Secretaria da Polícia da
Província da Bahia
4 de julho de 1866.
Com a informação em original
junta, com a qual me conformo, do Delegado do 1º distrito, satisfaço ao que
ordenou-me Vossa Excelência em oficio de ontem, relativamente ao objeto do
requerimento, que devolvo, em que alguns cidadãos reclamam contra o depósito ou
guarda dos Carros Triunfantes do festejo nacional do dia Dois de Julho, na
Praça denominada dos Veteranos da Independência.
Deus guarde Ilustríssimo e
Excelentíssimo Senhor Doutor Vice Presidente da Província.
Bahia e Delegacia do 1º
Distrito 3 de julho de 1866.
Ilustríssimo Senhor
Informando com urgência, como
determina Vossa Senhoria, a cerca da representação de alguns indivíduos
desconhecidos, a qual acompanhou o incluso oficio do Governo da Província desta
data, cabe-me dizer a Vossa Senhoria o seguinte.
É a comissão dos festejos do
dia Dois de Julho, a quem compete dar direção a eles, e entendendo-se comigo,
como 1º Secretário da Sociedade Dois de Julho, tomou a deliberação de mandar
construir no Largo de Guadalupe, hoje Praça dos Veteranos, o pavilhão para nele
se colocarem os carros de triunfo com os emblemas da Independência.
As comissões [...] colocavam os
carros, ora da Piedade, ora na Praça do Palácio, e ora no Terreiro, sem que
jamais houvesse lugar certo para este fim, sendo essa atribuição privativa das
mesmas comissões, que foram sempre quem unicamente fizeram as despesas necessárias
com os pavilhões, e sem que ninguém até hoje intervesse na escolha do lugar,
porque as Comissões são as mais habilitadas por conhecer da localidade
conveniente para o depósito dos carros durante toda a festividade.
A longitude em que fica a Praça
da Piedade do centro dos festejos, e da imediata inspeção das Comissões sobre
eles, dar-se lugar a que alguém por malvadeza ou perversidade fosse, alta
noite, quebrar e furtar certas peças de adorno dos carros triunfantes, apesar
da vigilância das Comissões, que até costumavam postar ali um soldado de
sentinela, cuja interferência era por todos notada.
Ainda em o ano passado, não
obstante os cuidados que foram empregados, furtaram um dos bustos adornados do
carro pequeno, e descravaram todas as estrelas douradas do carro grande.
E de mais os emblemas
patrióticos eram pouco visitados pelas famílias no Largo da Piedade, onde se
reunia grande número de Africanos, pela maior parte escravos, os quais formavam
batuques estrondosos, como era por todos observado, resultando muitas vezes
desordens que davam não pouco trabalho a Polícia.
A vista de todas essas
plausíveis razões, e não por quaisquer outros motivos, a Comissão do presente
ano, a quem dei aquelas informações, acordou em princípio depositar os carros
em um pavilhão na Praça de Santa Izabel, em frente da Igreja da Sé, mas
tendo-se ela arruinada, resolveu, ainda por indicação somente minha, mandar
construir o referido pavilhão na Praça dos Veteranos que, a meu ver, é a mais
própria para esse fim, sendo essa uma das mais decentes desta Cidade.
Já vê Vossa Senhoria, que o
Coronel Carvalhal, nenhuma parte teve na escolha do local, e nem mesmo a
Comissão dos festejos se deixaria dominar senão pelos bons desejos de
abrilhantar o festim Nacional do sempre memorável Dois de Julho, e pelo velo de
evitar novos prejuízos como os que já se tinham dado, principalmente quando se
vê obrigada a fazer a maior economia, porque com poucos recursos pecuniários
conta para tantas despesas indispensáveis, visto que esses patriotas que muito
exigem, e que nada os contenta, não contribuem se quer com a mais diminuta
quota para a solenidade da festa.
Sabendo eu ontem na lapinha que
alguns moços, um pouco eletrizados e imprudentes se dispunham a dar o grito de
alarma, iludindo o povo a fim de fazer, a todo o tranco seguir para a Piedade
os carros, logo que partissem do Terreiro, depois da parada, procurasse
desvanecê-los deste intento criminoso, e entendi-me com a distinta Corporação
dos Caixeiros Nacionais, a quem dando os motivos que a cima apontei e que
levaram a Comissão a mandar a fazer no corrente ano o pavilhão na Praça dos
Veteranos da Independência, apelei para o seu verdadeiro patriotismo e bom
senso a fim de ser respeitado o programa da Comissão dos festejos, oportunamente
publicado nos jornais diários, sem reclamação alguma, e com o qual havia já
concordado a dita Corporação dos Caixeiros Nacionais.
Esta patriótica Corporação, que
de certo tempo pra cá muito tem concorrido para o brilhantismo do 1º Dia
Baiano, aplaudiu a deliberação da Comissão dos festejos, e tomou a si a direção
dos carros de triunfo para a Praça dos Veteranos, e assim cumpriu.
Não conheço um só dos
signatários da representação feita ao Governo, e nem pude obter informação
alguma sobre eles; tão desconhecidos são!
Intitulam-se procuradores do
povo, que lhes não deu procuração; são talvez anarquizadores que pretendem com
essa tirania marear o festim Nacional do dia Dois de Julho, mas que não poderão
conseguir, porque não estamos em um país de bárbaros, onde meia dúzia dia
indivíduos, sem nome conhecido, ousam ameaçar com essa irrisória energia e
valor a primeira Autoridade da Província, que arcada do prestígio que tem, e
dos auxiliares de que dispõe, em cujo número me honro de estar contemplado
nesta ocasião, saberá refletir essa audácia pouco comum, que só pode partir de
homens que nada tem a perder, e si alguém que, valendo-se de nomes supostos,
quer tirar alguma vingança pessoal.
Fui em pessoa a Praça da
Piedade, e nenhum vestígio ali encontrei que me levasse a crer a construção
desse sonhado barracão, em que, se diz que o Comércio gastou 450#000!
Posso assegurar a Vossa
Senhoria que é uma falsidade que os pseudorrepresentantes do povo querem
imputar ao pacífico e honrado corpo do Comércio.Entendo, porque o protesto dos
suplicantes e sua pretensão são um perfeito desproposito que não merece a menor
consideração de qualquer pessoa, e muito menos do Governo da Província.
Deus Guarde a Vossa Senhoria.
Ilustríssimo Senhor Doutor
Chefe de Polícia desta Província.
O Delegado, José Alves do
Amaral.
Fonte:
Arquivo Público da Bahia
Seção: Colonial /
Provincial
Série: Polícia
Maço: 2962
Documento composto de 11
páginas manuscritas,
constando anexo o abaixo
assinado e
respectivas assinaturas.