Apresentação
Este Simpósio se propõe
empreender um renovado caminho de interpretação do fenômeno inquisitorial. A
intenção é ampliar os espaços geográficos da investigação sobre a Inquisição;
desenhar novas fronteiras e definir as diretrizes do diálogo entre centro e periferia
e, ao mesmo tempo, entre periferia e os centros que elaboraram e criaram o
discurso inquisitorial. O desafio é desenvolver uma análise global de uma
instituição que influenciou enormemente a vida das sociedades onde se
implantou, mas que também se viu afetada por muitos elementos das realidades
dentro das quais se foi difundindo, obrigada a negociações múltiplas, seja nos
espaços peninsulares, seja nas regiões extra europeias.
Madri, Roma e Lisboa foram
centros diretores de uma instituição com uma anterioridade (tardo-medieval),
mas onde as novas fronteiras religiosas, geográficas, políticas e culturais do
século XV em diante impuseram desafios que conduziram à sua reinvenção
constante. A expansão da Inquisição a partir de 1478 não é meramente geográfica
e de controle do território, mas também de ampliação jurisdicional. A
multiplicação das sedes dos tribunais por três continentes, que incrementou o
número de centros inquisitoriais, é concomitante com uma ampliação da
vigilância do Santo Ofício sobre os horizontes comportamentais das sociedades.
Este Simpósio será um
território aberto para uma investigação historiográfica capaz de assumir o
desafio de abrir novas fronteiras na forma de estudar e de interpretar a
Inquisição. A fonte inquisitorial será assim utilizada como subsídio para
penetrar sociedades e tempos. O novo desafio é conseguir compreender a
(re)invenção das sociedades através do fenômeno inquisitorial, desde como se
assume e percebe um assunto tão estritamente ibérico como o da limpeza de
sangue até como se concebe o papel evangelizador das sociedades católicas
dentro e fora do mundo cristão. Trata-se de examinar como a criação de novos
centros inquisitoriais reconfigura e reformula a periferia dos comportamentos
humanos em sua reprodução social.