Ilustríssimos
Excelentíssimos Senhores
1823
Diz José
Ignacio Gonçalves, morador na Vila de Nossa Senhora da Purificação e Santo
Amaro, que vivendo manso e pacífico na dita Vila, inteiramente ocupado em
procurar os meios da sua subsistência, sem que em nada fosse contrário a Santa
Causa do Brasil, donde se considera natural por vir para ele de menor idade da
Costa de África em que nasceu; contudo foi preso por ordem do Excelentíssimo
General Labatut, e desterrado para a Vila do Itapicuru, na qual se acha a mais
de dois meses, com o fundamento de ser o Suplicante amigo dos Europeus, que
emigraram daquela Vila para a Cidade, e de ter com eles correlações, e o mais
que talvez lhe acumulassem os seus inimigos para denegrirem a boa reputação que
sempre teve o Suplicante. Não é crível, Excelentíssimos Senhores, que sendo o Suplicante
um preto pobre e maior de setenta anos perpetrasse um tal delito, e tanto é
inocente nele, quanto se mostra da atestação juntas, e melhor dia justificando
que já fez; a qual sendo apresentada ao mesmo Excelentíssimo General deposto,
já mais obteve deferimento algum; por isso vem suplicar humildemente a Vossas
Excelências se dignem pelo Amor de Deus mandar relaxar o Suplicante do degredo
em que se acha, visto que a sua qualidade, idade, pobreza, documento junto, e
da justificação mostram com a maior evidência a impossibilidade de existir nele
a culpa imputada.
Pede a
Vossas Excelências se dignem atender ao Suplicante, em mandá-lo soltar, visto
ser inocente.
Espera
Receber Mercê
FONTE: APEB, Seção Colonial, Maço: 2883