Luana Almeida
O terreiro de candomblé
Ilê Axé Ayrá Izô, localizado no bairro de Campinas de Brotas, poderá ser
desativado na próxima segunda-feira, dia 3. Isso por conta de uma ação judicial
que envolve a disputa pelo terreno de 878 metros quadrados que abriga o templo
religioso. O terreno pertencia ao já falecido Ângelo Gagliano e, segundo
relato da comunidade, foi doado verbalmente. A doação teria sido em retribuição
a graças alcançadas por Gagliano através do caboclo Mina de Ouro, cultuado no
espaço. Os herdeiros de Gagliano foram à Justiça para recuperar a posse.
A ação, que não especifica que
o terreno abriga um terreiro, tramita há dez anos. Os herdeiros de Ângelo
Gagliano alegam, na ação, que a doação não tem caráter legal, pois não há
documentos oficiais que deixem comprovada a concessão do espaço. A
reportagem de A TARDE tentou, na noite desta sexta-feira, contato com os
herdeiros mas não obteve retorno. Foram feitas seguidas ligações telefônicas,
sem sucesso.
Despejo - A ordem de
despejo foi recebida pelo advogado do terreiro, Paulo Asper, na última
segunda-feira e não cabe mais recurso. De acordo com o babalorixá
do Ilê Axé Ayrá Izo, Franklin Santos, representantes da comunidade
religiosa já tentaram firmar um acordo com os herdeiros de Gagliano desde o
início da disputa judicial, mas não tiveram sucesso. "Judicialmente,
já não há mais o que fazer, mas o que esse terreno abriga não são apenas
blocos de concreto. É a cultura religiosa de uma comunidade", afirmou.
Mobilização - Por conta da
ação judicial, integrantes do Coletivo de Entidades Negras (CEN),
realizaram, na manhã de ontem, uma manifestação para tentar chamar a
atenção sobre o problema. Ainda ontem, a ação foi encaminhada ao
Ministério Público Estadual da Bahia (MP-BA). De acordo com informações da
assessoria de comunicação do órgão, o promotor de Justiça e coordenador do
Grupo de Atuação Especial de Combate à Discriminação, Cícero Ornellas, está
analisando os documentos e só terá um parecer a partir da próxima
semana. O caso também está sendo acompanhado pela Secretaria Estadual de
Promoção da Igualdade Racial (Sepromi).
De acordo com o secretário
Elias Sampaio, o órgão está articulando, com outras instituições, a melhor
forma de oferecer apoio ao terreiro. "Trata-se de um espaço
religioso e cultural tradicional. Nenhuma ordem judicial justifica o despejo.
Nosso papel é tentar intervir da melhor maneira possível", disse.
Por meio de nota, o
presidente da Comissão de Promoção da Igualdade da Assembleia Legislativa da
Bahia, deputado estadual Bira Corôa (PT-BA), informou que vai
oficializar, em caráter de urgência, o pedido de tombamento provisório do
terreiro. "Queremos envolver os órgãos responsáveis e discutir a
situação", diz trecho da nota.