Nascida
em 12 de dezembro de 1761, Joana Angélica de Jesus tornou-se heroína e mártir da
Independência do Brasil. Reza a lenda que ao invadirem as dependências do
Convento da Lapa, as tropas portuguesas foram recepcionadas pela Madre, que
exclamou: “Para trás, bandidos. Respeitem a casa de Deus. Recuai, só
penetrareis nesta casa passando por sobre o meu cadáver”. Não há notícias
de documento histórico que revele tal fala. O fato ocorrido em 20 de fevereiro
de 1822, ficou marcado na história da nossa Independência. Representante da
Igreja Católica a Abadessa Joana Angélica não poderia fugir ao costume, como a
instituição da qual fazia parte, ela também possuía escravos, como muitas outras
freiras enclausuradas, que eram remetidas para essas masmorras pelos seus pais,
muitas vezes para manterem as suas filhas longe das tentações mundanas, entretanto,
não estavam tão protegidas assim, que nos diga o nosso Gregório de Mattos. Joana
Angélica foi proprietária da escrava Florinda, que a passou para duas de suas
irmãs de convento, sendo passada a sua alforria em 22 de junho de 1816, a carta
foi registrada em cartório oito anos depois, em 28 de fevereiro de 1824, dois
anos após a morte de sua antiga senhora. A carta é de texto simples e não traz detalhes
se a alforria foi condicional ou não, mas, pelo tempo que levou entre a feitura
da carta e o seu registro em cartório, provavelmente tenha sido por condição
das novas proprietárias. Segue a carta na íntegra.
Digo eu a
Madre Abadessa Soror Joanna Angelica de Jesus que entre os bens que possui esta
Religiosa comunidade é bem assim uma escrava de nome Florinda de São José, a
quem foi dada a Madre Joanna Maria de Jesus e Madre Anna Maria da Encarnação
para o seu serviço dentro desta clausura a que a dita escrava a liberto de hoje
para sempre e poderá gozar de sua liberdade como se nascesse livre do ventre de
sua Mãe. E para clareza passo esta por mim assinada. Bahia, e Convento de Nossa
Senhora da Conceição da Lapa 22 de junho de 1816. Soror Joanna Angelica de Jesus,
Abadessa. Soror Joanna Maria das Chagas Escrivã, Soror Thomazia Maria do
Coração de Jesus Disereta, Soror Maria Bernardina do Paraíso Disereta.
Reconheço as firmas supra. Bahia, 27 de fevereiro de 1824, estava o sinal
público, em testemunho de verdade. Francisco Teixeira da Mata Bacelar. Ao
Tabelião Mata. Bahia, 27 de fevereiro de 1824. Simões. E nada mais continha a
dita carta de liberdade que aqui lavrei da própria que entreguei a quem me
apresentou, e abaixo assinei, e com outro oficial concertei nesta Cidade da
Bahia aos 28 de fevereiro de 1824, eu Francisco Teixeira da Mata Bacelar
Tabelião a escrevi e assinei.
Fonte: