A capital baiana foi muitas
vezes denominada por viajantes como a “cidade do porto”, “cidade armazém”,
“cidade voltada para o mar, cidade formigueiro” e “importante porto
exportador/importador”. O porto soteropolitano conferiu à cidade um destacado
caráter comercial; foi importante veículo de integração da região no sistema
capitalista internacional; e também foi a principal ligação entre o mundo rural
do recôncavo, produtor primário, e o centro consumidor urbano. A importância
estratégica do porto baiano fez com que este fosse por muito tempo conhecido
como o porto do Brasil. No século XVIII, foi sem duvida o principal entreposto
comercial do Atlântico Sul, uma vez que a baía de Todos os Santos oferecia um
abrigo seguro e grande facilidade em ser demandada pelos veleiros de longo
curso.
A construção de instalações
portuárias foi ordenada juntamente com a própria fundação da cidade. Assim,
desde 1549, com a chegada da armada que acompanhava Tomé de Souza para
instalação do Governo Geral e edificação de uma fortaleza, surge a cidade portuária
que viria a ser por mais de três séculos o mais importante centro urbano da
colônia. A ideia de melhorar a estrutura material do poro existiu desde os
tempos coloniais, a fim de facilitar o desembarque de cargas, realizando-o o
mais perto possível da baía. Isso porque, em períodos de temporais, as fortes
vagas e rajadas de vento forçavam as embarcações a arribarem da ponta de
Montserrat para diversos pontos do interior, pelos rios Cotegipe e Itapagipe.
A modernização do porto (1906 –
1930), feita junto com a ampliação do bairro comercial e a abertura da Avenida
Sete de Setembro, na cidade alta (1912 – 1916), foi determinante para a
remodelação da cidade do Salvador. No entanto, a inauguração de 400 metros de
cais e quatro armazéns, dos quais apenas dois pareciam funcionar, trouxe uma
série de problemas que frustraram a expectativa dos baianos. Com isso, os
comerciantes passaram a reivindicar o fim da cobrança obrigatória das novas
taxas de carga e descarga de mercadorias no novo cais, artefato moderno, mas
ainda totalmente inadequado.
Revivendo o centenário da
inauguração do porto modernizado de Salvador, apresentamos o seminário Cem Anos
do Porto de Salvador. Uma oportunidade para refletirmos sobre os impactos desta
construção num importante contexto em que o Brasil e a Bahia, em particular,
vêm empreendendo esforços para a revalorização histórica, econômica, social, e
cultural da região portuária soteropolitana.