ANNA NERY VAI À GUERRA


Tendo já marchado para o Exército dois de meus filhos, além de um Irmão e outros parentes, e havendo se oferecido o que me restou nesta Cidade, Aluno do 6º ano de Medicina, para também seguir a sorte de seus Irmão e parentes na defesa do País, oferendo seus serviços médicos, como brasileira, não podendo ser indiferente aos sofrimentos dos compatriotas, e como Mãe, não podendo resistir a separação dos objetos que me são caros, e por uma tão longa distância, desejava acompanha-los por toda a parte, mesmo no teatro da Guerra, se isso me fosse permitido; mas opondo-se a este meu desejo a minha posição e o meu sexo não impedem, todavia, estes dois motivos a que eu ofereça os meus serviços em qualquer dos Hospitais do Rio Grande do Sul, onde se façam precisas, com o que satisfarei ao mesmo tempo os impulsos de Mãe, e os deveres de humanidade para com aqueles que sacrificam suas vidas pela honra e brios nacionais e integridade do Império.

Digne-se Vossa Excelência de acolher benigno este meu espontâneo oferecimento, ditado tão somente pela voz do coração.
Bahia, 8 de agosto de 1865.
Deus Guarde a Vossa Excelência
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Manoel Pinto de Sousa Dantas, Meu Digno Presidente desta Província.
Dona Anna Justina Ferreira Nery.
Fonte: 
Biblioteca Francisco Vicente Vianna. 
Arquivo Público do Estado da Bahia.