Ilustríssimo Senhor Dr. Chefe de Polícia
Comunico a Vossa Senhoria as 11 horas da noite
cerquei uma casa ao Cabula, onde na quarta-feira e sábados há grande
concorrência de famílias a fim de tomarem ventura.
Os donos da casa são Agostinho José Ferreira e
Clara Maria da Conceição que vão a presença de Vossa Senhoria a fim de
providenciar a tal respeito, visto eles fazerem disso o modo de viver.
Deus Guarde a Vossa Senhoria
Bahia e Subdelegacia de Santo Antonio, 19 de agosto
de 1877.
Obedecendo ao respeitável despacho de Vossa
Excelência, anexado na petição retro, cabe-me informar-lhe que, chegando ao meu
conhecimento no mês próximo passado de haver no Cabula ou suas imediações uma
casa ou antes uma espelunca, em que se praticavam cenas supersticiosas e
revoltantes; pois que não só ofensivas á nossa Santa Religião, como também a
moralidade das famílias inexperientes, que, á pretexto de achar casamentos,
tentar fortuna e tirar vindictas de seus desafetos, corriam pressurosos e
cheios de confiança á aludida casa, habitada pelos peticionários, aos quais
pagando largamente, iam consultar sobre suas pretendidas imaginações, esperando
deles, por supô-los inspirados profetas, valioso apoio e pronto remédio.
Indignado fiz na noite de 15 do referido mês para
ali marcharem as praças do meu destacamento e a uma hora da madrugada ordenei o
cerco da referida casa, na qual observando as formalidades exigidas, penetrei
acompanhado das respectivos, Escrivão e Comandante do mesmo destacamento.
Contemplando a dita casa abjeta, que meus olhos se
descortinava, enchi-me de pasmo por ver que a tais horas essa casa se achava
literalmente cheia, pois nela estavam muitos Pais de família, com suas filhas,
moços de alguma educação e grande concurso de povo de todas as classes, e oh
horror!.. Até um Padre!!... É na verdade depravação ilimitada um Reverendo
pactuar com tanta infâmia!!!!!...
Nessa hora para eles talvez amarga, em presença da
mesma força, cresceu a confusão, proveniente do terror dos sitiados, a quem
logo tratei de sossegar, censurado-os em seguida e reprovando o seu lamentável
procedimento, pois que iludidos, acreditavam numa seita infundada e mentirosa,
donde só lhes podia vir o prejuízo a
desmoralização. Em continente intimei a prisão a Agostinho, o curandeiro e a
sua Jacobina, únicos responsáveis e criminosos em todo esse drama, os quais fiz
apresentar no mesmo dia a Vossa Excelência que, não tendo ciência desses
industriosos feitos, e deixando-se levar por seus rogos e humilhações, dei-lhes
a liberdade, para agora julgarem-se com direito de exigir uma licença de Vossa
Excelência, o qual os garanta em suas cenas degradantes, e os ponha a salvo de
qualquer agressão.
Os suplicantes jeitosos poderão insinuar-se no
espírito dos incrédulos e encantos, apregoando-se de uma força misteriosa, e
com isso fazem atrair a grande concorrência de ambos os sexos, como acabei de
ver, e quais outros parasitas vão sugando-lhes o suor e extorquindo de cada
visitante a bagatela de cinco mil réis por noite!...
Ilustríssimo Senhor, por informantes fidedignos
estou por demais convencido de que os suplicantes, longe de louvarem o nosso
Bom Deus, como em sua petição afirmam, pelo contrário, nessas funestas reuniões
ultrajam-no; pois que, esses moços e tantos outros frequentadores dessas
bacanais, sempre desenfreados, de maus precedentes, acostumados a difamações e
auxiliados pelos supostos curandeiros, cometem toda espécie de imoralidades,
cujos fins libidinosos para ali os arrastam!...
Em vista, pois, desta triste exposição, que
infelizmente é a verdade, seria irrisório e até culpável o consentimento pleno
de tão perigosas reuniões, que tomaram de certo proporções assustadoras se os
suplicantes forem autorizados pela Polícia, como desejam.
Mas Vossa Senhoria escrupuloso e justiceiro, como
estou certo que não pactuará com tanta imoralidade.
Bahia Subdelegacia do 2º distrito de Santo Antonio,
17 de setembro de 1877.
O Subdelegado
Fortunato José de Andrade.
Fonte:
Arquivo Público da Bahia
Seção Colonial Provincial
Subdelegados - 1877
Maço: 6245