no Arquivo Nacional da capital federal. Este, por sua vez, informou não ter sido encontrado, no lote que recebeu da PF, nenhum registro relativo à atuação de militantes na Bahia.
É nesse compasso que caminha o trabalho da Comissão Especial Memórias Reveladas na Bahia. Um resultado “frustrante”, como admitiu a coordenadora da comissão, Alessandra Mascarenhas Prado, salientando que o acesso ao acervo em posse de órgãos oficiais é a principal tarefa da comissão.
Alessandra atribui ao “temor de revanchismos e punições” a resistência de setores das Forças Armadas em abrir os arquivos do período da ditadura militar. Uma visão equivocada, no seu entendimento. “O projeto visa a outra coisa. Quer resgatar o respeito da nossa história, e os documentos ainda desconhecidos são parte dessa memória”, assinala a coordenadora.
Não fossem depoimentos gravados, fotos, cartas e desenhos de arquivos particulares de ex-presos políticos baianos e cerca de 30 processos de ex-presidiários que estavam em posse do Conselho Penitenciário do Estado e da Penitenciária Lemos Brito – além de 1.128 folhas digitalizadas de documentos da extinta Polícia Política da Bahia, cedidas pelo Arquivo Nacional do Rio de Janeiro –, o trabalho da comissão poderia ser considerado nulo.
Entre os registros estão o que foi cedido por ex-presos políticos da Penitenciária Lemos Brito, como um desenho feito por Carlos Zanetti do companheiro Magno Burgos, que morreu semana passada, aos 80 anos. Mais velho dos detentos da Galeria F, ocupada por presos políticos, Burgos ultrapassara os 40 anos quando chegou à cadeia. Presos, como José Sérgio Gabrielli, Emiliano José, Jorge Almeida, Carlos Sarno e Paulo Pontes tinham entre 19 e 25 anos.
Patrícia França, do A TARDE