REENCONTROS NA ESCRAVIDÃO

A história dessas duas mulheres não poderia ser contada se não fosse à preservação deste documento por meio digital, sua perda o levaria ao anonimato para sempre! Conheça o projeto: DIGITALIZANDODOCUMENTOS AMEAÇADOS: OS LIVROS DE NOTAS DA BAHIA - 1664-1889. 

Traficada como milhões de outros escravos para o Brasil, Anacleta Maria do Rosário, jamais imaginaria reencontrar sua filha na Bahia, porém, o destino havia de lhe pregar uma peça; ao encontrar em um lote “uma filha sua que havia ficado na dita Costa da Mina”. Logo a comprou e providenciou sua liberdade e batismo, e seu nome católico não poderia ser outro, Felicidade! Sim, feliz a Anacleta e sua filha, pois as amarguras do cativeiro só duraram o tempo da longa e dolorosa travessia atlântica. 
Muitas foram as Felicidades, que como a de Anacleta, viveram como cativas no Brasil, mas não tiveram a mesma sorte. Histórias como a de Felicidade e sua mãe, fazem parte de uma época em que, não só o estigma da escravidão se fazia presente em suas vidas, mas também, a submissão, humilhação dentre outras perseguições.         
     

Cópia da carta de liberdade da preta Felicidade conferida por Anacleta Maria do Rosário

Digo eu Anacleta Maria do Rosário, natural da Costa da Mina, que [me achando] já liberta nesta cidade, acontece aparecer cativa no lote e poder de José Antônio da Costa uma filha minha que havia ficado na dita Costa da Mina, a qual comprei pelo preço e quantia de cento e noventa mil réis, que logo os paguei em dinheiro corrente; e suposto a mandar-se Batizar forra pondo-lhe o nome de Felicidade, contudo para seu título por meu falecimento em qualquer parte onde ela possa ir de viagem ou habitar, faço a presente carta de liberdade, e rogo as Justiças de Sua Majestade de um e outro foro lhe deem todo o vigor e proteção que em direito for permitido por ser a presente liberdade, conferida como mais a mesma faça essa para sua inteira validade lhe faltar alguma cláusula ou cláusulas a hei por expressas e declaradas como se dela fizesse expressa menção; e por eu não saber ler nem escrever pedi a José Miguel Álvares esta por mim fizesse, e como testemunhas assinasse em presença das mais testemunhas também assinadas. Bahia, vinte seis de junho mil oitocentos dezoito. Como testemunha que esta fiz a rogo de Anacleta Maria do Rosário, José Miguel Álvares, como testemunha Caetano Álvares do Espírito Santo, Joaquim Maxado Pessanha, Luís Gonzaga de Santana. Distribuição: ao Tabelião Albergaria, Bahia, vinte seis de julho mil oitocentos e dezoito, Amado, Reconhecimento, Reconheço ser própria, Bahia, quatorze de julho mil oitocentos e dezoito. Em testemunho de verdade, estava o sinal público, Marcelino Epifânio Soares de Albergaria. E copiada a dita carta de liberdade a qual me reporto esta conferi, consertei, subscrevi e assinei, e a própria carta entreguei a quem abaixo assinou. Bahia, 17 de julho de 1818. Eu Marcelino Epifânio Soares de Albergaria, que o subscrevi.    
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia

Seção Judiciária/Livro de Notas 196 – P. 43V.     
Observação: Livro encontra-se sem acesso por estar bastante fragilizado.