REVISTA DE HISTÓRIA COMPARADA - 2013



Juliana Barreto Farias e Flávio Gomes (Organizadores)

Jaime Rodrigues

Silvana Jeha

Mônica Lima e Souza

Fabiane Popinigis

Selma Pantoja

Richard Price

Marcelo Mac Cord

Valéria Gomes Costa

Júlio César Medeiros da Silva Pereira

Nielson Rosa Bezerra

Ynaê Lopes dos Santos

Luís Cláudio Symanski & Flávio Gomes

RESENHA

Luiz Alberto Couceiro



TESES E DISSERTAÇÕES - PPGH - UFBA - 2011/2012

Já encontra-se disponível Teses e Dissertações defendidas em 2011/2012 na Universidade Federal da Bahia. Entre os títulos estão: 




Resumo: Essa dissertação aborda o caso ocorrido na vila de Camamú, Comarca de Ilhéus, entre os anos de 1840 e 1842, no qual as Irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Assunção empreenderam uma tentativa de embargo de benefício contra o vigário colado Celestino Euzébio da Assunção. As irmandades alegaram como motivo para essa ação o fato de ser o padre filho de escravos libertos. O ocorrido despertou questionamentos por parte dos envolvidos no processo acerca da cidadania conferida aos libertos e a autoridade da Igreja Católica no início do Segundo Império. 


Resumo: Esta pesquisa pretende analisar as diversas facetas vinculadas ao processo de independência brasileiro na Bahia (1821-1823). As questões que envolvem a política, a cultura, a sociedade e a economia baiana são objeto de inúmeras discussões. Contudo, chamamos a atenção para o seguinte fato: o nosso foco principal de discussão encontra-se centrado nas diversas alterações provocadas pela guerra civil junto ao cotidiano da Cidade do Salvador. Em função disto, os confrontos envolvendo os portugueses da Europa e da América, a incidência do recrutamento compulsório, da expropriação da propriedade privada, as carências alimentares e laborais, os encarceramentos arbitrários, as ações praticadas pelos inimigos internos, enfim, os efeitos da arte destruidora da guerra em Salvador ganharam maior peso e cores mais vivas ao longo desta discussão.


Resumo: Busquei nesta dissertação contribuir para a superação de uma importante lacuna da historiografia brasileira, que pouco produziu sobre os trabalhadores do mar. Tratei aqui dos pescadores da Bahia, na segunda metade do século XIX. O trabalho foi dividido em três partes. No primeiro capítulo, discuto o contexto e os objetivos da criação da Capitania dos Portos, e as consequências disso para os pescadores. Problematizo a questão das matrículas dos pescadores, diretamente ligadas às novas estratégias de recrutamento de mão de obra para a Marinha de guerra, e as estratégias e opções deles para escapar do serviço. No segundo capítulo procuro traçar um perfil dos pescadores baianos através de documentos da capitania, censos, listas eleitorais, inventários etc, e trago o caso de Francisco Xavier de Santana, pescador da povoação do Rio Vermelho, que por alguns anos teve que driblar uma série de ataques e sabotagens a ele dirigidas para poder fazer sua pescaria com redes. Durante a análise dos sentidos do caso, procuro entender lógicas das relações entre pescadores, suas articulações políticas e redes de amizade e solidariedade. O capítulo final cuida de conflitos no mar ligados à questão dos territórios marítimos. De como os pescadores instituem divisões territoriais no mar, por eles mesmos continuamente disputadas e transgredidas. Trago a luta da capitania em fazer valer leis que nem sempre estavam de acordo com os costumes e/ou interesses de alguns pescadores e a oposição entre duas concepções distintas acerca do direito ao uso e controle de “partes” específicas do mar.


Resumo: O presente estudo busca compreender a sociedade escravista que se formou em Rio de Contas, área mineradora da capitania da Bahia, investigando aspectos da organização do trabalho escravo a fim de compreender as relações construídas entre escravos e senhores ao longo do Setecentos. Para isso, examino a demografia escrava no que se refere à origem, nação, cor, sexo, faixa etária e ocupação. Essa análise possibilitou mensurar a importância do tráfico transatlântico de cativos para a região e, por outro lado, identificar entre os nascidos na África as nações mais representativas, bem como o início da crioulização. Ademais, permitiu refletir sobre a família escrava local. O estudo dessa dinâmica foi crucial para compreender a alforria, o perfil dos senhores e dos alforriados, e os tipos de alforrias ali praticadas. Foi possível perceber as leituras que escravos, libertos, senhores e advogados fizeram da alforria e como usaram a Justiça, fosse em defesa da liberdade ou da escravidão. As ações judiciais permitiram discutir a vulnerabilidade da liberdade e, em uns poucos casos, da escravidão.


Resumo: Esta tese estuda o cotidiano dos presos da Casa de Prisão com Trabalho na segunda metade do século XIX. A instituição, primeira penitenciária da Bahia, inaugurada em 1861, foi o principal símbolo da reforma prisional e do aprisionamento moderno da província. A partir das petições e cartas de presos identifico a existência de uma ordem costumeira na prisão com igual ou, em alguns aspectos, maior força do que a oficial, mas que não anulava a arbitrariedade e a violência desta última. Mas essa ordem paralela podia ser rompida a qualquer momento, fosse por confrontos entre os próprios presos ou entre estes e os funcionários. Dentre os meios de protesto, a escrita foi um dos mais utilizados pelos presos e, dependendo da estratégia sugerida nas cartas, era possível conquistar espaços sem romper com a ordem prisional. O recurso à escrita foi utilizado por presos, letrados ou não, de diferentes condições jurídicas - escravos, libertos e livres -, independentemente do tipo de pena que estivessem cumprindo. Para entender mais apuradamente esses temas, reconstituo as trajetórias de Francisco Ribeiro de Seixas, condenado pela morte de sua cunhada-amante, e de Julio Cesar Guanaes do Alfa, condenado pela morte de um padre. Suas biografias nos remetem à de muitos outros presos que percorreram caminhos parecidos, e permitem deslindar as complexas relações sociais que teciam o dia-dia da prisão e sua interação com a sociedade envolvente.


Resumo: O objetivo desta dissertação é um estudo dos capitães negreiros atuantes no tráfico atlântico de escravos africanos na Cidade da Bahia na primeira metade do século XVIII. Esta pesquisa intentou compreender as experiências destes sujeitos em busca de riqueza e distinção social na Salvador setecentista, suas condições materiais e os perigos enfrentados na lida no mar. Por fim, analiso a vida econômica desses sujeitos que além de comandar as embarcações, faziam o comércio na costa africana para os proprietários das embarcações, para outras pessoas e para eles mesmos, uma vez que eles também investiam no tráfico de escravos. O conhecimento de tais indivíduos lança luz sobre um lado da História da Diáspora Africana, que é conhecer os agentes responsáveis pela condução forçada dos africanos em diversos tipos de embarcações à vela, sob condições higiênicas e sanitárias inapropriadas que atingiam todos os presentes: africanos escravizados, tripulantes e os capitães negreiros.


Resumo: A presente dissertação busca compreender as relações sociais e interétnicas travadas entre populações indígenas, missionários capuchinhos e demais atores sociais presentes no processo de colonização da Comarca de Caravelas – pertencente ao extremo sul da Bahia – no século XIX. Tem-se como interesse central neste trabalho dar ênfase às agências indígenas frente ao projeto de civilização e catequese. Nesse sentido, buscamos perceber, no desenrolar dos conflitos, intensificados no decorrer daquele século, de que forma os grupos indígenas formularam estratégias, lutaram por seus interesses e se movimentaram diante de um quadro de mudanças significativas decorrente do violento processo de conquista e subjugação.


Resumo: Esta pesquisa investiga as trabalhadoras domésticas de Recife e Salvador, suas experiências, suas lutas, sua formação enquanto classe, a precariedade de suas vidas, na conjuntura emancipacionista dos anos finais do século XIX e iniciais do século XX. Através da literatura de ficção, de processos criminais e cíveis, de anúncios de jornais, de documentação oficial, busco reconstituir as experiências de vida de domésticas negras, mestiças e brancas, escravas, livres e libertas. Argumento que essas domésticas agenciaram suas vidas em contextos de precariedade, mas que lograram produzir experiências de uma identidade de classe em formação. Elas não apenas estavam se formando enquanto classe unicamente a partir de suas próprias experiências. Os textos literários produzidos por escritores e memorialistas baianos e pernambucanos buscaram increvê-las em lugares sociais e raciais subalternos, adstritos aos valores paternalistas e escravistas ainda resistentes ao avanço de regras formais de relações de trabalho. Mas apesar da riqueza das fontes literárias na produção e disseminação de valores de submissão e do lugar subalterno do trabalho doméstico, defendo que o conjunto de experiências sociais das mulheres que a ele nos anos pré e pós-emancipação põem em suspeição imagens idílicas que associam serviço doméstico a servilismo, à harmonia entre patrões e empregadas. Por fim, e apesar do foco na formação de classe, reconstitui experiências mais amplas de conflitos populares cotidianos nos quais as domésticas tiveram participação, por acreditar que não é só na relação de trabalho que uma classe se forma.


Resumo: O tema desta pesquisa é o banditismo no sertão baiano na segunda metade do século XIX. O recorte temporal estabelecido é entre 1848 e 1884. Devido à extensão do sertão de cima e as dificuldades para trabalhar com todo este território, ficou estabelecido como recorte espacial a região das comarcas de Carinhanha e Urubu que ficam próximas das fronteiras com as províncias de Minas Gerais e Goiás. Esta região é cortada pelo rio São Francisco e está situada no médio São Francisco. Atualmente, também conhecemos como “Oeste baiano”. O objetivo deste trabalho é analisar o fenômeno banditismo no sertão de cima entre 1848 e 1884 e suas relações com a sociedade regional, bem como o combate do Estado Imperial ao que era considerado “desordem”. Entre os grupos encontrados nessa pesquisa estão os liderados por Antonio José Guimarães que atuou entre 1848 e 1854, Chico Rocha e Neco que atuaram no final dos anos 1870. O estudo do banditismo permite não só entender a realidade regional, bem como as relações políticas e sociais envolvidas na atuação dos bandoleiros e do aparelho repressor. A partir do estudo do banditismo podemos analisar os significados sociais do uso da violência no sertão baiano. Dessa forma buscamos analisar a realidade social e a formação histórica do sertão baiano.


Resumo: A presente dissertação se propõe a  analisar aspectos da ação episcopal de D. José
Botelho de Matos na Bahia entre 1741 e 1759, projetando sobre ela a situação coeva das
relações Igreja-Estado. Considerando que aqueles eram tempos de profunda interferência do 
Estado na administração  da Igreja local, partiremos em busca de como D. José Botelho de
Matos compôs sua ação episcopal, quais foram as suas prioridades, qual a natureza de seus
requerimentos e como lidou  com as dificuldades oriundas do constrangimento da jurisdição
eclesiástica e das pressões promovidas pelos órgãos da Coroa.

Acesse todos os títulos: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/2116 


CURSO: ARTES E OFÍCIOS NO BRASIL


OFICINA: OS USOS DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO NA SALA DE AULA

Novo sistema elétrico do Arquivo Público da Bahia será testado


O atendimento no Arquivo Público do Estado da Bahia será suspenso no próximo dia 11 de julho, quinta-feira, para realização de testes do novo sistema elétrico, que está sendo implantado no Solar da Quinta do Tanque, localizado na Baixa de Quintas. Na sexta-feira, dia 12 de julho, o atendimento será normal, das 8h30 às 17h30, com serviços de consulta, reprodução de documentos e emissão de certidões.
A implantação de um novo sistema elétrico no histórico casarão que abriga o Arquivo Público integra uma serie de intervenções, com investimentos em torno de R$2 milhões, visando assegurar a modernização da preservação e do acesso ao patrimônio documental. Essa é a primeira reforma do imóvel, desde 1980, quando o Arquivo Público foi transferido da Rua Carlos Gomes para a Baixa de Quintas. Trata-se de uma construção secular, erguida pelos jesuítas no século XVI e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1949.
Nova Subestação Elétrica – Essa primeira etapa, em fase de finalização, envolve a requalificação do sistema elétrico, rede lógica e telefones, com recursos estaduais de R$ 843 mil, e previsão de conclusão no final de julho de 2013. A requalificação do sistema elétrico e lógico abrange a troca de cabeamento, quadros de disjuntores, luminárias (internas e externas), tomadas e a construção de uma subestação elétrica com nova tecnologia não poluente. Com a conclusão dessa primeira etapa, sob responsabilidade da Superintendência de Construções Administrativas da Bahia (Sucab), os equipamentos elétricos do andar térreo funcionarão normalmente, como máquinas de digitalização e microfilmagem, além de possibilitar mais conforto na sala de consulta.
As próximas etapas de intervenção no Solar da Quinta do Tanque são o restauro do forro e telhado, orçado em cerca de R$ 1 milhão, recursos já assegurados pela Fundação Pedro Calmon/SecultBA, e a requalificação da estrutura física, cujo projeto será construído pelo Iphan.
Prioridade governamental – O Arquivo Público do Estado da Bahia é considerado pelo Arquivo Nacional a segunda mais importante instituição arquivística pública do país, em razão de custodiar documentos produzidos e acumulados no período colonial, quando a cidade de Salvador atuou como capital do Brasil (1549-1763). Além da Fundação Pedro Calmon, do Iphan e da Sucab, a reforma do Arquivo Público do Estado da Bahia vem sendo acompanhada de perto por técnicos do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e tem sido uma ação prioritária da Secretaria de Cultura do Estado e da Casa Civil do Governo da Bahia.


DE ESCRAVO A CRIADO


Escritura de locação de serviços que faz o pardo escuro Andronio a José Joaquim da Costa

Saibam quantos este público instrumento de escritura de locação de serviços virem, que sendo no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta e três, aos vinte e cinco dias do mês de maio, nesta cidade da Bahia, em meu cartório compareceu o pardo escuro, liberto, de nome Andronio Costa, como primeiro outorgante, e como segundo outorgante José Joaquim da Costa, ambos residentes na cidade de Feira de Santana desta província e reconhecidos de mim tabelião e das testemunhas no fim assinadas, perante as quais pelo dito liberto Andronio Costa, me foi dito que está justo e contratado com o segundo outorgante para acompanha-lo em sua viagem a Portugal ou qualquer parte da Europa pelo espaço de quatro anos a contar de hoje, mediante o salário anual de duzentos mil réis, moeda brasileira, visto como foi liberto por seu senhor Joaquim José da Costa, irmão do segundo outorgante; disse mais que se obriga a morar, acompanhar e viver com o segundo outorgante e prestar-lhe os serviços que puder, sujeitando-se as penas da lei deste Império se faltar a qualquer das obrigações que por esta escritura lhe são impostas. E pelo segundo outorgante foi dito que aceita esta escritura. E de como assim o disseram dou fé e lhes lavrei este instrumento em minha nota. E foram a tudo testemunhas presentes Francisco Felicíssimo do Rego e Guilherme Martinho Leal, que abaixo assinam com os outorgantes, assinando a rogo do liberto Andronio, primeiro outorgante, por ser analfabeto João da Silva Freire, depois de lida esta perante todos por mim José Augusto d’Abranches tabelião que a escrevi. Bahia, 25 de maio de 1883.                                                           

Francisco Felicíssimo do Rego                                        João da Silva Freire  

Guilherme Martinho Leal                                               José Joaquim da Costa 

Fonte: 
Arquivo Público do Estado da Bahia 
Seção Judiciária - Livro de Notas 
Livro: 729 - Página: 10v. 

POLÊMICAS HISTÓRICAS NO 2 DE JULHO


Secretaria da Polícia da Província da Bahia 
4 de julho de 1866. 

Com a informação em original junta, com a qual me conformo, do Delegado do 1º distrito, satisfaço ao que ordenou-me Vossa Excelência em oficio de ontem, relativamente ao objeto do requerimento, que devolvo, em que alguns cidadãos reclamam contra o depósito ou guarda dos Carros Triunfantes do festejo nacional do dia Dois de Julho, na Praça denominada dos Veteranos da Independência.
Deus guarde Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Vice Presidente da Província.
Bahia e Delegacia do 1º Distrito 3 de julho de 1866.
Ilustríssimo Senhor
Informando com urgência, como determina Vossa Senhoria, a cerca da representação de alguns indivíduos desconhecidos, a qual acompanhou o incluso oficio do Governo da Província desta data, cabe-me dizer a Vossa Senhoria o seguinte.
É a comissão dos festejos do dia Dois de Julho, a quem compete dar direção a eles, e entendendo-se comigo, como 1º Secretário da Sociedade Dois de Julho, tomou a deliberação de mandar construir no Largo de Guadalupe, hoje Praça dos Veteranos, o pavilhão para nele se colocarem os carros de triunfo com os emblemas da Independência.
As comissões [...] colocavam os carros, ora da Piedade, ora na Praça do Palácio, e ora no Terreiro, sem que jamais houvesse lugar certo para este fim, sendo essa atribuição privativa das mesmas comissões, que foram sempre quem unicamente fizeram as despesas necessárias com os pavilhões, e sem que ninguém até hoje intervesse na escolha do lugar, porque as Comissões são as mais habilitadas por conhecer da localidade conveniente para o depósito dos carros durante toda a festividade.
A longitude em que fica a Praça da Piedade do centro dos festejos, e da imediata inspeção das Comissões sobre eles, dar-se lugar a que alguém por malvadeza ou perversidade fosse, alta noite, quebrar e furtar certas peças de adorno dos carros triunfantes, apesar da vigilância das Comissões, que até costumavam postar ali um soldado de sentinela, cuja interferência era por todos notada.
Ainda em o ano passado, não obstante os cuidados que foram empregados, furtaram um dos bustos adornados do carro pequeno, e descravaram todas as estrelas douradas do carro grande.
E de mais os emblemas patrióticos eram pouco visitados pelas famílias no Largo da Piedade, onde se reunia grande número de Africanos, pela maior parte escravos, os quais formavam batuques estrondosos, como era por todos observado, resultando muitas vezes desordens que davam não pouco trabalho a Polícia.
A vista de todas essas plausíveis razões, e não por quaisquer outros motivos, a Comissão do presente ano, a quem dei aquelas informações, acordou em princípio depositar os carros em um pavilhão na Praça de Santa Izabel, em frente da Igreja da Sé, mas tendo-se ela arruinada, resolveu, ainda por indicação somente minha, mandar construir o referido pavilhão na Praça dos Veteranos que, a meu ver, é a mais própria para esse fim, sendo essa uma das mais decentes desta Cidade.             
Já vê Vossa Senhoria, que o Coronel Carvalhal, nenhuma parte teve na escolha do local, e nem mesmo a Comissão dos festejos se deixaria dominar senão pelos bons desejos de abrilhantar o festim Nacional do sempre memorável Dois de Julho, e pelo velo de evitar novos prejuízos como os que já se tinham dado, principalmente quando se vê obrigada a fazer a maior economia, porque com poucos recursos pecuniários conta para tantas despesas indispensáveis, visto que esses patriotas que muito exigem, e que nada os contenta, não contribuem se quer com a mais diminuta quota para a solenidade da festa.
Sabendo eu ontem na lapinha que alguns moços, um pouco eletrizados e imprudentes se dispunham a dar o grito de alarma, iludindo o povo a fim de fazer, a todo o tranco seguir para a Piedade os carros, logo que partissem do Terreiro, depois da parada, procurasse desvanecê-los deste intento criminoso, e entendi-me com a distinta Corporação dos Caixeiros Nacionais, a quem dando os motivos que a cima apontei e que levaram a Comissão a mandar a fazer no corrente ano o pavilhão na Praça dos Veteranos da Independência, apelei para o seu verdadeiro patriotismo e bom senso a fim de ser respeitado o programa da Comissão dos festejos, oportunamente publicado nos jornais diários, sem reclamação alguma, e com o qual havia já concordado a dita Corporação dos Caixeiros Nacionais.
Esta patriótica Corporação, que de certo tempo pra cá muito tem concorrido para o brilhantismo do 1º Dia Baiano, aplaudiu a deliberação da Comissão dos festejos, e tomou a si a direção dos carros de triunfo para a Praça dos Veteranos, e assim cumpriu.
Não conheço um só dos signatários da representação feita ao Governo, e nem pude obter informação alguma sobre eles; tão desconhecidos são!
Intitulam-se procuradores do povo, que lhes não deu procuração; são talvez anarquizadores que pretendem com essa tirania marear o festim Nacional do dia Dois de Julho, mas que não poderão conseguir, porque não estamos em um país de bárbaros, onde meia dúzia dia indivíduos, sem nome conhecido, ousam ameaçar com essa irrisória energia e valor a primeira Autoridade da Província, que arcada do prestígio que tem, e dos auxiliares de que dispõe, em cujo número me honro de estar contemplado nesta ocasião, saberá refletir essa audácia pouco comum, que só pode partir de homens que nada tem a perder, e si alguém que, valendo-se de nomes supostos, quer tirar alguma vingança pessoal.
Fui em pessoa a Praça da Piedade, e nenhum vestígio ali encontrei que me levasse a crer a construção desse sonhado barracão, em que, se diz que o Comércio gastou 450#000!
Posso assegurar a Vossa Senhoria que é uma falsidade que os pseudorrepresentantes do povo querem imputar ao pacífico e honrado corpo do Comércio.Entendo, porque o protesto dos suplicantes e sua pretensão são um perfeito desproposito que não merece a menor consideração de qualquer pessoa, e muito menos do Governo da Província.
Deus Guarde a Vossa Senhoria.
Ilustríssimo Senhor Doutor Chefe de Polícia desta Província.
O Delegado, José Alves do Amaral.
Fonte: 
Arquivo Público da Bahia 
Seção: Colonial / Provincial 
Série: Polícia
Maço: 2962 
Documento composto de 11 páginas manuscritas, 
constando anexo o abaixo assinado e 
respectivas assinaturas. 


LIBERTO EM HOMENAGEM AO 2 DE JULHO


Liberdade de João Theodoro – Pardo
Dou Liberdade ao meu escravo de nome João Theodoro, filho da minha escrava Joana, sem que pela mesma liberdade receba quantia alguma em memória do Patriótico dia Dois de Julho, aniversário do Triunfo das Armas Brasileiras nesta Cidade, ficando o mesmo escravo de hoje para sempre gozando da mesma liberdade como se de ventre livre nascesse, e para seu título lhe passo a presente por mim assinado, Bahia, 29 de junho de 1837, Custódio José de Souza, como testemunha que este fez Manoel Alves Fernandes Sucupira, como testemunha Antonio Moreira de Souza. Reconheço os termos retro Bahia, 1º de julho 1837 Simões. Fiz lançar a presente que conferi, subscrevi, concertei e assinei na Bahia, 1º de julho de 1837, Eu, Antonio Lopes de Miranda. 

Fonte: Arquivo Público da Bahia 
Livro de Notas Nº 255, página: 84