ROBÉRIO S. SOUZA: TRABALHADORES DOS TRILHOS


Contrariando a historiografia brasileira, que geralmente caracterizava as últimas décadas do século XIX como um período de “transição do trabalho escravo para o trabalho livre e assalariado” e também normalmente compreendia o trabalho escravo como antagônico ao trabalho livre e assalariado no século XIX, este livro ressalta que as fronteiras entre a escravidão e a liberdade muitas vezes podiam ser tênues na sociedade escravista oitocentista, tornando as experiências de trabalhadores escravos, libertos e livres pobres ambíguas no Brasil. Ao considerar as diferenças de condição entre esses trabalhadores, o autor argumenta ainda que as experiências comuns de exploração bem como as ambiguidades e a precariedade da vida em liberdade forjaram, naquele contexto, uma identidade social entre os livres e os escravizados.

Robério S. Souza é doutor em História Social da Cultura pela Unicamp e professor de História do Brasil da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). É autor de Tudo pelo trabalho livre! Trabalhadores e conflitos no pós-abolição, 1892-1909 (Edufba, 2011), além de artigos publicados em coletâneas, revistas e periódicos. Integra o grupo de pesquisa “Escravidão e Invenção da Liberdade”, vinculado ao PPGH/UFBA.

PRAÇAS, RUAS E LADEIRAS DA CIDADE DE SALVADOR POR MELLO MORAIS

REVISTA MUNDOS DO TRABALHO: OS MINEIROS E O TRABALHO EM MINERAÇÃO

CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO REVISTA MUNDOS DO TRABALHO


Prezados(as) colegas,

Gostaríamos de lembrá-los(as) que a Revista Mundos do Trabalho (RMT), publicação semestral do GT Mundos do Trabalho da Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil), está com chamada pública de trabalhos aberta para a edição do segundo semestre de 2016. A submissão de artigos (dossiê e seção livre), resenhas críticas, transcrições comentadas, traduções, entrevistas e comentários sobre acervos e fontes documentais deverá obedecer ao cronograma seguinte:


De 27/06/2016 até 27/07/2016
Edição vol. 08, n. 16 (2016/2): Dossiê Biografia e História do Trabalho – organização: Benito Schmidt (UFRGS) e Aldrin Castellucci (UNEB).

O dossiê abrigará artigos que enfoquem trajetórias de indivíduos ligados, de diferentes formas, ao mundo do trabalho, em variados recortes temporais e espaciais. A preocupação subjacente à proposta diz respeito às possibilidades analíticas/interpretativas que um estudo focado em um indivíduo pode trazer à história do trabalho. Entre outros recortes, os artigos poderão tratar de experiências de trabalhadores (escravos, libertos e livres, ou que experimentaram diversas condições ao longo de sua vida) e de militantes vinculados a variadas correntes de pensamento que buscaram interpelar os trabalhadores (abolicionismo, socialismo, anarquismo, comunismo, trabalhismo, integralismo, catolicismo...), bem como de outros indivíduos ligados ao universo laboral (senhores, patrões, advogados, intelectuais, familiares...). Serão bem vindos ainda artigos de caráter teórico, historiográfico ou que tratem de fontes e arquivos relacionados ao tema central do dossiê “Biografia e história do trabalho”.


Pesquisadores(as) interessados(as) em submeter colaborações deverão fazê-lo pelo site http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho. Os trabalhos recebidos serão apreciados pela Equipe Editorial e por pareceristas ad hoc.

REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA: LEMBRAI-VOS DE 1964


Editorial

Antonio Luigi Negro
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil. rbh@anpuh.br

Neste primeiro exemplar de 2016, assumindo a sua nova periodicidade (agora quadrimestral), a Revista Brasileira de História (RBH) vem a público em conjuntura grave e delicada. Não por acaso, este número 71 intitula-se "Lembrai-vos de 1964". Em primeiro lugar, como se verá, os artigos aqui reunidos justificam-no. E, claro, o afastamento da presidenta Dilma do exercício do poder para o qual foi eleita conecta-se, inevitavelmente, ao Congresso Nacional votando a vacância da Presidência, em 1964 (sob, aliás, os protestos de Tancredo Neves). Em editorial a 31 de março de 1964, o Correio da Manhã afirmou existir apenas uma palavra a dizer ao presidente João Goulart: um sonoro "saia!". Roberto Marinho, assim como outros barões da imprensa, engrossaram o coro. Militares e civis tomaram o poder, disseram que iam debelar a crise econômica e deter a inflação. Prometeram respeitar as eleições presidenciais previstas para 1965 (nunca acontecidas). O restabelecimento da ordem traria de volta os investimentos externos, garantiram. Já o governador da Guanabara Carlos Lacerda foi festejado como virtual futuro presidente eleito, nas ruas de Copacabana. Se alguém duvidava sobre o consórcio entre civis e militares no Golpe de 64, terá visto no Brasil de hoje, assim como nas nuvens da internet, que civis e militares são uma aliança possível e recorrente. Esse debate historiográfico, que a RBH já publicou, está na ordem do dia.

Da intolerância ao elogio do torturador, vimos uma fila de centenas de homens (e mulheres) pronunciar-se em nome da - própria - família como esteio para o voto a favor do impeachment da presidenta Dilma. Oitenta anos depois da primeira edição de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, os congressistas elegeram seus familiares como pressuposto central para tomar decisões políticas. Dada a mentalidade patriarcal que, até hoje, vigora em suas atitudes, ignoram ativamente que há, por definição, descontinuidade e inclusive oposição entre família (privado) e o Estado (público). O Estado, ensina o autor, é a transgressão da ordem doméstica, e é por esse modo que a cidadania se constitui. Gilberto Freyre, talvez, será autor talvez banido pela escola sem partido. Foi no escravo negro, escreveu ele em Sobrados e Mocambos, que mais ostensivamente desabrochou o sentido de solidariedade mais largo que o de família sob a forma de sentimento de raça e, ao mesmo tempo, de classe, na defesa, não de uma raça aparteada, mas dos direitos do trabalhador. Em seu desprezo por tudo que lhes é diverso (gente honesta, trabalhadores, mulheres donas do seu nariz, índios e negros, LGBT), jamais irão entender que o escravo tem importância histórica máxima.

A RBH, por sua vez, ao somar o sistema em rede de submissões de textos à publicação avançada de artigos, sendo também um periódico aberto (ou seja, é livre o ato de ler ou baixar artigos), vem para alimentar o fluxo contínuo da socialização e avaliação do conhecimento científico. Em acréscimo, dado o número de colaborações espontâneas a nós enviadas para avaliação às cegas por pares, a RBH não pautou novos dossiês após decidir-se pela periodicidade quadrimestral. Ao mesmo tempo, tem sido nosso cotidiano a atitude de agilizar o procedimento de receber textos, distribuir a pares, comunicar resultados, revisar, traduzir para o inglês, diagramar e converter artigos para a plataforma XML. E é só aí que podem ser remetidos à Scielo para publicação.

Montado a partir da publicação avançada de artigos, este número se compôs gradativamente. Ao ser fechado, formou-se com oito artigos e cinco resenhas. Seu primeiro artigo, de Matheus Figuinha, sobre o monasticismo de Martinho de Tours e as aristocracias na Gália, é um refinado exercício que examina a confiabilidade de fontes para a interpretação do seu objeto. Sem encontrar indícios claros para corroborá-la, o autor recomenda cautela no seu manuseio; lição preciosa da pesquisa histórica.

De autoria de Fernanda Pandolfi, o segundo artigo, sobre viagem de Pedro I à província de Minas Gerais em 1831, focaliza as interações entre as elites políticas locais e o poder central. O trabalho sugere que o aumento da impopularidade de D. Pedro I, após tal viagem, e sua subsequente abdicação, resultaram muito mais de circunstâncias advindas do aprofundamento da implementação da monarquia constitucional do que propriamente de seu suposto caráter absolutista e antinacional.

"'É o doutor que vem aí!': guardas sanitários, relações de trabalho e formação de identidade", de José Roberto F. Reis, se debruça sobre os trabalhadores da saúde atuantes nas décadas de 1930 e 1940 com o propósito de problematizar e investigar aspectos relevantes relacionados à sua identidade e à sua experiência profissional.

A rigor, os artigos de Clifford Welch, Carlos Esteve, Marcus Dezemone e Felipe Loureiro poderiam constituir um dossiê sobre o trabalhismo ou o governo Goulart. Fundamentam o título deste número da RBH e constituem, somados ou individualmente, contribuição inédita e original sobre os trabalhadores e a questão agrária, abordando a relação de Getúlio Vargas com a vida rural, sobre posseiros em Goiás, sobre a polêmica lei de remessa de lucros e, por fim, sobre a questão agrária e a derrubada de Jango. São artigos de grande atualidade: direitos trabalhistas no campo, conflitos de terra, empresariado nacional e estrangeiro e complô político.

"Heróis e cultura histórica entre estudantes no Chile" é outro artigo de visível atualidade para qualquer país em cujas escolas e universidades estudam jovens formados em tempos democráticos e distantes do culto a sábios homens brancos. Fabián Calderón, Luis Cerri e Ademir Rosso analisam como estudantes das escolas básicas percebem as imagens dos próceres que personificam a identidade nacional. Se O'Higgins aparece no núcleo central, modificações no significado de herói apontam para Violeta Parra.

Concluindo, a RBH deseja agradecer a todo o pessoal envolvido com seu trabalho, profissional ou voluntário, sua energia e boa vontade. Pablo Serrano e Deivison Amaral concorreram positivamente como assistentes editoriais; com entusiasmo e afinco diários. Armando Olivetti, Eoin O'Neill, Flavio Peralta e Roberta Accurso prestaram serviços profissionais de grande qualidade.


Ficam aqui gravados os agradecimentos ao CNPq e ao Programa de Pós-Graduação em História, Cultura e Práticas Sociais da Universidade do Estado da Bahia (PPGHCPS-UNEB).
ACESSE A FONTE: 

ACESSE A REVISTA: 

O REI, O PAI E A MORTE - A RELIGIÃO VODUM NA ANTIGA COSTA DOS ESCRAVOS NA ÁFRICA OCIDENTAL. Luis Nicolau Parés


O REI, O PAI E A MORTE - A religião vodum na antiga Costa dos Escravos na África Ocidental. Luis Nicolau Parés. 

Este livro examina as práticas religiosas na antiga Costa dos Escravos, na África Ocidental, correspondente à extensão onde hoje está a República do Benim. Nesse pequeno trecho de litoral, embarcou-se parte significativa dos africanos que chegaram escravizados ao Brasil, em particular à Bahia. A obra privilegia os dois séculos que vão de 1650 a 1850, quando o tráfico transatlântico de escravos foi mais intenso.
Os principais reinos que dominaram a região nessa época foram Aladá, depois Uidá, e a partir da década de 1720, Daomé. Em razão das várias línguas faladas nessas sociedades, os deuses eram chamados de diversas formas, mas o termo mais comum era, e ainda é, vodum. Assim, o livro analisa o dinamismo e a historicidade da prática associada aos voduns, destacando sua imbricação com a vida política e econômica desses reinos. Em função da ligação histórica do Brasil com o lugar, a última parte da obra aborda questões relativas às repercussões que esses costumes tiveram na Bahia e no Maranhão.
As formas de religiosidade desenvolvidas no período do tráfico de escravos constituíram um dos principais motores para a recriação dos rituais afro-atlânticos. No entanto, além de um simples movimento unidirecional da África para o Brasil, as forças da economia do tráfico afetaram de forma dramática as práticas religiosas em ambos os lados do Atlântico. O sistema escravagista, marcado por assimetrias de poder extremas, violência, racialização, instabilidade social e migrações generalizadas, intensificou uma forma ritualística baseada na troca sacrificial, na hierarquização, na possessão e no imaginário da feitiçaria.
Inextricavelmente ligados à prática política e econômica dessas sociedades, os rituais religiosos desses povos são uma tradição de pluralismo e tolerância que precisa ser

valorizada, sobretudo em tempos sombrios como os atuais, tomados por intransigência e fundamentalismo.

LANÇAMENTO: '2 DE JULHO, INDEPENDÊNCIA DA BAHIA E DO BRASIL' NO IGHB


Nesta segunda-feira (20 de junho), às 8h30, com a presença do governador da Bahia, Rui Costa, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e a Casa de Cultura Carolina Taboada promovem o lançamento do livro '2 DE JULHO, INDEPENDÊNCIA DA BAHIA E DO BRASIL', de autoria dos escritores Álvaro Pinto Dantas de Carvalho Júnior e Ubaldo Marques Porto Filho.

O livro será distribuído gratuitamente no dia no dia do lançamento. Mais informações no 

Fundado em 13 de maio de 1894, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia é a entidade cultural mais antiga do Estado, com 122 anos de funcionamento ininterrupto, e uma das 15 instituições apoiadas pelo programa Ações Continuadas a Instituições Culturais, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) através do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA).

SERVIÇO
20 de junho de 2016, às 8h30
Lançamento do livro
'2 DE JULHO, INDEPENDÊNCIA DA BAHIA E DO BRASIL'
IGHB – Avenida Joana Angélica, 43 – Piedade
Assessoria: 71 3329 4463/99745858 – Cleide Nunes

Distribuição gratuita da publicação

DE ESCRAVO A RICO LIBERTO: A TRAJETÓRIA DO AFRICANO MANOEL JOAQUIM RICARDO NA BAHIA OITOCENTISTA


Resumo

O artigo discute a biografia de Manoel Joaquim Ricardo, africano haussá que desembarcou na Bahia no início do século XIX como cativo e morreu em 1865 como forro e rico. Sua vida no Brasil permite perceber as possibilidades e limitações à ascensão social dos africanos sob a escravidão e em liberdade. Entre os mecanismos de mobilidade, como era de praxe na época, Ricardo investiu em escravos desde a época em que, ele próprio, ainda era escravo, um fenômeno raramente abordado pela historiografia. Mas também adquiriu e alugou imóveis, negociou (fez mesmo o tráfico transatlântico e interno de escravos), emprestou a juros, entre outras atividades. Outras dimensões de sua trajetória aqui abordadas são, a vida familiar e religiosa, incluindo sua rede de compadrio e relações com gente do Candomblé. O artigo propõe o conceito de ladinização para entender a experiência de africanos como Ricardo, mesmo que não tão bem sucedidos como ele no mundo material.
ACESSE A FONTE: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/108145/113553