Nelson Barros Neto
Primeira capital e terceira
maior cidade do Brasil, Salvador vive hoje uma disputa entre passado e
presente.
Nessa competição, o lugar de
cultura e natureza exuberantes, referência nacional de alegria, perde cada vez
mais terreno para uma cidade engarrafada, suja e violenta.
Problemas afloram dos bairros
de alto padrão à periferia da cidade.
Em dez pontos turísticos
visitados pela reportagem, a reclamação das pessoas era constante.
Os diagnósticos ecoavam a
análise do antropólogo Roberto Albergaria: a terra romanceada por Jorge Amado e
cantada por Dorival Caymmi "está morrendo".
O escritor Antônio Risério
também lamenta o novo pessimismo soteropolitano.
"Essa postura é recente.
Por muito tempo, Salvador ocupou lugar e função de mito no imaginário nacional.
As pessoas celebravam isso em termos bem narcisistas. Tinha história, beleza
urbana e natural", diz Risério.
O prefeito João Henrique (PP)
tem a maior rejeição entre os gestores das capitais (75%), conforme pesquisa
Ibope de outubro.
Ele reconhece as mazelas, mas
diz que pesquisas são "induzidas" e que é "cultural" culpar
o prefeito.
"Pegue grandes expoentes
da administração e bote aqui. Quero ver um Beto Richa, um Aécio Neves gerir uma
cidade com a penúltima receita per capita das 26 capitais."
Os soteropolitanos e os
turistas reclamam: praias estão cada vez mais sombreadas por causa de prédios.
Junto com a especulação
imobiliária e problemas no trânsito, o número de homicídios supera o de São
Paulo.
No Pelourinho, adolescentes são
flagrados fumando crack à luz do dia, entre casarões em risco de desabar.
FONTE: Folha de São Paulo