GAMES E HISTÓRIA: O USO DE JOGOS DIGITAIS COMO FONTES HISTÓRICAS


Coordenador(es): DIOGO TRINDADE ALVES DE CARVALHO (Doutorando(a) - UFBA)

Ementa / Justificativa: Ementa: 

Na contemporaneidade o uso de jogos de eletrônicos se tornou comum no cotidiano de milhões de pessoas. Atualmente, os games possuem a capacidade de recriação e mixagem de eventos históricos. A utilização de jogos eletrônicos não está somente restrita ao entretenimento, mas também está relacionado a estratégias de disseminação de discursos sobre eventos históricos de suma importância. Neste sentido, pretendemos abordar a viabilidade da utilização dos games como fontes históricas, contextualizando-os a partir de intersecções com as discussões historiográficas, ainda em curso, sobre o uso de fontes nascidas em meios digitais e que constituem um novo campo de abordagem documental imprescindível para a historiografia contemporânea. Iremos expor, no decorrer do minicurso, as discussões teóricas sobre as culturas digitais, o estágio das pesquisas sobre história e jogos eletrônicos no Brasil e no mundo. Também apresentaremos uma metodologia especifica de análise para games com foco na pesquisa histórica formulada a partir das reflexões de Espen Aarseth sobre este tema.
Justificativa: A distância de determinado objeto dificulta a sua adoção para análise em determinados campos do saber. A dificuldade da aceitação de novas fontes impede que o escopo interpretativo sobre determinados fenômenos, como a gamificação, seja debatido por algumas áreas como a historiografia. Existe uma distância entre a historiografia e as culturas digitais. Por isso, temos a intenção de contribuir, através deste minicurso, no sentido de diminuição destas distâncias e do estranhamento que o uso deste tipo de fonte ainda causa na historiografia.

Conteúdo programático / Metodologia: Metodologia.

Durante o minicurso iremos expor uma visão panorâmica sobre o uso de games como fontes históricas. No primeiro momento, apresentaremos os debates sobre temas inerentes ao uso de novas fontes digitais. Após a discussão teórica sobre estes temas, iremos apresentar uma proposta de metodologia de análise de games desenvolvida no âmbito da nossa pesquisa de doutoramento.
1: Apresentação e debate sobre o conteúdo programático.
2: Apresentação da metodologia de análise historiográfica dos games.

Conteúdo programático.


Culturas Digitais: debates e interpretações. O uso de fontes nascidas em meio digital. Noções sobre audiovisualidade e seus impactos na historiografia. História dos videogames. Games como fontes históricas no Brasil e no Mundo. Gamificação e a sociabilidade contemporânea. Abordagem metodológica dos games no âmbito da historiografia.

VII SEMANA DE HISTÓRIA DA UFBA – O CONHECIMENTO HISTÓRICO COMO AGENTE TRANSFORMADOR


A “VII Semana de História da UFBA – O conhecimento histórico como agente transformador”, promovida pelo Centro Acadêmico de História Luiza Mahin, conjuntamente com os discentes da graduação, de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da UFBA e com a Revista de História da UFBA, será um espaço de reflexão e divulgação de atividades e pesquisas desenvolvidas tanto pelos estudantes da casa, quanto de outras universidades e faculdades privadas. O evento será realizado, durante o período matutino e vespertino no Campus de São Lázaro, e durante o período noturno no Campus de Ondina; e, ainda, é um espaço de encontro entre estudantes, funcionários e professores de diversos cursos da Universidade.

Discutiremos, dentro desse espaço acadêmico, alguns temas concernentes tanto à atual conjuntura do país, quanto às diversas demandas políticas do curso de história, como currículo, gênero e diversidade, minorias étnicas e raciais, movimento estudantil etc. Nas conferências teremos a participação de alguns professores da casa, além de convidados, e poderemos refletir sobre algumas questões; sendo as conferências divididas por linha (Escravidão e invenção da liberdade; Cultura e sociedade; Sociedade, relações de poder e região), uma a cada noite. Por fim, reiteramos que o evento tem esse caráter interlocutor entre os diferentes níveis de ensino, aproximando assim os participantes das diversas discussões e abordagens historiográficas e agregando nesse processo a comunidade externa.

Diante da distância existente entre a graduação e a pós-graduação no campo da produção científica, nós, Centro Acadêmico de História Luiza Mahin, discentesda graduação, do PPGH-UFBA e Revista de História da UFBA, acreditamos que a organização conjunta de um evento que agregue os dois públicos será extremamente importante para fomentar o diálogo e a troca de conhecimento entre a graduação e a pós-graduação. Essa proposta partiu de estudantes do PPGH que demandaram um espaço acadêmico onde possam apresentar suas pesquisas e dialogar com os estudantes da graduação.

Por sua vez, os graduandos têm cobrado um espaço para discutirem e difundirem suas pesquisas realizadas no PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) e nos demais projetos de pesquisa, ensino e extensão da UFBA. Dessa maneira, o evento será um importante espaço de interlocução em níveis local e regional, pois contará com a participação de estudantes das demais universidades (estaduais, federais) e faculdades privadas, além de agregar coletivos e movimentos sociais. O evento tem, sobretudo, um caráter político, de modo que suscita debates atuais – conjuntura política, políticas públicas, práticas sociais etc - e evoca o conhecimento histórico como agente ativo e transformador de nossa realidade social.
ACESSE E FAÇA SUA INSCRIÇÃO: http://www.semanadehistoria2016.ufba.br/ 

CONVERSANDO COM SUA HISTÓRIA

Experiências na militância política, aspectos históricos e movimento estudantil no período ditatorial militar brasileiro, ocorrido entre 1964 e 1985, serão alguns dos temas abordados no Conversando com a sua História em agosto. O projeto, de autoria do Centro de Memória da Bahia – vinculado à Fundação Pedro Calmon/ SecultBA, tratará sobre o período que foi marcado pela imposição de diversos Atos Institucionais, falta de democracia, omissão de direitos humanos e a repressão. As palestras - abertas ao público - acontecerão sempre às 17h, no quadrilátero da Biblioteca Pública do Estado da Bahia - a Biblioteca dos Barris.
ACESSE: 

INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O CURSO HISTÓRIA DA BAHIA


O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, com apoio da Secretaria de Cultura, Fundação Pedro Calmon e Fundação Gregório de Mattos, está com inscrições abertas para a quinta edição do CURSO DE HISTÓRIA DA BAHIA. Ministrado e coordenado pela professora doutora Antonietta D´Aguiar Nunes, as aulas vão acontecer uma semana por mês, sempre das 14h às 17h, entre agosto a novembro, com carga horária de 80 horas (ver programação abaixo).
Durante o curso serão debatidos temas como a Pré História Brasileira e Baiana; capitanias hereditárias; primeiros engenhos; o séc. XVIII baiano: ouro em Rio de Contas e Jacobina; Revolução dos Búzios; a província da Bahia do sec. XIX; a Bahia republicana; revolução de 1930 e a chamada Era Vargas, dentre outros.
Em 2013, durante a terceira edição do encontro, o IGHB lançou, com o apoio da Bahiatursa, o livro “Conhecendo a História da Bahia – da pré-história a1815”, de autoria da historiadora Antonietta D´Aguiar Nunes. A publicação referiu-se ao período que vai desde a pré-história nas terras hoje consideradas Brasil, a chegada dos europeus, a colonização chegando até a elevação do Brasil a Reino Unido aos de Portugal e Algarves numa comunidade lusófona de nações. O segundo volume, Conhecendo a História da Bahia no período monárquico (1815-1889), com previsão de lançamento em novembro, refere-se ao período monárquico, abrangendo o Brasil Reino e o Brasil Império até a Aclamação da República na Bahia, uma das últimas províncias a aderir ao novo regime de governo: 1815 a 1889.
Estão sendo oferecidas 180 vagas. A taxa de inscrição é R$ 100,00 (cem reais) e pode ser feita pelo site www.ighb.org.br – Informações: Avenida Joana Angélica, 43, Piedade, e tel. 71 3329 4463 (das 13h às 18h).
Sobre a coordenadora: Antonietta D´ Aguiar Nunes é instrutora e coordenadora do Curso de História da Bahia desde 2011. Graduou-se em História em 1963 pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Ufba. Residiu em São Paulo onde fez a Pós-Graduação em Arte e Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, lecionando História na Pontifícia Universidade Católica e na Faculdade Prof. Carlos Pasquale. Retornando a Salvador, ensinou História da Bahia na Faculdade de Turismo da profª Olga Mettig e ingressou na Faculdade de Educação da UFBA para dar aulas de História da Educação, como professora substituta e depois concursada, onde fez o Mestrado e o Doutorado. Foi ainda Historiógrafa do Arquivo Público do Estado da Bahia, desde 1981 até quando se aposentou em 2011.

SERVIÇO
O que: Curso de história da Bahia
Quando: agosto a novembro de 2016 (quatro módulos)
Coordenadora e Instrutora: Antonietta D´Aguiar Nunes
Historiógrafa do Arquivo Público do Estado da Bahia por 30 anos e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.
Valor: R$ 100,00 (cem reais)
Carga horária: 80 horas


MESTRADO ACADÊMICO EM HISTÓRIA

Programa de Pós-Graduação em História, Cultura e Práticas Sociais - UNEB - Campus II

Edital de seleção de alunos de matrícula regular 2016-2017

Área de Concentração: História, Cultura e Práticas Sociais

Parte dos pressupostos clássicos da História Social articulados aos mais recentes desdobramentos da historiografia e articula as práticas e as representações construídas pelos diversificados atores em suas ações coletivas. Considera os elementos simbólicos como referências para a investigação histórica. Assim, abarca pesquisas que explorem práticas discursivas que se exprimem em narrativas literárias, memorialísticas e autobiográficas objetivadas em trajetórias individuais ou de grupos. Sob esse ângulo, desenvolve reflexões em torno das subjetividades que se revelam nas condutas culturais de configurações de classe, étnicas, raciais oriundas dos meios urbanos e rurais com atenção às suas especificidades. Nessa medida, interessam e se convertem em objeto de pesquisas os elementos que atravessam o mundo da produção da vida material e cultural. Debruça-se sobre as tradições, construídas e inventadas, tomando-as como elementos que cimentam as práticas sociais e suas temporalidades históricas. Além de dedicar-se à investigação acerca do universo do trabalho e da cultura e suas formas de expressão narrativa, a área investe na construção de arquivos que atendam aos objetivos estratégicos do programa, conforme suas linhas de pesquisa.

Linhas de Pesquisa

Linha 1: Sociedade e Práticas Narrativas

Esta linha de pesquisa ocupa-se dos diferentes registros das experiências sociais e das práticas de desarquivamento com vistas à elaboração de narrativas acerca do vivido em âmbito público e privado. Acolhe propostas de investigação que reflitam sobre questões relacionadas às narrativas de natureza memorialística, biográfica, literária e historiográfica. Reconhece a multiplicidade dos discursos que contribuem para a escrita da História e a importância dos memorialistas, arquivistas e escritores de diferentes tempos e lugares, visando explorar o sentido dessas práticas e suas contribuições para a historiografia. Busca ampliar a noção de fonte histórica e objetivá-la na orientação de pesquisas que relacionem sociedade, cultura, poder e suas modalidades de representação discursivas.

Linha 2: Mundos do Trabalho, Práticas Sociais e Trajetórias

Os temas a que esta linha de pesquisa se dedica vinculam-se à temática do trabalho em suas múltiplas dimensões, articulando os mundos do trabalho com a diversidade de práticas sociais dos sujeitos. Preocupa-se com a intersecção entre escravidão e liberdade, buscando alinhavar a integração dos estudos sobre trabalhadores livres, escravizados e libertos e o estabelecimento de conexões entre a escravidão e o pós-abolição. Incentiva a análise de trajetórias individuais e/ou coletivas que revelem experiências de vida construídas não apenas nos espaços de produção da riqueza material, da política e do poder, mas também nos mais variados ambientes de convívio, lazer e sociabilidade. Em uma perspectiva orientada pelo campo da cultura, busca compreender estratégias de classe, percepções de mundo, memórias, identidades, valores e crenças, acolhendo, portanto, pesquisas que abranjam aspectos diversos da vida em sociedade.

INSCRIÇÕES

Poderão se inscrever os candidatos graduados em curso superior de qualquer área, desde que reconhecido pelo MEC ou revalidado, nos casos de títulos obtidos no exterior.

Período: 15/08 a 30/09/2016, das 9h às 12h e das 14h às 17h, nos dias úteis.

CALENDÁRIO RESUMIDO DA SELEÇÃO 2016/2017

- Período de Inscrições: 15/08 a 30/09/2016;
- Homologação das inscrições: 7 de outubro de 2016;
- Resultado da 1ª ETAPA (Análise e seleção dos Projetos de Pesquisa): 21 de outubro de 2016;
- Realização da 2ª. ETAPA (Prova Escrita): 24 de outubro de 2016, das 9h às 13h;
- Resultado da 2ª. ETAPA (Prova Escrita): 1 de novembro de 2016;
- Realização da 3ª. ETAPA (Entrevistas): 7 a 9 de novembro de 2016.
- Resultado final: 16 de novembro de 2016;
- Início do curso: 6 de março de 2017.


IV SEMANA DE HISTÓRIA DA UNEB - CAMPOS II - ALAGOINHAS - BA

ACESSE A PROGRAMAÇÃO COMPLETA: 

VAGA DE ESTÁGIO BIBLIOTECONOMIA


Fundação Pedro Calmon

Estágio A Fundação Pedro Calmon/SecultBa está com inscrições abertas para vaga de estágio. Estudantes de Biblioteconomia, cursando a partir do 3º semestre, devem enviar os currículos até o dia 03 de agosto, para o e-mail: curriculo.rh@fpc.ba.gov.br com o assunto "Estágio Biblioteconomia".

LANÇAMENTO: O REI, O PAI E A MORTE: A RELIGIÃO VODUM NA ANTIGA COSTA DOS ESCRAVOS NA ÁFRICA OCIDENTAL


Convidamos a tod@s para o lançamento do livro O rei, o pai e a morte: a religião vodum na antiga Costa dos Escravos na África Ocidental, de Luis Nicolau Parés. Nicolau tem estudado os cultos voduns na Bahia e no golfo do Benim por anos. Esse empenho já havia dado resultado com os livros A formação do Candomblé e o site Práticas religiosas na Costa da Mina (www.costadamina.ufba.br), além de diversos artigos. Agora ele foca sua atenção nas práticas religiosas da região e seus desdobramentos na economia, política e sociedade da chamada área gbe.
O lançamento vai acontecer 16 de agosto a partir das 18h no Espaço Cultural da Barroquinha, que contará ainda com um bate-papo com Nicolau, que terei a honra de participar como mediador. Vale a pena prestigiar o lançamento dessa importante obra sobre história do golfo do Benim em português, que contou ainda com belíssimo prefácio do embaixador Alberto da Costa e Silva.

EDITAL ARQUIVO E MEMÓRIA: RESTAURAÇÃO E DIGITALIZAÇÃO DE ACERVOS ARQUIVÍSTICOS

Arquivo e Memória

Com objetivo de apoiar ações de restauração e digitalização de acervos arquivísticos, tanto textuais, quanto audiovisuais, sonoros ou iconográficos, o edital Setorial de Arquivos 2016 – Restauração e Digitalização de Acervos Privados visa incentivar a preservação e a democratização do acesso. Os documentos devem ser identificados como de interesse público e social para o resgate da memória coletiva da sociedade baiana. O valor global para as propostas será de R$ 300 mil no total, com limite de R$ 50 mil, para cada selecionado.

III JORNADA INTERNACIONAL SOBRE DIGITALIZAÇÃO DO DOCUMENTOS AMEAÇADOS - ACERVOS DIGITAIS E DIÁSPORA AFRICANA


Dia 26 de julho temos um encontro marcado no Auditório Multimídia do CCHLA/UFPB para debatermos sobre Acervos Digitais e Diáspora Africana no Brasil. Será as 19h. @s participantes inscrit@s e presentes irão receber certificado de 3 horas. 

ACERVOS DIGITAIS E DIÁSPORA AFRICANA


O Projeto tem por objetivo criar Acervos Digitais que contemple documentos (escritos, orais, iconográficos) e ações do protagonismo negro (vídeos-documentários), com vistas a atuar no processo educativo das relações étnico-raciais e na interatividade com os seus usuários (professores, extensionistas, pesquisadores, alunos e movimentos populares). Ao todo, 31.346 imagens foram digitalizadas e 7 vídeos documentários foram produzidos com lideranças e personalidades negras.
Vem conhecer o nosso projeto! 

UFBA 70 ANOS: DOCUMENTO, MEMÓRIA E HISTÓRIA


UFBA 70 ANOS: UM DESPERTAR PARA O CONHECIMENTO DA HISTÓRIA E MEMÓRIA DOS SÉCULOS XVI A XVIII


AS GREVES ESCRAVAS, ENTRE SILÊNCIOS E ESQUECIMENTOS

No Brasil do século XIX, antes dos imigrantes, negros e trabalhadores livres já faziam “paredes”, paralisações por melhores condições de vida e trabalho.

Por Antonio Luigi Negro e Flávio dos Santos Gomes

Dia ensolarado. O italiano Pascoal se aproxima do brasileiro Justino. Apelidado de “missionário”, o italiano usava um desses chapeletes de militante socialista. Com uma pá na mão, o operário — um negro — fez uma pausa no batente para olhar Pascoal nos olhos, ouvindo-o atento. Gesticulando com as mãos, compensando o sotaque carregado, o italiano viera atear fogo: criticou salários, incitou todos a largarem o serviço e a fazer a revolução. “Você, seu Pascoal” — argumentou Justino (também com seu sotaque próprio) — “está perdendo seu tempo. Eu não compreendo a língua estrangeira”.


Tal como na charge de J. Carlos (publicada na revista Careta em 1917), imprensa, novelas e textos didáticos divulgaram para o grande público essa — fictícia — figura do italiano anarquista. Celebravam o mito do imigrante radical, uma fantasia em parte utópica e preconceituosa. Utópica porque os trabalhadores europeus não eram em sua maioria rebeldes nem se sentiam italianos. Ou seja, nem sempre eram anarquistas e tampouco se declaravam italianos. Na verdade, uma grande parte era de origem rural, não era composta de artesãos radicais ou trabalhadores de fábrica. Esses imigrantes não traziam consigo, em segundo lugar, uma maciça experiência de envolvimentos com partidos, greves e sindicatos. Havia, em acréscimo, divisões étnicas entre os imigrantes. Consequentemente, a desconcertante conclusão de Michael Hall é a de o nascente operariado industrial de São Paulo de origem imigrante ter contribuído para manter a classe operária em situação relativamente fraca e desorganizada. Muitos abraçavam identidades étnicas antes de mais nada, pois lhes assegurava um senso imediato de comunidade. Outros eram católicos e conservadores. Também aceitaram serviços cuja remuneração os brasileiros recusavam (1).

O mito do imigrante radical é também um preconceito porque, entre silêncios e esquecimentos, impede que o trabalhador local (a começar pelo escravo) apareça como protagonista das lutas operárias. Figuras como a de Justino, que aparece trabalhando mas é pintado como alheio à pregação inflamada do italiano radical, personificaram o anti-herói conformista. Enquanto que Pascoal desembarca pronto para lutar, o operariado formado em solo brasileiro deve, nessa ótica, ou aceitar a liderança do imigrante ou ficar de fora; quase um fura-greve. Deste modo, as imagens do trabalhador estrangeiro, branco, anarquista e rebelde, assim como a do trabalhador brasileiro longe das lutas, não passam de uma representação caricata do operariado do início do século XX.

Além disso, de acordo com esse mito do imigrante radical, a paralisação coletiva do trabalho seria algo tão inédito no Brasil que sequer haveria um termo disponível na língua portuguesa para nomear o fenômeno. Na falta dessa palavra, éramos obrigados a tomar de empréstimo aos franceses a palavra grève! No entanto, a paralisação do trabalho como forma de protesto e barganha foi sempre uma consequência tão espontânea e lógica da experiência dos trabalhadores que boa parte das línguas europeias possui uma palavra própria para designar o fenômeno. Assim, ingleses fazem strike. Já os espanhóis entram em huelga, enquanto que italianos, quando param o serviço, estão em sciopero. No Brasil do século XIX, as primeiras formas de suspensão coletiva das atividades ficaram conhecidas como paredes. Sem essa, portanto, de um Pascoal rebelde e um Justino que não fala o idioma da luta operária. Para nós, a emergência da classe trabalhadora não pode estar vinculada apenas à imigração.


Quando afinal surgiram as greves no Brasil?
Há quem tenha indicado que a greve dos tipógrafos de 1858 foi a primeira greve do Rio de Janeiro. Será? Sabemos hoje que, um ano antes, os trabalhadores escravizados pertencentes ao Visconde de Mauá pararam o serviço da fábrica da Ponta d’Areia. Esta era um dos maiores estabelecimentos da cidade, com cerca de 10 oficinas e 600 operários, sendo 150 deles escravos. Contudo, apesar de noticiada na imprensa, não existem maiores informações sobre as reivindicações dos escravos.

Era comum haver cativos e livres no mesmo espaço de trabalho. Dos operários registrados nas manufaturas do Rio de Janeiro entre os anos de 1840 a 1850 — em particular nas fábricas de vidro, papel, sabão, couros, chapéus e têxteis —, 45% eram escravos. Além disso, o recenseamento de 1872 apontou que, no Rio de Janeiro, havia mais de 2 mil cativos empregados como trabalhadores em pequenas fábricas.

São várias as evidências de paralisações feitas por escravos. No final da década de 1820, cativos, africanos livres e outros trabalhadores pararam a Fábrica de Pólvora Ipanema, controlada pela monarquia. Reivindicavam melhorias nas condições de trabalho, incluindo diárias e dieta alimentar. No Rio de Janeiro, em abril de 1833, um levante numa caldeiraria trouxe apreensão quando os escravos enfrentaram a força policial, sucedendo tiros e mortes.
ACESSE NA ÍNTEGRA: 

EDIÇÃO DE MANUSCRITOS E PESQUISAS EM ACERVOS HISTÓRICOS BAIANOS


ESCRAVIDÃO NA BAHIA: SALVADOR, RECÔNCAVOS E SERTÕES


O Arquivo Público Municipal de Caetité (APMC) sediará o Encontro "Escravidão na Bahia: Salvador, Recôncavos e Sertões" entre os dias 30 e 31 de agosto de 2016. Nesta primeira fase do evento, contaremos com mesas de historiadores/autores do projeto Trezena da Liberdade, da Biblioteca Virtual Consuelo Pondé/Fundação Pedro Calmon. O Encontro é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Cultura, Sociedade e Linguagem-UNEB/DCH VI, em parceria com o Grupo de Pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade-UFBA/PPGH, realizado pelo projeto "Arquivo Vivo: Quinta Cultural e Sarau Literário", com apoio da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UNEB). As mesas serão realizadas no APMC e no auditório da UNEB/DCH VI, em dois períodos distintos, agosto e novembro deste ano. Também está prevista uma roda de conversa entre professores de universidades (Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo) e moradores de comunidades quilombolas do alto sertão.

Resgate do passado: Iniciativa dos mórmons recupera antigos registros de cartórios de municípios paulistas


Uma parceria entre os mórmons e um órgão do governo paulista que preserva documentos públicos vai disponibilizar para cidadãos e pesquisadores um conjunto de 25 milhões de imagens digitalizadas de registros de nascimento, casamento e morte anteriores a 1940. Um convênio celebrado em abril entre o FamilySearch, organização de pesquisa genealógica ligada à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e o Arquivo Público do Estado de São Paulo prevê a limpeza, digitalização e indexação de 199.664 livros cartorários de dezenas de municípios paulistas. Quarenta e dois técnicos foram contratados para a empreitada, prevista para terminar em abril de 2018. O custo, bancado integralmente pelo FamilySearch, deve chegar a R$ 20 milhões. Depois de digitalizados, os documentos ficarão disponíveis gratuitamente para consulta na internet no site da organização. O arquivo paulista também poderá oferecê-los em seu site, a exemplo do que faz com cerca de 400 mil imagens de vários de seus acervos, como as fichas e prontuários produzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops), a polícia política paulista, entre 1924 e 1983.

O acordo garante outros benefícios para o arquivo e seus usuários. Além da digitalização de registros civis, o Family-Search se comprometeu a limpar e catalogar centenas de livros de registros de imóveis, que ficarão disponíveis para consulta na sede do Arquivo Público – esse material não será, contudo, digitalizado, porque não interessa à organização. “A higienização mecânica é muito importante, pois são livros antigos, anteriores a 1940, que por isso se tornaram de guarda permanente”, diz o historiador Wilson Ricardo Mingorance, diretor do Centro de Arquivo Administrativo do órgão paulista. Os livros estavam guardados sem catalogação. À medida que o trabalho de limpeza e indexação avançar, será possível ter uma ideia de quantos municípios são abrangidos pelo material.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias especializou-se em reunir e disponibilizar documentos para pesquisa genealógica desde o século XIX. “Na doutrina mórmon, as relações familiares são eternas. Acreditamos que, no momento da ressurreição, todos nos reencontraremos com nossos antepassados. Então incentivamos nossos fiéis a saberem quem eles foram”, diz Mario Silva, gerente de relacionamentos do FamilySearch, organização fundada em 1894. Até cerca de 10 anos atrás, o trabalho se concentrava na produção de microfilmes em diversos países, que estão armazenados na cidade norte-americana da Salt Lake City, Utah, onde fica a sede da igreja. A partir dos anos 2000, os microfilmes cederam espaço às imagens digitais, mais fáceis e baratas de registrar. Atualmente, a organização dispõe, somente no Brasil, de 41 câmeras digitais reproduzindo documentos em diversas localidades – 20 delas estão dedicadas à parceria celebrada em São Paulo. Esse trabalho já atingiu cidades de 17 dos 27 estados brasileiros. Parte do acervo do FamilySearch pode ser consultada de forma gratuita. Quando a informação requerida está em microfilmes, paga-se apenas o custo do transporte ou a reprodução de documentos. A consulta aos microfilmes pode ser feita em capelas mórmons.

A expectativa de Ieda Pimenta Bernardes, diretora do Departamento de Gestão do Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo, é de que o acervo dos livros de cartórios seja aproveitado por pesquisadores de várias áreas. “Os registros de imóveis podem ser úteis em estudos sobre a história da urbanização em São Paulo. Os de nascimento, em pesquisas sobre a imigração e até em filologia. Os de óbito, em estudos sobre saúde pública”, exemplifica. A maior parte das consultas, porém, deve partir de cidadãos em busca de dados sobre sua genealogia. “Esses documentos têm efeito probatório e podem comprovar direitos, podendo ser usados, por exemplo, por pessoas interessadas em obter a cidadania estrangeira”, diz Ieda.

Fichas consulares

Não é a primeira vez que o Arquivo do Estado e a organização vinculada aos mórmons fazem um convênio. Em 2014, o FamilySearch digitalizou 4 milhões de imagens, como os cartões de imigração de estrangeiros que chegaram a São Paulo entre 1902 e 1980. Esse material está disponível na internet, assim como parte de um acervo de 2 milhões de fichas consulares de qualificação que o FamilySearch digitalizou no Rio de Janeiro, por meio de um convênio com o Arquivo Nacional.

A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, vem consultando as fichas consulares sob a guarda do Arquivo Nacional com o objetivo de completar as pesquisas para o Arquivo Virtual sobre Holocausto (arqshoah.com). Sua equipe continua em busca de judeus sobreviventes da perseguição nazista desde 1933 para gravar testemunhos sobre suas trajetórias de vida. “As fichas consulares digitalizadas fornecem informações valiosas para estas pesquisas, que extrapolam a memória individual, pois são parte da história de um genocídio único na história da humanidade. Por meio delas, é possível reconstruir as rotas de fuga, a chegada desses imigrantes no Brasil, saber se ingressaram no país como apátridas e que cônsul chancelou sua entrada, além de recuperar a data ou o navio que os trouxeram”, diz a pesquisadora. Ela prevê usos nobres para os documentos de cartórios que começam a ser digitalizados em São Paulo. “Em pesquisas sobre imigrantes, esses documentos vão permitir dizer que bens eles adquiriram no Brasil, com quem casaram, por exemplo, oferecendo dados significativos para os estudos acerca da integração e ascensão na sociedade brasileira”, afirma.


O FamilySearch atesta que seus documentos têm tido vários tipos de serventia. “Há alguns anos, fomos procurados por pesquisadores do Centro de Documentação e Pesquisa dos Domínios Portugueses da Universidade Federal do Paraná. Eles estavam interessados nos livros de nascimento de dioceses católicas do estado que havíamos digitalizado e que eram mais fáceis de consultar do que presencialmente. Perguntamos à arquidiocese se poderíamos repassar os dados e ela autorizou”, diz Mario Silva. Em outras situações, documentos perdidos foram resgatados. “Havíamos microfilmado livros de um cartório de São Luís do Paraitinga, que se perderam na enchente de 2010. Recuperamos os registros em Salt Lake City e os devolvemos para o cartório”, conta.