A
trajetória de Caio Prado Júnior se confunde com a do Brasil do século XX. Como
importante personagem de nosso país, muito já se escreveu sobre ele. Ainda
assim, vários aspectos de sua vida e de seu pensamento foram pouco explorados
ou discutidos. Detalhes de suas relações políticas, leituras, viagens aos
países socialistas e avaliações sobre alguns temas candentes de sua época
permanecem desconhecidos do grande público. A biografia política escrita por
Luiz Bernardo Pericás, um estudo de fôlego sobre o intelectual paulista, vem a
suprir essa lacuna.
Quando
Caio Prado Júnior morreu, em 1990, não houve grande impacto. O que talvez não
fosse de estranhar: devido ao mal de Alzheimer, estava, havia algum tempo,
recolhido. Mais importante, faleceu quando o curso do mundo parecia desmentir
suas teses. O muro de Berlim caíra apenas um ano antes e o neoliberalismo não
era efetivamente questionado naqueles tempos. Desde então, muito mudou: a
América Latina passou pelo que foi chamado de uma “onda vermelha”; viveu-se o
boom das commodities e seu ocaso; o capitalismo enfrenta, há alguns anos, uma
grave crise. Ironicamente, as voltas que a história dá dotaram a obra do
historiador marxista de uma surpreendente atualidade, contribuindo para o
grande interesse demonstrado por ela nos últimos tempos.
Assim,
mesmo que o mundo do historiador marxista não seja mais o nosso, o
impressionante trabalho de pesquisa de Caio Prado Júnior: uma biografia
política – em que seu biógrafo consultou uma vasta bibliografia, pesquisou em
inúmeros arquivos e realizou diversas entrevistas – é capaz de trazer seu
personagem mais próximo de nós.
[Texto
de orelha assinado por Bernardo Ricupero]