Então, concluo aqui a saga do mais badalado achado arqueológico no Brasil de 2019. Nessa última matéria da Revista Bahia Ilustrada, de 1919, coincidentemente após 100 anos da redescoberta, nos é revelado quando se deu o abandono do famoso chafariz. Na excelente matéria salienta-se: "cujas plantas se acham perfeitamente conservadas em nosso Arquivo Público". Não preciso aqui chover no molhado, as tais plantas citadas, são as que postei aqui nesta série, e que graças uma servidora do APEB foram reencontradas este ano, e por mim digitalizadas. Em 17 de janeiro de 2020 o APEB fará um ano fechado para obras, lá também foram encontrados materiais arqueológicos, e esse foi o motivo para o atraso das obras. Espero e confio que, passados cem anos do abandono do chafariz, o achado sirva de exemplo para que o Estado não deixe ao acaso a nossa história e memória e cuide dos nossos Arquivos.
O que se
deve dizer, ou escrever, dentro da verdade histórica, é o seguinte:
Essa
estatua, de belo mármore de Carrara, medindo 20 palmos de altura, pelos
projetos aprovados pelo governo da antiga província, em 1854, para a construção
desse, e de outros, e de todos os chafarizes desta cidade, em virtude da Lei n.
451, de 17 de junho de 1852, que criou o serviço público de abastecimento
d’água potável a nossa cidade, e cujas plantas se acham perfeitamente
conservadas em nosso Arquivo Público representa Pedro Alvares Cabral em trajes
da época: lá está o seu nome assinado.
Ha razões
bem fundadas, entretanto, para não se admitir isso, apesar de oficialmente
registrado; porquanto todos os retratos e bustos, conhecidos, do descobridor do
Brasil, figuram-no barbado, e a estátua em apreço é a de um imberbe, parecendo,
antes, ser a de Colombo ou Vespucci; nunca, porém, do Visconde de Cayrú ou de
Castro Alves.
A
propósito desse belo e artístico chafariz, saiba-se, foram retirados,
recentemente, da administração municipal do Sr. Dr. Antônio Pacheco Mendes, os
degraus de mármore que tinha em derredor, e todo o gradil de ferro; sendo,
ainda, sem nenhuma justificação plausível, voltada para o lado da terra a
estátua aludida, que olhava para o mar, desaparecendo, enfim, por mera
desestima a estética, o imponente aspecto que apresentava. Não passa, hoje, de
simples e deturpado o ornamento de praça, como todos os outros antigos
chafarizes de valor, igualmente artísticos, muitos, visto não mais visarem a
utilidade pública para que foram feitos.
E para
maior desestima, vê-se, atualmente, esse chafariz, erguido no coração da
cidade, na principal praça, e junto, bem junto do Theatro São João circundado,
não de um tabuleiro de flores, que lhe pudesse em prestar a ilusão de um
jardim, mas de uma cultivação desenvolvida de... capim!
FONTE: Revista Bahia Ilustrada, 1919.