Acervo de documentos históricos da Santa Casa revela a vida dos escravos na Bahia


São mais de 1,8 mil livros históricos, incluindo testamentos e registros de entrada
Braz, Adão, Hermenegildo, Porcino, Estevão, Aprigio, João, Mizael, Joaquim, Adão, Ludgero, Manoel, José Pequeno, Tiburcio, Maria, Domingas, Theodolinda, Roza. No dia 9 de julho de 1887, todos esses – apenas parte dos escravos da dona de taverna Raimunda Porcina de Jesus -, foram libertos em Salvador. Em seu testamento, a mineira radicada na Bahia, morta aos 62 anos, deixava, para eles, pelo menos dez imóveis.
O ato de Raimunda Porcina – uma das figuras curiosas da história da Bahia, apontada como cozinheira e até como primeira empresária do ramo musical no país – veio antes mesmo da abolição da escravatura, decretada em 13 de maio do ano seguinte, com a Lei Áurea. O testamento dela é um dos documentos raros que estão no acervo da Santa Casa de
Misericórdia da Bahia, em Nazaré.
Ao todo, são mais de 1.850 livros que remetem à história da entidade, escritos entre 1629 e até o século XXI, além de mais de mil documentos avulsos. São documentos que revelam fatos históricos do estado e do país e que, como é consenso entre historiadores, ajudam a entender o presente. No mês da Consciência Negra, o CORREIO visitou o centro de memória e teve acesso aos arquivos, que revelam como era a condição dos negros nos primeiros séculos de Salvador.
Além de testamentos, há também documentos como o assinado pelo ex-provedor da Santa Casa Francisco José Godinho. Em 1858, ele deixou uma quantia destinada à instituição para que, a cada ano, a entidade lançasse um edital público para comprar a alforria de três crianças com idades de até três anos.

No ano seguinte, foram alforriadas a menina Estelita, de apenas 5 meses de idade, filha de Severina; Isabel, filha de Maria Emília da Costa, e Liberata, filha de Maria. Por cada uma das crianças, era pago o valor estipulado pelo senhor em questão – em geral, variava entre 100 mil e 200 mil réis. Todas as transações estão documentadas nos livros da Santa Casa.
A maioria está em sua forma original, mas mais de 20 mil páginas já estão digitalizadas (o que corresponde a três coleções).
“Essa documentação é preponderante para entender a formação da cidade e do própria estado”, diz a coordenadora do Centro de Memória da Santa Casa da Bahia, Rosana Santos.

ACESSE NA ÍNTEGRA: 
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/acervo-de-documentos-historicos-da-santa-casa-revela-a-vida-dos-escravos-na-bahia/