Prédio do Arquivo Público da Bahia, que possui infiltrações, mais visíveis na parte externa
Leogump Carvalho/Folhapress
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DE SALVADOR
Sob risco iminente
de curto-circuito, o Arquivo Público da Bahia funciona há quase três anos sem
luz na maior parte das instalações. O arquivo é considerado por especialistas
um dos mais importantes do país.
Do início de 2010 ao final de 2011, o corte de
energia elétrica foi total, obrigando pesquisadores a disputar mesas junto a
janelas, em busca de claridade e ventilação.
Hoje só há energia na sala de consulta
--reduzida a nove mesas-- e na direção.
O arquivo ainda convive com goteiras,
infiltrações e forro comprometido pela umidade, entre outros problemas
constatados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
em novembro.
Construído no
século 16 para ser morada de jesuítas, o espaço é tombado desde 1949. Guarda a
memória da primeira capital brasileira, com o equivalente a 23 quilômetros de
papéis e documentos raros, contemplados com o Diploma de Memória do Mundo pela
Unesco (braço da ONU para a educação).
O arquivo, diz o historiador norte-americano
Richard Graham, usuário do acervo, contém a "base fundamental" da
economia, da política e da sociedade brasileira nos últimos séculos.
De acordo com o historiador João José Reis, o
arquivo que serve de referência até para especialistas em história da África
"está morrendo de morte lenta, com perigo de morte súbita".
Documento do porto da cidade no setor de restauração, um dos poucos a ter ar condicionado Leogump Carvalho/Folhapress
"As condições são as piores possíveis, até constrangedoras para a própria direção e pesquisadores estrangeiros em lugares como o toalete", diz Consuelo Sampaio, chefe do Centro de Memória da Bahia de 2003 a 2011.
Segundo Sampaio, as inadequações já causaram
perda de material, tanto que a instituição precisou recorrer à Universidade de
Chicago (EUA) para obter cópia de documento do século 19 de seu próprio acervo.
Apesar disso, para a instituição responsável
pelo espaço, o arquivo continua em "bom estado de conservação",
afirma Andréa Montenegro, diretora em exercício da Fundação Pedro Calmon.
Ela diz que as obras elétricas, previstas para
setembro, estão em fase final, ao custo de R$ 520 mil.
A próxima será a
reforma do telhado e do teto, orçada em R$ 1 milhão.
Montenegro reconhece não haver espaço para
documentos atuais no local, descumprindo a Lei de Acesso à Informação, e diz
que a única saída é uma nova sede.
Trabalhando diariamente no acervo, o pesquisador
Urano Andrade atua em casos de disputa de terras e processos de reconhecimento
de nacionalidade, outras áreas primordiais do arquivo.
"Esse prédio é o meu ganha pão",
afirma.
O promotor Ulisses Campos, do núcleo de defesa
do patrimônio do Ministério Público da Bahia, diz que irá expedir recomendação
para que o governo do Estado faça a recuperação do espaço. Em caso de
descumprimento, ameaça acionar a Justiça.
ACESSE A FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1206774-arquivo-publico-da-bahia-funciona-ha-tres-anos-sem-luz.shtml