CANDOMBLÉ EM PASSÉ


Subdelegacia da Freguesia de São Sebastião das Cabeceiras de Passé, Termo da Vila de São Francisco, 5 de julho de 1879.
Ilustríssimo Senhor
Chegou-me as mãos o ofício de Vossa Senhoria, datado de 6 de junho próximo passado, hoje 5 de julho, no qual me ordena Vossa Senhoria que lhe informe com urgência sobre o cerco que dei a casa do africano liberto, de nome Paulo, morador em terras do Engenho Restauração, do Capitão Francisco Agostinho Guedes Chagas; assim como diz Vossa Senhoria ter-me oficiado no mesmo sentido no dia 16 de abril do corrente ano, ofício este que não recebi. Cumprindo as ordens de Vossa Senhoria passo a dar as informações que Vossa Senhoria de mim exige. Vindo ao meu conhecimento, por diversas pessoas, que o africano Paulo a título de curador e adivinhador, reunia em sua casa muita gente, e neste meio muitos escravos da vizinhança, que ali se acoitavam, com grande prejuízo de seus senhores, e da moral pública; para ali me dirigi, acompanhado do Alferes José Ventura Esteves e do cidadão Pedro Joaquim de Menezes, que a isto espontaneamente se prestaram, do Inspetor de quarteirão Emigdio  Moreira de Queiroz, do oficial de justiça e da força policial aqui destacada; e chegando, ás três horas da tarde no tal casebre, mandei, pelo Cabo Comandante do destacamento, por a casa em cerco, visto que tinha para mais de sessenta pessoas, entre forros e escravos, mandando nesta ocasião ao dito Inspetor participar ao capitão Chagas, o fim que tinha em mira esta dita delegacia, isto é, acabar por uma vez com aquele covil de imoralidades; não se achando, porém o referido  Capitão em casa, esta participação foi entregue a seu filho Antonio de tal, que se apresentando acompanhado de alguma pessoas, quis levantar o cerco, ao que me opus e corri a casa, achando dentro de [caboreis] e cumbucas, diversas qualidades de pós, porção de ossinhos, contas e muitas raízes de ervas, o que tudo mandei jogar fora, entregando ao dito Paulo, a vista das pessoas que me acompanharam, algum dinheiro de cobre que se achava em um quarto espalhado no chão, como sinal, sem dúvida de grandeza, prevenindo ao mesmo Paulo que se continua-se com suas feitiçarias o mandaria prender. Dando por finda a diligência, retirei-me, tendo recebido, por este motivo, muitos louvores das pessoas mais sensatas desta localidade. Convém orientar a Vossa Senhoria que já tenho tido diversas denuncias, que o dito africano, patrocinado pelo Capitão Chagas, continua, em outra casa, a proceder pela mesma forma, e que alguém o autoriza a levar a pau a força policial quando ali se apresentar. Por agora é o que me cabe levar ao conhecimento de Vossa Senhoria, não me esquivando a apresentar um abaixo assinado, se assim for preciso, confirmando o mau procedimento do tal Paulo, para que não estejam a levantar castelos aéreos, em falta de outros afazeres.
Deus guarde a Vossa Senhoria   
Ilustríssimo Senhor Doutor Chefe de Polícia da Província da Bahia.
José Torquato de Barros
Subdelegado.
FONTE:
Arquivo Público do Estado da Bahia
Seção Colonial
Polícia / Correspondência Recebida de Subdelegados
MAÇO: 6246
Ano: 1878-1879

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